A compreensão sobre o espaço sagrado envolve o entendimento de três realidades: o mundo, o templo e o coração humano, como distintos espaços de encontro com Deus, nos quais Ele se deixa encontrar. Assim, lembra a alma da criatura que ama e busca o seu amado: “Onde está o meu amado?” (Ct 2,10-13).
Wilma Steagall de Tommaso, formada em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em sua palestra no “Pascom em Ação 2023” abordou a “A origem do espaço litúrgico que comunica e nos leva à transfiguração”.
O SENTIDO DO ESPAÇO LITÚRGICO
Mais do que simplesmente um lugar físico. É o local onde a Divindade escolhe habitar
Wilma explicou que, na Sagrada Escritura, encontra-se determinada preocupação ao ‘espaço sagrado’ (cf. Êx 25-27,30). A especialista detalhou que as tendas representavam um lugar de passagem, um rito com as cores e elementos que as compunham. Já o templo foi um elemento religioso e artístico, ao mesmo tempo econômico e político, na Antiguidade. E na tradição, o Tabernáculo, é mais do que simplesmente um lugar físico. É o local onde a divindade escolhe habitar, uma estrutura portátil que os filhos de Israel carregavam em sua jornada pelo deserto, como símbolo tangível da busca incessante pelo sagrado.
Nesse contexto é que se entende a busca de Deus em um espaço fixo e com um tempo indeterminado. Uma contínua busca. De acordo com Wilma, para a manifestação do sagrado, é necessário um espaço para que possa acontecer a prática religiosa. É a concepção do espaço litúrgico. Isso torna possível pensar que existe uma síntese sobre a liturgia que quer comunicar: o altar, como epicentro transcendente, representa o lugar onde o divino e o humano se elevam em direção a Deus.
No Novo Testamento, Nosso Senhor mandou preparar uma sala ampla e mobiliada (cf. Lc 22,12). Ao celebrar a Ceia Pascal, Jesus fez questão de estar com os seus amigos, os discípulos! É nesse espaço que a liturgia, como a descrição ritualística de um encontro sacramental, se manifesta em sua plenitude e transmite o evento que é a Paixão. Ele se revela como sacerdote, altar e cordeiro, desvelando o valor intrínseco de Sua própria presença e a sensibilidade a esse espaço.
UM AMBIENTE A SER ZELADO
Cujo resumo na imagem é a Cruz com o seu Crucificado
Padre Helmo César Faccioli, Auxiliar do Cura da Catedral da Sé, falou aos participantes do evento sobre a Pastoral da Comunicação e a Liturgia.
O Sacerdote ressaltou que o espaço sagrado deve estar bem preparado para a celebração do sacrifício do Corpo e Sangue do Senhor. Também lembrou que no espaço litúrgico Cristo é o centro espiritual, com o seu corpo ressuscitado. Com todo o seu significado e plenitude está sempre presente! “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
O espaço litúrgico como compreendido hoje, revestido de beleza e sacralidade, demonstra que um candelabro é mais do que uma mera iluminação física. Ele simboliza Cristo como a “luz do mundo” (cf. Jo 8,12), cujo resumo na imagem é a Cruz com o seu crucificado. A cruz é o eixo que move a sacralidade, e que abre e fecha todo o mistério.
Assim como não é a pedra que pressupõe o sagrado, mas a sacralidade de Deus na Pedra Angular que é Cristo, no cumprimento da vontade do Pai. E a menor das descrições está para presbitérios, capelas, igrejas, mosteiros e catedrais, qualquer edifício como templo de Deus. Assim como nosso corpo é oco se não for habitado pelo Espírito Divino, enviado por Ele. E essa permanência de Deus, importante obra na santidade pessoal, só é possível pelo sacramento da Comunhão. Esse “tornar-se presente” que contemplamos na adoração Eucarística, fonte e princípio da piedade cristã, amor que pertence somente aos homens de fé!
Nessa comunicação, pode-se con-siderar que nada é aleatório, e todos os objetos litúrgicos têm a ver com a eternidade de Deus.
Um ponto comum tanto na palestra do Padre Helmo quanto na de Wilma é que a comunicação no espaço litúrgico se manifesta em um culto externo e interno, sendo este último o principal. E como tudo que procede da alma se expressa pelos sentidos e põe em evidência a unidade do corpo, o espaço litúrgico é sagrado devido à presença de Deus, e o coração humano também se torna um local de encontro entre a alma e Deus.