A Igreja celebra os Santos Miguel, Gabriel e Rafael, arcanjos

Miguel (Quem é como Deus?) é o arcanjo que se insurgiu contra satanás e seus seguidores (Jd 9; Ap 12,7; cf. Zc 13, 1-2) defensor dos amigos de Deus (Dn 10,12.21), protetor de seu povo (Dn 12,1).

Gabriel (Força de Deus) é um dos espíritos que estão diante de Deus (Lc 1,19), revela a Daniel os segredos do plano de Deus (Dn 8, 16; 9, 21-22), anuncia a Zacarias o nascimento de João Batista (Lc 1,11-20) e a Maria o de Jesus (Lc 1,26-38).

Rafael (Deus curou), um dos sete anjos que estão diante do trono de Deus (Tb 12,15; cf. Ap 8,2), acompanha e protege Tobias nas peripécias de sua viagem e cura-lhe o pai cego. A Igreja peregrina sobre a terra, especialmente na Liturgia Eucarística, associa-se às multidões dos anjos que na Jerusalém celeste cantam a glória de Deus (cf. Ap 5,11-14; SC 8).

Em 29 de setembro, o Martirológico Jeronimiano (séc. VI) recorda a dedicação da basílica de São Miguel (séc. V) na Via Salária (Roma).

SÃO MIGUEL ARCANJO

Este Santo príncipe das milícias celestes, em contínua batalha contra as forças do mal, é celebrado pela Igreja em 29 de setembro. Ao longo da história e em todos os lugares do mundo, há edifícios e lugares sagrados, entre os mais diversos, dedicados ao nome deste defensor da Igreja e da fé cristã.  

«À medida que nos aproximávamos daquele grupo, comecei a ouvir o coro: “Maria, intercedei por nós”, como também “Miguel”, “Pedro” e “Todos os Santos”».  (Purgatório, 49-51)

Estes são os versículos do Purgatório de Dante, no Canto XIII. O Poeta vagueia comovido entre as almas dos invejosos, enquanto a área do círculo, onde se desenvolve a cena, é invadida por vozes misteriosas, que recordam exemplos de caridade. Das sombras atormentadas também se elevam ladainhas. Imploram a intercessão da Virgem e, logo depois dela – e antes de Pedro e de Todos os Santos – invocam o nome de “Miguel”. Quando cita o Arcanjo no capítulo 51, o autor da Comédia, no Canto precedente, acabava de ver o outro anjo, definido «a mais nobre das criaturas», caindo «do céu e despencando como um raio».

A espada contra o mal

Miguel e Lúcifer. Na Divina Comédia, encontra espaço também o confronto mortal entre aquele que na Bíblia é descrito como comandante “supremo do exército celeste” e o chefe dos anjos, que decidiram fazer a menos de Deus e foram precipitados no inferno.
Segundo a tradição, o Arcanjo Miguel é o Príncipe que luta contra o mal, de cujos assaltos defende perenemente a fé e a Igreja. Dante, em 1200, mostra também que é reconhecido o poder da intercessão, atribuído a esta figura, muito venerada tanto no Oriente como no Ocidente.

“Quem é como Deus”?

No mundo, são incontáveis as catedrais, os santuários, os mosteiros, as capelas – mas também montes, grutas, colinas – dedicados ao Arcanjo Miguel, cujo nome, citado cinco vezes na “Sagrada Escritura”, deriva da expressão “Mi-ka-El”, ou seja, “quem é como Deus?”. Pela sua popularidade secular, o Anjo guerreiro que, com a sua espada desembainhada, vigia, do Castelo Santo Anjo, a Cúpula de São Pedro, é também centro de numerosas histórias e anedotas. Uma delas remonta ao dia 13 de outubro de 1884.

A súplica de Leão XIII

No dia 13 de outubro de 1884, logo após a celebração da Missa na Capela Vaticana, Leão XIII permanece inerte por uns dez minutos. Seu rosto, dizem as testemunhas, revela, ao mesmo tempo, terror e maravilha. A seguir, o Papa Pecci vai depressa ao seu escritório, senta-se à mesa e escreve de impulso uma oração ao Arcanjo Miguel. Meia hora depois, chama o Secretário e lhe entrega a folha de papel, pedindo-lhe para ser imprensa e enviada a todos os Bispos do mundo, para que a súplica fosse recitada no final da Missa.

Leão XIII narra ter tido, naqueles poucos minutos, uma estarrecedora visão de “legiões de demônios” que atacavam a Igreja, quase a ponto de destruí-la, e de ter assistido a intervenção defensiva e decisiva do Arcanjo. “Depois – acrescenta – vi São Miguel Arcanjo intervir, não naquele instante, mas muito mais tarde, quando as pessoas tivessem intensificado suas ferventes orações ao Arcanjo”. Com o tempo, a súplica caiu em desuso, mas foi recordada por São João Paulo II no Regina Coeli de 24 de abril de 1994: “Convido todos a não se esquecer dela – disse Papa Wojtyla – mas também a rezá-la para obter ajuda na luta contra as forças das trevas e contra o espírito deste mundo”.

SÃO GABRIEL ARCANJO

O nome Gabriel significa “força de Deus”. Ele é um dos três Arcanjos que a Igreja celebra em 29 de setembro, junto com Miguel e Rafael. Este mensageiro de Deus teve a tarefa de anunciar a sua Vontade. Em 1° de abril de 1951, Pio XII o proclamou Padroeiro das telecomunicações.  

“Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo… Eis que conceberás um filho e lhe darás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo” (cf. Lc 1,26-38)!

Este anúncio do Arcanjo Gabriel a Maria é o mais conhecido na história. A tradição da Igreja identifica, no anúncio do Anjo à Virgem e no seu dócil acolhimento da vontade divina, o momento em que Deus assumiu a natureza humana: “O Verbo se fez carne” (cf. Jo 1,14). Trata-se da Anunciação, que a Igreja celebra no dia 25 de março do calendário litúrgico.

O Anjo Gabriel revelou ainda a Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Portanto, aquele que nascerá de ti será Santo e chamado Filho de Deus”.

No Evangelho de Lucas, lemos “foi enviado”; logo, o Arcanjo Gabriel é o mensageiro de Deus, encarregado de explicar à “Virgem, prometida a um homem da casa de Davi, chamado José”, o modo com o qual Deus deveria se encarnar.

Padroeiro das comunicações

Mencionado várias vezes no Antigo e no Novo Testamento, Gabriel, mensageiro por excelência, é o Padroeiro das Comunicações. Pio XII, com um Breve apostólico, datado em 1° de Abril de 1951, «achou por bem conceder o benefício de uma especial proteção celeste a estas maravilhosas ciências e àqueles que as utilizam ou as exploraram; telegrafar aos ausentes, com uma maravilhosa rapidez; telefonar a distâncias extraordinárias; enviar mensagens por ondas aéreas e, enfim, contemplar a visão de coisas e acontecimentos distantes de onde vivemos. Estabelecemos e declaramos o Arcanjo São Gabriel, Padroeiro celeste desta profissão, dos seus especialistas e funcionários» escreveu o Papa Pacelli. Desde então, o Arcanjo Gabriel foi declarado Padroeiro também da Rádio Vaticano.

Além de Gabriel, as Escrituras mencionam também os Arcanjos Miguel e Rafael, investidos de cargos diferentes. Celebrados, antes, em datas diferentes, com as reformas do Concílio Vaticano II agora os Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael são recordados em um só dia: a sua memória litúrgica ocorre em 29 de setembro.

Os anúncios do Arcanjo Gabriel

Os episódios bíblicos, dos quais Gabriel é protagonista, são narrados no Livro do profeta Daniel – o Arcanjo aparece a Daniel para explicar-lhe o significado de uma visão misteriosa (Dn 8,15-18), enquanto, em outra (Dn 9,20- 27), preanuncia certos eventos – e ainda no Evangelho de Lucas, quando ele comunica a Zacarias sobre o nascimento do seu filho João (Lc 1, 8-20): “Um anjo do Senhor apareceu-lhe, em pé à direita do altar do incenso… Sua esposa Isabel lhe dará um filho que se chamará João”. Zacarias, incrédulo, pede explicações, achando que não era possível o feliz acontecimento, por causa da sua velhice e da idade avançada da sua esposa. A resposta do Arcanjo ofereceu-lhe maiores detalhes sobre a sua identidade: “Eu Gabriel, que está na presença de Deus, fui enviado para falar-lhe e trazer-lhe este anúncio feliz”.

Assim, Gabriel revela, de modo bem mais claro, ser uma criatura celeste, estar na presença de Deus e ser seu mensageiro.

SÃO RAFAEL ARCANJO

O culto a São Rafael começou a partir do século XI. Sua festa litúrgica é celebrada em 29 de setembro, junto com os Santos arcanjos Miguel e Gabriel. Seu nome vem do hebraico “Rafa-El”, que significa “remédio de El”, em contraposição do nome do demônio Asmodeus, “aquele que faz perecer”.  

Na Bíblia, há todo um livro que apresenta o arcanjo Rafael como protagonista. Ele era companheiro de Tobias, o jovem filho de Tobit e Ana, encarregado, por seu pai, de realizar uma missão delicada: devia empreender uma dura viagem, não isenta de perigos.

O grande coração de Tobit

A história do arcanjo Rafael é narrada no Livro de Tobias, na época da revolta dos Macabeus. Tobit, pai do menino, era um homem generoso, que se esforçou, durante o período da deportação assíria, para aliviar o sofrimento dos seus compatriotas; dividiu seus bens com os mais pobres, era pródigo nas esmolas e pagava pontualmente o dízimo, com o que ganhava das suas terras e do seu gado; sua piedade o levava a arcar até com o enterro de cadáveres abandonados. As vicissitudes da vida o fizeram, de repente, perder todos os bens e, depois de um gesto de caridade, até a visão. Naquelas alturas, Tobit pediu ajuda ao seu filho.

O viajante

O pai pediu ao jovem Tobias para ir a um lugar distante, para cobrar uma grande quantidade de dinheiro, que havia emprestado a um amigo, muito tempo atrás. O rapaz estava pronto para partir, mas, a pedido de Tobit, foi à busca de um guia para acompanhá-lo. Tobias encontrou, antes, um viajante, que conhecia bem aquela região, e partiu com ele. Durante uma parada no rio Tigre, um grande peixe atacou o jovem, que se assustou, mas, depois, encorajado pelo viajante – que era o arcanjo Rafael disfarçado – pegou o peixe, do qual, sempre por orientação do viajante, arrancou o coração, o fígado e a bílis do peixe e os colocou no alforje.

Sara

Quando estavam quase chegando ao destino final, o Arcanjo insistiu para que Tobias se hospedasse na família de alguns parentes, onde conheceu sua prima Sara, que a lei de Moisés lhe reservou como esposa. A jovem já estava comprometida com sete homens, todos assassinados no tálamo nupcial pelo demônio Asmodeus, por ciúme da jovem. Sara queria se matar de vergonha, para não causar mais tristeza à família, mas concordou em se casar com Tobias. A nova tentativa de Asmodeus foi derrotada pelo coração e o fígado do peixe, que o viajante sugeriu colocar em um braseiro, para que a fumaça afugentasse o demônio.

O segredo revelado

Depois do casamento, Tobias voltou para a casa paterna, sabendo como devia fazer para curar a cegueira do seu pai: pegou a bílis do peixe, que trazia em seu alforje, e a espalhou nos olhos de Tobit, devolvendo-lhe imediatamente a visão. Tobias quis recompensar o viajante por toda a sua ajuda. Mas, chamando de lado os dois, o viajante revelou a sua identidade. Explicou-lhes que, devido às orações e caridade do pai e do filho, ele havia sido enviado por Deus para curá-los e guiá-los. E falando de si mesmo, lhes disse: “Eu sou Rafael, um dos sete Anjos, sempre prontos para entrar na presença da majestade do Senhor”.

Esta história sagrada deu origem a um costume: na Idade Média, quando um adolescente ou um jovem saía de casa pela primeira vez, levava consigo uma tabuinha, que representava Tobias, acompanhado pelo Arcanjo.

Fonte: Vatican News e Missal Romano

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