Gaspar nasceu em Roma, em 1786, e, desde criança, sentiu o chamado do Senhor. Como sacerdote, evangelizou os pobres, recusou-se obedecer a Napoleão, converteu os maçons e bandidos que infestavam o Estado Pontifício. Em 1815, fundou os dois ramos dos Missionários do Preciosíssimo Sangue.
Em 6 de janeiro de 1786, a família romana Búfalo, aristocratas empobrecidos, rejubilou-se com o nascimento de um filho, que foi batizado – na solenidade da Epifania – com o nome de Gaspar, um dos três reis magos: Gaspar, Baltasar, Melquior. Desde pequeno, dedicou-se à oração e à penitência e frequentou o Colégio Romano, que, na época, era confiado ao clero secular, após a supressão da Companhia de Jesus. No entanto, visto que o seu pai era cozinheiro no Palácio Altieri, em frente à Igreja de Jesus, Gaspar aprendeu a conhecer e a venerar São Francisco de Sales, ao qual atribuiu uma cura milagrosa na sua juventude.
Entre os “carroceiros”
Em 1798, Gaspar recebeu a batina e começou a dar assistência espiritual e material aos necessitados de Roma. Distinguiu-se, de modo particular, pela sua dedicação ao Catecismo, que ocorria no Oratório da igreja de Santa Maria do Pranto: ali, começou a ensinar a Doutrina da Igreja aos “carroceiros”, que vinham da zona rural para levar feno ao chamado Campo Vaccino, como era chamado, na época, o Fórum Romano. Ele se dedicava também à preparação de uns jovens, escolhidos para ensinar o catecismo e cuidar dos pobres, fazendo renascer assim a Obra de Santa Gala. Em 1808, Gaspar foi, finalmente, ordenado sacerdote. Desta forma, intensificou o apostolado entre as classes populares, transformando a igrejinha de Santa Maria “in Pincis”, junto à Rupe Tarpea, em um próspero centro de espiritualidade.
“Não devo, não posso, não quero”
Na época de Gaspar, Roma e o Estado Pontifício foram ocupados pelas tropas napoleônicas. Na noite entre 5 e 6 de julho de 1809, a situação se precipitou e o Papa Pio VII foi preso e deportado. Além disso, Napoleão obrigou os Bispos e párocos da cidade a assinar um ato de juramento de fidelidade ao novo regime. Em 13 de junho de 1810, o juramento foi imposto também ao Padre Gaspar, que, porém, se recusou, pronunciando as famosas palavras: “Não devo, não posso, não quero”. Por isso, foi preso e mandado para o exílio. Ele descontou sua pena de quatro anos nas prisões de Piacenza, Bolonha, Ímola e, enfim, em Lugo, perto de Ravena. Retornou a Roma somente em 1814.
Um “terremoto espiritual”
Em 1815, Gaspar fundou uma nova Congregação chamada Missionários do Preciosíssimo Sangue. Ele se sentia mais próximo a esta devoção, intimamente ligada ao Sagrado Coração de Jesus, da qual se tornou apóstolo fervoroso. Somente o Sangue, derramado por Cristo para a redenção dos homens, era instrumento de conversão. Percebendo seu zelo, o Papa Pio VII confiou à sua Congregação a missão de uma nova evangelização e restabelecer a fé nos territórios do Estado Pontifício. Na prática, ele lhe pedia para ir aonde ninguém queria e enfrentar pessoas, que ninguém queria encontrar.
“Martelo dos sectários”
Gaspar e seus missionários tiveram que enfrentar duas chagas principais que afligiam Roma: a maçonaria e o banditismo. Suas habilidades de pregador alcançaram resultados extraordinários contra as sociedades secretas, consideradas forjas de um perigoso secularismo ateu: conseguiu levar inteiras lojas maçônicas para o bom caminho, desmascarando este problema oculto, a ponto de receber o apelido de “martelo dos sectários”. Da mesma forma, agiu contra os bandidos: para cumprir sua missão, no caminho entre Roma e Nápoles, armado apenas com o crucifixo e a misericórdia evangélica, Gaspar falava e explicava a todos sobre o sangue derramado por Jesus, como sacrifício pela salvação de toda a humanidade. Assim, lentamente, conseguiu alcançar o que ninguém havia conseguido: tornar a cidade mais segura.
Morte e canonização do “Anjo da paz”
Em 1834, graças à colaboração de Maria de Mattias, – que havia conhecido aos 17 anos e à qual revelara a sua vocação, – Gaspar fundou o ramo feminino da Congregação: as Irmãs Adoradoras do Preciosíssimo Sangue de Cristo, que hoje atuam no mundo inteiro, sobretudo na Índia e Tanzânia. Três anos depois, Gaspar de Búfalo faleceu e foi canonizado por Pio XII, em 1954. Falando sobre este Santo aos participantes no Capítulo geral da Congregação, em 14 de setembro de 2001, São João Paulo II disse: “Confiante no fato de que o pedido do Papa era uma ordem de Cristo, seu Fundador não hesitou em obedecer, embora o resultado tenha sido: foi acusado de ser muito inovador. Lançando suas redes nas águas profundas e perigosas, fez uma pesca surpreendente”.
Oração de São Gaspar ao Sangue de Jesus:
Precioso sangue do meu Senhor,
que eu possa vos abençoar sempre.
Amor do meu Senhor, que se tornou chaga,
quanto estamos longe de nos conformar com a vossa vida.
Sangue de Cristo, bálsamo das nossas almas e fonte de misericórdia, fazei que a minha língua,
avermelhada de sangue na celebração diária da Missa, possa abençoar-vos agora e sempre.
Senhor, quem não vos amará?
Quem não se consumirá de carinho por vós?
As vossas chagas, vosso sangue, os espinhos, a cruz e, sobretudo, o sangue divino, derramado até à última gota, clamam com voz eloquente ao meu pobre coração!
Visto que agonizastes e morrestes por mim, para me salvar, eu também darei, se necessário, a minha vida, para conseguir a beatitude do céu.
Jesus, vós vos fostes a nossa redenção.
Do vosso peito aberto, arca de salvação, fornalha de caridade, saiu sangue e água, sinais dos sacramentos e da ternura do vosso Amor, Jesus Cristo, que nos amou e nos lavou com o seu Sangue!