
Luciney Martins/O SÃO PAULO
Entre os dias 22 e 24, o Serviço à Pastoral da Comunicação (Sepac Paulinas), em parceria com a Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo e a Signis Brasil – Associação Católica de Comunicação, realizou o 6º Congresso de Comunicação, com o tema “Comunicação. Esperança. Verdade”, no contexto do 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, a ser celebrado em 1º de junho.
COMBATE À DESINFORMAÇÃO
Nos primeiros dois dias, as conferências foram on-line. Na quinta-feira, 22, a pesquisadora e jornalista Magali do Nascimento Cunha destacou os desafios da cultura digital para os cristãos, alertando que grupos religiosos são especialmente vulneráveis à desinformação, muitas vezes por desejarem compartilhar conteúdos em que acreditam, o que os torna alvo de produtores de mentiras.

Ela ressaltou a falta de regulação das plataformas digitais e o lucro obtido com a propagação de conteúdos falsos e com discursos de ódio. Para enfrentar esse cenário, defendeu a educação midiática digital como forma de capacitar as pessoas a identificar mentiras e entender o funcionamento das mídias. Propôs uma Pastoral da Comunicação baseada na cultura do diálogo, na ética cristã e na humanização dos espaços digitais.
Evangelizar nas redes e evangelizar as próprias redes foram dois pontos centrais da interação com os congressistas, promovendo a verdade e superando a violência. Para lidar com mensagens de ódio, a pesquisadora sugeriu o silêncio e o distanciamento como atitudes inspiradas no próprio Evangelho.

MERCADO DIGITAL
No segundo dia, 23, Marcus Tulius, comunicador da Cáritas América Latina e Caribe, alertou para os riscos da comunicação moldada pela busca de lucro, engajamento a qualquer custo e superficialidade nas redes. Destacou como a lógica do mercado impõe uma padronização de conteúdos, alimentada pela economia da atenção, mercantilização de dados e priorização do consumo rápido. Essas dinâmicas, segundo ele, afetam a criatividade, o senso crítico e até a espiritualidade da comunicação cristã, e a própria Igreja corre o risco de se enquadrar nesse modelo, repetindo fórmulas e perdendo autenticidade.
Como resposta, defendeu a coragem de narrar a verdade a partir da realidade concreta das comunidades e a importância de uma educação midiática integral, envolvendo não apenas os agentes da Pascom, mas toda a vida pastoral, como forma de resistência ética e formativa. Comunicar com verdade é, para ele, um gesto profético que exige esperança enraizada, sensibilidade humana e fidelidade ao Evangelho. Em vez de se render às trends e modas digitais, propôs uma comunicação que promova o encontro, a misericórdia e a transformação social.

INTERPESSOALIDADE
O último dia do congresso, no sábado, 24, ocorreu de forma presencial e com transmissão on-line, no auditório Paulinas, na Vila Mariana, com a conferência de Marcello Zanluchi, jornalista e doutor em comunicação e semiótica, com vasta experiência na comunicação eclesial, inclusive nas mídias vaticanas. Ele destacou que comunicar, no contexto cristão, é mais do que transmitir informações, é testemunhar a presença de Deus na vida concreta das pessoas, com verdade, proximidade e sensibilidade pastoral.
Para ele, a comunicação verdadeiramente cristã nasce da escuta profunda, sem julgamentos nem interrupções. É essencial que os comunicadores façam perguntas, escutem as histórias das pessoas da comunidade e daquelas que estão nas periferias, inclusive as que não frequentam a Igreja. Essa escuta é parte fundamental da espiritualidade sinodal, baseada na escuta, na pergunta e na narração.

ESCUTA E VERDADE
Zanluchi alertou para os riscos da comunicação marcada pela pressa, vaidade e superficialidade, tão comuns nas redes sociais. Denunciou o perigo de cair na lógica dos likes e da busca de visibilidade, que coloca o ego à frente da missão. Defendeu que a comunicação pastoral evite glamorizações, narrativas fabricadas e disputas de protagonismo, mantendo-se fiel à verdade da vida das comunidades.
Como critério básico, propôs criar conteúdos fiéis à realidade, sem filtros espetaculosos, valorizando experiências concretas de fé — como as vividas em romarias, missas populares e nas histórias simples do povo. Essas experiências, ressaltou, são sinais da ação de Deus e precisam ser contadas com sensibilidade, respeitando o “perfume do Evangelho” presente nelas.

PONTES E ÉTICA
Outro ponto marcante foi o chamado à construção de pontes: comunicar é sair de si mesmo, ir ao encontro do outro, aproximar corações e promover unidade. A missão do comunicador cristão é criar laços e superar distâncias, promovendo a paz, evitando a polarização e combatendo a desinformação.
Ele também alertou para os perigos éticos da comunicação digital, propondo o que chamou de “jejum do dedo” — ou seja, evitar compartilhar conteúdos sem discernimento, pois isso pode causar sérios danos à reputação e à dignidade de pessoas. Comunicadores devem sempre se perguntar: “O que as pessoas vão sentir ao ler, ouvir ou ver isso que estou produzindo?”

ESPERANÇA PROFÉTICA
Por fim, Zanluchi defendeu uma comunicação esperançosa e profética, que não se rende à lógica agressiva do mundo digital, mas é impulsionada pelo amor, pela alteridade e pelo compromisso com o Evangelho. Ser verdadeiro, concluiu, é colocar-se com coragem e humildade a serviço da missão de Cristo, comunicando não para si, mas para que a mensagem do Senhor permaneça e transforme vidas.
Após a conferência, houve um momento de partilha das ações de esperança da Pascom nas regiões episcopais da Arquidiocese. O evento foi concluído com a bênção de Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé.