‘A alternativa é uma economia inspirada nos princípios do Evangelho’

Afirmou Dom Odilo em live com jovens da PUC-SP participantes do evento ‘Economia de Francisco’

Divulgação

Mais de 2 mil jovens, de 115 países, participam até sábado, 21, do encontro “Economia de Francisco”, atendendo ao convite do Papa para pensar ações de reconfiguração da economia global.

A atividade seria realizada presencialmente em Assis, na Itália, mas em razão da atual pandemia ocorre de modo on-line e tem se amplificado em uma teia de reflexões sobre a temática não só entre os inscritos no evento.

Um dos exemplos é que diariamente, por iniciativa da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC-SP e da reitoria da pontifícia universidade, com o apoio da Arquidiocese de São Paulo, têm sido realizadas lives com estudantes e ex-estudantes que participam do evento.

A primeira, na tarde da quinta-feira, 19, contou com três destes participantes e, também, com o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Grã-Chanceler da PUC-SP; a reitora Maria Amalia Pie Abib Andery; e o Prof. Dr. Padre Boris Nef Ulloa, Diretor da Faculdade de Teologia, que mediou o encontro.

“Nós, como Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, não poderíamos ficar de fora dessa iniciativa a nível mundial, de buscar novos caminhos para uma economia que seja mais solidária, que seja em função da vida, que não exclua, que não desumanize e que cuide da criação, como o próprio Papa Francisco exorta na convocação deste evento”, destacou Padre Boris na abertura da live.

Também a reitora da PUC-SP enalteceu a participação dos alunos e ex-alunos no evento e lembrou que os jovens são chamados trazer novas perspectivas para o mundo, baseadas na colaboração, solidariedade, sustentabilidade das riquezas naturais, culturais e sociais, para um futuro que se paute no equilíbrio e distribuição e não na acumulação predatória.

“Tenho absoluta confiança que somente a juventude poderá trazer ideias inovadoras e a motivação necessária e o envolvimento para mudar o mundo que hoje tem características de injustiça e de exploração”, comentou a reitora.

A aposta do Papa nos jovens

Ao falar aos participantes da live, Dom Odilo ressaltou que como uma universidade pontifícia com a missão de formar pessoas que ajudem a mudar os rumos da sociedade, é oportuno que a PUC-SP, por meio de seus estudantes, participe deste evento, no qual o Papa Francisco aponta que a Igreja confia e aposta nos jovens para mudar os rumos da economia mundial.

“Se entendermos a economia com um conjunto de providências para que todos tenham o necessário, o essencial para viver dignamente, certamente ela hoje não está voltada para isso. Está orientada por outros princípios, como o do lucro, da acumulação, da posse, de continuar a assegurar as conquistas já alcançadas por alguns povos e nações que têm uma economia mais consolidada, enquanto a maioria dos países e grande parte da população mundial não consegue acesso a essa economia, e, por isso, cada vez mais, vive à deriva”, observou.

A exemplo de São Francisco e à luz do Evangelho

Dom Odilo ressaltou que a proposta do Papa é que se discutam caminhos para mudar a economia, a fim de que se chegue a um modelo inspirado em São Francisco de Assis, “uma figura emblemática da fraternidade, da partilha, da simplicidade, do desapego, do respeito pelo outro, do cuidado com os pobres e com a natureza”, afirmou, apontando para uma economia que seja iluminada pelos princípios do Evangelho, que a Igreja também propõe em sua Doutrina Social.

Nesse sentido, o Arcebispo lembrou que a Economia de Francisco se difere tanto daquela orientada pelo capitalismo liberal quanto pelo socialismo marxista, que historicamente promoveram distorções econômicas. “A alternativa que apresentamos é uma economia inspirada nos princípios do Evangelho”, apontou.

Fratelli tutti

Na avaliação de Dom Odilo, as bases do Pontífice para uma nova economia estão delineadas na encíclica Fratelli tutti, publicada este ano, e que trata de modo especial sobre a fraternidade e a amizade social.

Na encíclica, apontou o Arcebispo, o Papa propõe uma nova forma de organização social e da economia, que seja gerada a partir de uma mudança cultural, para que se valorize significativamente a fraternidade, no sentido de que todos fazem parte de uma grande família humana e convivem na mesma casa comum.

“Enquanto não se encarar isso seriamente, nós vamos ter sempre ricos e pobres, pobres que sempre serão deixados de lado e será mantido o princípio da acumulação, de quem tem mais poder sempre acumulará mais, e haverá muitas consequências para a vida social”, ressaltou.

Também o princípio da amizade social deve orientar a vida em sociedade nesse modelo de economia: “ Na Fratelli tutti, o Papa apresenta esse princípio humano básico, no qual cada um vê o outro como digno de respeito, de consideração, de empatia, e, assim, ninguém é indiferente a ninguém, não se ignora as necessidades do próximo, mas todos se alegram com as vitórias e êxitos do próximo”.

Esperança na juventude

Por fim, o Grã-chanceler da PUC-SP enfatizou que a economia atual não é sustentável e leva ao conflito entre os irmãos na casa comum e que a desejada mudança passa pelo jovens, capazes de transformar utopias em realidade. “Lembrem-se, jovens, amanhã este mundo estará nas mãos de vocês. Que Deus os ajude. Força, coragem e ousadia para mudar este mundo, para que seja bom para todos”, concluiu.  

Após a fala do Arcebispo, três jovens que participam do evento “Economia de Francisco” partilharam as experiências do primeiro dia de evento e as expectativas para um novo panorama da economia mundial.

Eles estão em grupos de reflexão do evento, as chamadas vilas temáticas, que são 12 ao todo: Trabalho e Cuidado; Gestão e Dom; Finança e Humanidade; Agricultura e Justiça; Energia e Pobreza; Vocação e Lucro; Políticas para a Felicidade; CO2 e Desigualdades; Negócios e Paz; Economia e Mulher; Empresas em Transição; Vida e Estilos de Vida.

Patrícia Maria da Silva, comunicadora social, está na vila Vocação e Lucro, e revelou que o impulso para participar do evento foi o chamado do Papa para a construção de uma economia coloque as pessoas como prioridade central, que seja focada na dignidade humana. “Hoje o sucesso é mensurado pelo quanto a pessoa acumulou na vida, mas acreditamos que a verdadeira riqueza é a vocação que cada um recebeu de Deus”, apontou.

Participante da vila Trabalho e Cuidado, Augusto Luiz Pinheiro Martins, bacharel em Teologia, convidou que cada jovem já formado ou ainda na fase de estudos na universidade se questione para quem estará a serviço em sua profissão, qual função social que dará aquilo que aprendeu. “Não dá mais para sermos indiferentes às desigualdades sociais, não podemos continuar a passar adiante aos corpos caídos, que perderam sua dignidade”, comentou, destacando ser fundamental também valorizar a ecologia e o ecumenismo.

Mestre em Direito e doutorando nesta área do saber pela PUC-SP, Alan Faria Andrade Silva participa das reflexões na aldeia C02 e Desigualdades. Ele lembrou que ao longo dos últimos meses, muitas relações estão sendo construídas de modo coletivo entre os jovens de todo o mundo que participam do evento, mas que a transformação proposta na Economia de Francisco dependerá somente deles. “Este não é um evento, é um processo para fazer as coisas de um modo diferente”, comentou.

Todos os detalhes do evento ‘Economia de Francisco’ podem ser consultados no site https://francescoeconomy.org. Já as reflexões diárias com os jovens da PUC-SP que participam do encontro podem ser vistas em Economy of Francesco – HUB PUC-SP.

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