A Pastoral Vocacional deve ajudar as pessoas a discernirem sua vocação na Igreja e a abraçar a vontade de Deus

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Desde dezembro de 2023, o Padre João Henrique Novo do Prado, 35, está à frente da Pastoral Vocacional da Arquidiocese de São Paulo, missão que se soma à de Reitor do Seminário Propedêutico Nossa Senhora da Assunção.

Padre João Henrique foi ordenado sacerdote em 2015. Depois, obteve os títulos de bacharel em Ciências da Educação e de mestre em Catequética, ambos pela Universidade Pontifícia Salesiana de Roma.

Dias antes de conceder esta entrevista na sede do Seminário Propedêutico, onde é Reitor desde julho de 2022, o Sacerdote organizou o primeiro encontro vocacional de 2024 na Arquidiocese, que reuniu 13 jovens.

Atualmente, seis seminaristas estão no Propedêutico. “Se há poucos jovens ingressando no Seminário, teremos no futuro poucos padres para cuidar do povo de Deus”, comenta, preocupado, mas esperançoso com as mudanças em curso na promoção vocacional da Arquidiocese. Leia a entrevista abaixo.

O SÃO PAULO – Muitas pessoas ainda têm a ideia de que a função da Pastoral Vocacional é apenas a de encontrar jovens para o sacerdócio. Efetivamente, qual é a missão desta Pastoral?

Padre João Henrique Novo do Prado – A Pastoral Vocacional Arquidiocesana é ampla, não trata apenas das vocações sacerdotais. Ela tem o intuito de despertar novas vocações para os mais diversos estados de vida: o sacerdócio, a vida religiosa consagrada e a vida matrimonial. Além disso, temos a missão de ajudar as pessoas, em especial os jovens, a entenderem que mesmo não sendo padres ou religiosos consagrados, poderão ser bons leigos, corresponsáveis pela vida da Igreja. Portanto, a Pastoral Vocacional ajuda as pessoas a discernirem bem sobre a própria vocação. É claro que nós, de modo muito especial, damos foco à vida sacerdotal, pois estamos vendo uma queda muito grande no número de jovens que procuram a Pastoral Vocacional e, consequentemente, dos que ingressam no Seminário da Arquidiocese. E isso é preocupante, pois se há poucos jovens ingressando no Seminário, teremos no futuro poucos padres para cuidar do povo de Deus aqui na Arquidiocese.

Como está estruturada a Pastoral Vocacional na Arquidiocese?

Temos o Centro Vocacional Arquidiocesano (CVA), no qual acolhemos os jovens que buscam um primeiro contato com a animação vocacional e os ajudamos neste discernimento. Eu sou o animador vocacional arquidiocesano e em cada região episcopal há um animador vocacional. Nós desejamos muito que em cada paróquia cada padre também seja animador vocacional. Queremos ainda organizar um trabalho vocacional em cada um dos decanatos. Atualmente, poucas paróquias têm um serviço de animação vocacional.

As paróquias que desejam iniciar este serviço como devem fazê-lo?

É importante que se pense a Pastoral Vocacional em nível paroquial de modo amplo. O ideal é constituir um grupo de animação vocacional formado por leigos, religiosos, religiosas, seminaristas, o padre, diáconos permanentes ou candidatos ao diaconato. Como já disse, para além das vocações sacerdotais, a pastoral vocacional paroquial tem a missão de ajudar os fiéis, sobretudo os jovens, a discernir a vontade de Deus para suas vidas. Assim, ao mesmo tempo em que se promovem as vocações sacerdotais, se promove também a vocação ao Matrimônio, à vida consagrada religiosa e, também, à vida laical.

E como se dá o acompanhamento de um jovem que demonstre sinais de vocação ao sacerdócio ou à vida religiosa consagrada?

Todo este processo do despertar começa na paróquia. Os padres são os primeiros orientadores, conversam com o candidato ou candidata e depois devem encaminhá-lo(a) para o CVA, para que tenhamos uma primeira conversa, e convidemos este jovem para que participe dos encontros vocacionais arquidiocesanos e para que tenha contato com os animadores vocacionais nas regiões. No caso dos rapazes, se o candidato já tem a idade mínima para ingressar no Seminário Propedêutico, ou seja de 17 para 18 anos, se concluiu o ensino médio e se demonstra sinais de maturidade para este ingresso, o período de acompanhamento é de, no mínimo, um ano. Ele será acompanhado pelo animador arquidiocesano e participará dos encontros mensais vocacionais e dos encontros regionais. Este vocacionado também precisa ter vida ativa na paróquia.

Vocacionados rezam na Capela do Seminário Propedêutico da Arquidiocese de São Paulo
Luciney Martins/O SÃO PAULO
Com a revisão e adequação do Diretório de Formação Presbiteral da Arquidiocese, a etapa do Discernimento Vocacional agora agrupa tanto a Pastoral Vocacional quanto o Seminário Propedêutico. O senhor está à frente dos dois. O quanto isso facilita que acompanhe os vocacionados?

O fato de eu ser Reitor do Seminário e Coordenador do CVA é um facilitador, pois, em um primeiro momento, eu vou à procura dos jovens com a Pastoral Vocacional, e a ideia é essa mesmo, de ir ao encontro deles, “sair do gabinete”, encontrá-los nas paróquias. Assim, passo a acompanhá-los mais de perto, e com a ajuda dos animadores regionais, já consigo perceber quem tem a possibilidade de ingressar no Seminário Propedêutico. Ao longo desse acompanhamento, também faço visitas às famílias dos vocacionados e às paróquias em que participam.

Com qual frequência o senhor tem visitado as paróquias da Arquidiocese?

Em geral, sempre aos finais de semana vou a alguma paróquia da Arquidiocese para falar sobre vocação, dar testemunho vocacional, apresentar a questão da vocação sacerdotal aos nossos jovens, falar do Centro Vocacional Arquidiocesano. Em algumas ocasiões, os seminaristas do Propedêutico também vão, o que tem sido muito interessante. Certa vez, após uma missa, nós fomos para a porta da igreja saudar o povo e alguns jovens se aproximaram dos seminaristas para tirar dúvidas sobre vocação e como faziam para ingressar no seminário.

Como as famílias e cada comunidade podem colaborar no despertar das vocações na Arquidiocese?

Cada família deve estar atenta, pois dentro de casa pode haver um vocacionado. E se de fato houver, é preciso que seja incentivado e que também se reze por esta vocação. E é na comunidade que a vocação vai tomando corpo, é onde cada um faz o discernimento daquilo que Deus quer para a sua vida.

O que cada padre pode fazer para ajudar no despertar de vocações à Igreja? 

A primeira coisa a ser feita pelo padre é bem simples: promover as vocações por meio da oração. E aqui vale lembrar uma frase de São João Paulo II: ‘A vocação é a resposta de Deus providente para uma comunidade orante’. Portanto, o padre precisa realizar na paróquia momentos de oração pelas vocações. Também importante que dê testemunho de vida. O testemunho gera exemplos e desperta vocações.

Recentemente, o Cardeal Scherer institui a Quinta-feira das Vocações na Arquidiocese. Quais as expectativas do senhor com essa iniciativa?

Eu tenho esperança e fé de que a Quinta-feira das Vocações dará muito certo. Se todas as paróquias abraçarem este projeto, que é muito simples, de nas quintas-feiras rezar pelas vocações, daremos um importante passo para refletir, incentivar e animar as vocações. Contamos muito com a ajuda dos padres para isso.

Por fim, gostaria de deixar uma mensagem ao jovem que se sente chamado ao sacerdócio, mas ainda está em dúvida?

Digo: se você sente no coração o chamado ao sacerdócio, não tenha medo! Não tenha medo de se arriscar, de dar o primeiro passo, de conversar com o seu pároco, de procurar o Centro Vocacional Arquidiocesano. Tenha certeza de que, se Deus chama, é para a felicidade. Deus não chama ninguém à tristeza. E quem sabe, jovem, a sua felicidade esteja em ser padre. E nós estamos aqui para acolhê-lo e ajudá-lo a descobrir este caminho de felicidade. E como digo sempre, a vocação é uma questão de fé. É a fé que nos ajuda a ver as coisas de modo diferente e de que vale a pena dar este passo.

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