A Quaresma é o ‘tempo favorável’ em que Deus se deixa encontrar por aqueles que o buscam com sinceridade

Afirmou o Cardeal Scherer, na missa da Quarta-feira de Cinzas, que dá início ao tempo quaresmal na Igreja

Luciney Martins/O SÃO PAULO

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, presidiu na tarde da Quarta-feira de Cinzas, 5, a missa com o rito de imposição das cinzas, que marca o início do tempo da Quaresma. Na mesma ocasião, a Igreja no Brasil também abriu a Campanha da Fraternidade (CF) que, em 2025, convida à reflexão sobre a “Ecologia integral”.

Na homilia, Dom Odilo recordou que a Quaresma é um “tempo favorável, um tempo de graças especiais” em que Deus se deixa encontrar por aqueles que o buscam com sinceridade. Inspirado nas leituras do dia, o Arcebispo destacou que este período litúrgico convida os fiéis a um exame de consciência e a um retorno autêntico a Deus.

Recordando a passagem do profeta Joel, o Arcebispo enfatizou o chamado divino: “Agora diz o Senhor: voltai para mim com todo o vosso coração”. Ele explicou que essa convocação ao retorno está presente desde o início da humanidade, como no relato de Adão e Eva, quando, após pecarem, se esconderam. “E Deus os chamou: ‘Adão, onde estás?’ Deus queria encontrar Adão e Eva, eles se esconderam, porque haviam pecado”.

RECONCILIAÇÃO

O Cardeal também sublinhou a reconciliação como um desejo divino e uma necessidade humana. Dom Odilo citou as palavras de São Paulo: “Deixai-vos reconciliar com Deus”, reforçando que a conversão implica um movimento sincero de retorno ao Senhor. No entanto, ele alertou para a tentação da hipocrisia religiosa, criticada por Jesus no Evangelho do dia: “Não sejais como os escribas e fariseus, que praticam uma falsa religiosidade. Praticam o jejum, a esmola e a oração para serem vistos”. Ele advertiu que tais práticas perdem o valor quando realizadas por vaidade, sem uma busca autêntica por Deus.

Outro ponto central da homilia foi a renovação das promessas batismais, momento culminante da Páscoa. Dom Odilo lembrou que essas promessas exigem duas atitudes fundamentais: a renúncia ao mal e a adesão à fé. “Renunciais a Satanás, a todas as suas seduções, a todas as suas obras?” – questionou, sublinhando que essa renúncia não é um simbolismo vazio. “Isso parece pouco, renunciar a Satanás parece pouco. Parece coisa de fábula, da mitologia, mas não é, irmãos. Renunciar ao diabo significa renunciar a tudo aquilo que é contra Deus.”

PROFESSAR A FÉ

O Cardeal fez um apelo para que os fiéis reflitam sobre sua vivência da fé. “Crês na remissão dos pecados, mas eu não me confesso, não creio naquilo que a igreja ensina sobre a penitência, a conversão, a confissão. Aí eu me viro com Deus. Mas tu crês na remissão dos pecados?”, frisou, alertando que, muitas vezes, há uma contradição entre a profissão de fé e as atitudes do dia a dia.

Ao final, Dom Odilo explicou o simbolismo das cinzas, marcando o início deste tempo de penitência. “As cinzas que daqui a pouco nós vamos receber são um sinal. São um sinal de penitência. Da penitência que vamos fazendo ao longo desses 40 dias em preparação à Páscoa”, disse. Ele incentivou os fiéis a assumirem esse período como uma oportunidade real de mudança interior. “Escolhas difíceis, talvez. Sacrifício, talvez. Escolhas, porém, que valem a pena, porque são coerentes com nossa fé”, acrescentou.

Concluindo a homilia, o Cardeal Scherer reforçou que a Quaresma conduz à Páscoa e à renovação da vida cristã. “Morrermos com Cristo para o pecado, sermos com Ele sepultados nas águas do batismo e com Ele ressurgirmos para a vida nova”.

TEMPO DE CONVERSÃO

O nome deste tempo litúrgico – Quaresma – deriva da palavra latina quadragesima. A exemplo de Jesus, que se retirou no deserto por 40 dias para orar e jejuar antes de iniciar sua vida pública, os cristãos são convidados a um “retiro e recolhimento” em vista das celebrações dos mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.

Para vivenciar com profundidade o processo de conversão quaresmal, a Igreja propõe um caminho baseado em três práticas que se desdobram em muitas outras: o jejum, a oração e a esmola (caridade), que “exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros”.

Tanto na Quarta-feira de Cinzas quanto na Sexta-feira da Paixão, a Igreja prescreve o jejum e a abstinência de carne como um sacrifício em memória da Paixão de Cristo, que entregou a sua carne para a salvação da humanidade. A abstinência de carne é prescrita a todos os maiores de 14 anos, enquanto o jejum, aos maiores de 18 anos até os 59 anos. As pessoas doentes ou que estão muito debilitadas não estão obrigadas a cumprirem esse preceito

CAMPANHA DA FRATERNIDADE

Sobre a Campanha da Fraternidade, Dom Odilo explicou que essa iniciativa acompanha a Quaresma, porém, não preenche todo o tempo quaresmal, sendo um dos exercícios da Quaresma na linha da esmola, da caridade. “A campanha nos chama a rever nossas relações com o próximo, a nossa caridade fraterna sobre diferentes pontos de vista”, acrescentou.

No fim da missa, foi feito um envio simbólico para a realização da CF, com a entrega de exemplares do manual da campanha a representantes das regiões e vicariatos episcopais da Arquidiocese.

Antes da celebração, o Arcebispo Metropolitano concedeu entrevista coletiva em que falou sobre a temática da CF deste ano.

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