Advento: a vinda do Senhor nos convida a renovar o coração e a esperança

Marcado pelo convite à preparação para acolher o Deus que vem, este tempo litúrgico é de peregrinação interior e oração

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Reprodução da Internet

Restam poucos dias para o término do ano litúrgico e a Igreja se prepara para viver uma das etapas litúrgicas mais aguardadas pela grande maioria dos fiéis: o tempo do Advento.

A palavra “advento” é originária do latim, adventus. No vocabulário pagão, significa “acontecimento” e se referia à ascensão do imperador ao trono. No linguajar eclesiástico-litúrgico, porém, significa “vinda ou chegada”. Esta se re­fere a Jesus, o Filho de Deus, o esperado desde sempre. Aquele que veio ao mun­do para salvá-lo e cujo nascimento é re­cordado a cada ano, no dia do Natal.

SIGNIFICADO

Não é possível precisar a história e o significado primitivo do Advento, po­rém é necessário distinguir elementos que dizem respeito a práticas ascéticas e outras de caráter estritamente litúr­gico: um Advento que é a preparação para o Natal, a primeira vinda de Je­sus à humanidade, como uma criança indefesa; e um Advento que celebra a vinda gloriosa de Cristo, no fim dos tempos, também chamado de Advento escatológico.

“Por este duplo motivo é que o tem­po do Advento se apresenta como um período de piedosa e alegre expectati­va, um tempo de oração e meditação, diferente do tempo quaresmal, que se caracteriza pela penitência”, explicou o Cônego Helmo Cesar Faccioli, As­sistente Eclesiástico para a Liturgia na Arquidiocese, em entrevista ao O SÃO PAULO em 2021.

HISTÓRIA

A celebração do Advento é própria do Ocidente. Já no fim do século IV, na Es­panha e na Gália (território que ocupava a França atual, além da Bélgica, Suíça e partes da Alemanha e da Itália), havia um período preparatório para o Natal, du­rante seis semanas (como a duração atual do Advento na liturgia ambrosiana).

No fim do século VII, em Roma, ha­via registros de um Advento litúrgico de cinco domingos, proveniente da Gália, de Ravena ou da Itália meridional. De caráter a recordar a parusia do Senhor, o seu conteúdo original se baseava no texto de Mt 24,27: “Assim será a vinda do Filho do Homem”. Os domingos que antecediam o Natal seriam destinados a fechar o ano litúrgico e recordar a con­clusão do mistério salvífico de Cristo.

“Foi entre os séculos XII e XIII, em Roma, com o missal de São Pio V, que se definiram, liturgicamente como se conhece hoje, as quatro semanas que antecedem o Natal como uma ampla reflexão que prepara os fiéis para a vin­da do Senhor”, complementou o Cône­go Helmo.

TEXTOS BÍBLICOS

Os textos propostos pela liturgia para as celebrações eucarísticas duran­te o Advento são permeados por uma vasta riqueza de significados.

Embora haja algumas mudanças em virtude dos ciclos litúrgicos que divi­dem os anos em A, B e C, as leituras bí­blicas utilizadas nas missas dominicais do Advento propõem, em primeiro lu­gar, um anúncio profético, geralmente extraído do livro do profeta Isaías; em seguida, um ensinamento apostólico de caráter moral, retirado das cartas do Apóstolo Paulo; e, por fim, uma narra­tiva do Evangelho.

A cada domingo do Advento, o con­teúdo das leituras focaliza um tema específico: no primeiro, a vigilância na espera de Cristo; no segundo, o con­vite à conversão, baseado na pregação de João Batista; no terceiro, o testemu­nho dado pelo Precursor de Jesus; e, no quarto, o anúncio do nascimento de Je­sus a José e Maria.

O duplo caráter do Advento, que ce­lebra tanto a espera do Salvador na gló­ria quanto a sua vinda na carne, tam­bém emerge nos textos das Sagradas Escrituras: o primeiro domingo apon­ta para a parusia final; o segundo e o terceiro destacam a vinda cotidiana do Senhor; e o quarto, por sua vez, prepara os fiéis para o nascimento de Cristo, ao mesmo tempo em que faz dele a teolo­gia e a história.

LITURGIA

Segundo o Cônego Helmo, o tem­po do Advento não dispensa a asce­se, porém não se trata de um tempo marcadamente penitencial, embora a liturgia prescreva a moderação na ornamentação do templo e no uso dos instrumentos musicais. Ele re­cordou que não se canta o “Glória”, a não ser em alguma solenidade, como a da Imaculada Conceição, no dia 8 de dezembro, no Brasil, ou Nossa Senhora de Guadalupe, no México, no dia 12 de dezembro, por exemplo. O “Glória” fica, portanto, reservado para o anúncio alegre da natividade de Jesus na Vigília do Natal e, depois, é retomado nas demais celebrações.

“Durante aquele tempo litúrgico, diz-se o ‘Aleluia’, pois a alegria está permeada no mistério do Advento. A alegria, como dimensão escatológica, e como dimensão da manifestação do filho de Deus à humanidade”, instruiu o Sacerdote.

A cor litúrgica do tempo do Ad­vento é o roxo, porém, na Europa, ao contrário do Brasil, há uma dis­tinção na tonalidade dessa cor em relação à utilizada na Quaresma, que é mais escura na preparação para a Páscoa, a fim de se acentuar o caráter penitencial.

“Para o Advento, é conveniente o uso de uma tonalidade mais clara, pois este tempo se reveste de um convite à ascese, à peregrinação interior e à oração, um tempo de aguardar a vin­da luminosa de Cristo, luz dos povos”, concluiu o Cônego.

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