Realizada no ano de 2018, levantamento revelou que 63% das pessoas na área da Arquidiocese de São Paulo são católicas. Entre os que deixaram a Igreja, a maioria não o fez por questões doutrinais, mas por não se sentir acolhida em suas dificuldades ou por questões de relacionamento interpessoal em sua comunidade paroquial
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A “presença inter-religiosa” no Brasil, afirmou o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, em entrevista a Silvonei José, da Rádio Vaticano – Vatican News, é crescente. Na capital paulista, por exemplo, a comunidade de judeus é formada por 80 mil pessoas, como acontece em outras cidade maiores do país, seguidos por muçulmanos, budistas e hinduístas, através dos imigrantes.
Dom Odilo destacou inclusive a retomada das tradições religiosas de matriz africana por parte de muitos brasileiros que “tinham sido cristãos e vão voltando, pouco a pouco, a aderindo às religiões não cristãs”. Então, o quadro religioso no Brasil “vai se diversificando. Uma vez era praticamente só cristão e só católico”, explicou o Cardeal Scherer, ao fazer referência aos dados de uma pesquisa de campo realizada com mais de 20 mil pessoas durante o primeiro Sínodo Arquidiocesano, promovido de 2017 a 2023.
Sínodo arquidiocesano de São Paulo
Os sínodos diocesanos, que reúnem clérigos, consagrados e leigos, são iniciativas já consagradas na Igreja ao longo dos séculos e fazem uma grande avaliação da vida e ação evangelizadora e pastoral da Igreja local. Entre as atividades do Sínodo Arquidiocesano de São Paulo, no ano de 2018, estava a celebração nas paróquias e comunidades, quando foi realizada a pesquisa sobre a situação religiosa e pastoral da Igreja nas bases, ou seja, nas 295 paróquias territoriais.
Em 2018, 63% são católicos em SP
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Dom Odilo, que presidiu o Sínodo Arquidiocesano, explicou à Rádio Vaticano-Vatican News que essa pesquisa não foi feita pelo IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística que ainda não publicou as informações atuais de caráter religioso. “Ainda estamos à espera, porque ainda não se tem, de fato, os dados de 2020 do ponto de vista religioso”, acrescentou o Purpurado. A pesquisa arquidiocesana foi “organizada cientificamente e coordenada por técnicos da Pontifícia Universidade Católica”.
“A pesquisa não foi feita nas igrejas, mas na rua, com orientação técnica de pesquisa social e batendo de porta em porta. Ao todo, foram respondidos quase 22 mil questionários de 112 perguntas. Entre os quais, pouco mais de 15 mil são questionários respondidos por católicos e outros quase 7 mil por não católicos. Os dados são muito reveladores. As perguntas sempre foram feitas no intuito de tentar conhecer a realidade objetiva e subjetiva de modo que as pessoas pudessem se expressar, por exemplo, sobre o motivo por que estão na Igreja ou por que abandonar a Igreja ou o que os atrai na Igreja ou o que falta na Igreja e, assim por diante, se batizam os filhos ou não ou por que não os batiza”.
“No seu todo, essa pesquisa é muito reveladora sobre a situação religiosa na metrópole. Algumas surpresas positivas nós tivemos, por exemplo: a estatística de que, em São Paulo, em 2018, ainda 63% da população da Arquidiocese é católica.”
O Arcebispo de São Paulo complementou que os dados da pesquisa não fazem diferenciação entre os católicos do centro e da periferia, porque “muitas vezes se diz que o centro é católico e a periferia não é católica. Não é verdade. Em São Paulo isso não se traduz concretamente. A periferia também é católica, não é que está toda entregue a outros grupos religiosos”.
A questão religiosa-social “não evolui matematicamente, é um fenômeno social que tem surpresas, que muda, que é dinâmico e não segue necessariamente a mesma lógica no correr do tempo”, observou o Cardeal.
Como é o acolhimento na Igreja católica?
A pesquisa também mostrou que – sempre em 2018 – “quase 20% dos que se diziam católicos, não tinham sido católicos em 2007, 10 anos antes”. Esse dado, “impressionante e que precisa ser estudado” – comentou o Cardeal – foi revelado por meio de uma questão objetiva no questionário.
O Arcebispo também abordou sobre as motivações das pessoas que deixaram a Igreja Católica.
“Em geral, os católicos que deixam a Igreja não a deixam por questões doutrinais. Um pequeno grupo sim, mas a maioria não é por questões doutrinais, é muito mais por questões de relacionamento por quem representa a Igreja: com a paróquia, com o padre, com quem atende na paróquia, a maneira como são acolhidos ou não são acolhidos, como são atendidos ou não são atendidos. A atenção às pessoas nos momentos de dor e de dificuldade, quando as pessoas buscam e acabam não encontrando a resposta na Igreja católica, acabam buscando e recebendo em algum outro lugar e, naturalmente, passam para aquele outro lugar, aquela outra comunidade religiosa e deixam a Igreja católica, porque na Igreja Católica acabaram não encontrando aquilo que precisavam. E, em outro lugar, encontraram. Então, mais uma vez, se questiona a nossa forma de fazer.”
E o cardeal acrescentou: “As paróquias não podem se tornar espaços apenas burocráticos ou de consumo religioso”, mas um espaço de manifestação de proximidade, presença e acompanhamento da vida, como é da missão da Igreja. Esse acolhimento, observou ainda dom Odilo, deve acontecer nas bases, em cada diocese por meio da iniciativa do bispo e dos seus colaboradores e envolvendo as comunidades. Uma preocupação que também sempre volta a ser analisada durante as assembleias do episcopado brasileiro.
O batismo das crianças em SP
Além da relação das pessoas com a Igreja, a pesquisa também indagou sobre a participação nas iniciativas pastorais e caritativas, o modo como se informam sobre a Igreja e o acesso aos sacramentos.
A respeito do Batismo, na pesquisa de 2018 “ficou claro que mais ou menos a metade das crianças que nascem em lares católicos já não são batizadas”. O motivo? “Os pais já não vão à igreja e os filhos já não são batizados. Os pais não casaram na igreja, não praticam a fé e não batizam os filhos. Outra questão, de origem protestante, é esperar para decidir mais tarde se quer batizar, se quer ser batizado, se quer ir para uma outra religião. E essa é uma atitude cômoda”, afirmou o Cardeal, por isso “há muito que se trabalhar na motivação para que a fé seja transmitida em família e desde a primeira infância”.
A esperança do Ano Jubilar
Ao finalizar a entrevista, o cardeal brasileiro compartilhou o desejo de que a proposta do Ano Jubilar “ajude a melhorar o nosso mundo e a nossa Igreja a partir da ótica da esperança”. E “que aconteçam muitas conversões. Que muitas pessoas se reaproximem de Deus e da Igreja”.
(Fonte: Vatican News – reportagem de Silvonei Protz e Andressa Collet)