
Os sinos da Basílica Menor de Sant’Ana, na zona Norte de São Paulo, voltaram a ressoar solenemente na noite da terça-feira, 9, marcando um momento histórico para a comunidade paroquial e para o bairro de Santana.
A bênção e a reinauguração do campanário foram presididas pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, e reuniram fiéis, representantes da Paróquia e membros do Grupo Comolatti, patrocinador do restauro.
O projeto de recuperação, conduzido pela empresa Fábrica de Sinos Piracicaba, devolveu pleno funcionamento aos três sinos da torre, que estavam silenciados havia alguns anos devido a problemas estruturais. Entre os trabalhos executados estão a limpeza dos sinos; a troca do couro dos badalos; a confecção de três contrapesos, rodas e cavaletes de ferro; a instalação de uma nova plataforma metálica na parte superior da torre; a realocação dos sinos na nova estrutura e sua completa automação com motores, sensores, painéis elétricos e comando digital, além da instalação de martelo para marcação das horas e toque fúnebre e nova pintura.
‘OS SINOS SÃO COMO A VOZ DE DEUS’
Na homilia, ao agradecer ao Grupo Comolatti por mais uma vez oferecer à Igreja em São Paulo o som do sinos que voltam a tocar na cidade, o Cardeal Scherer recordou que os sinos estão ligados à vida do povo de Deus.
“Os sinos são como a voz de Deus que fala ao público, ajudam a recordar os momentos da oração e lembrar de Deus, avisam os fiéis sobre acontecimentos mais sérios que podem significar aflição ou alegria para esta porção da Igreja”, declarou o Arcebispo.
Dom Odilo destacou, ainda, que, na metrópole, em meio ao barulho de tantas vozes, “temos que fazer o possível para que a presença da Igreja seja percebida na cidade”.
Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Padre José Roberto Abreu de Mattos, Pároco e Reitor da Basílica, recordou a importância simbólica dos sinos para a vida de fé do povo de Santana.
“Há exatamente 84 anos, a Paróquia Sant’Ana teve a grata satisfação de ouvir pela primeira vez o soar dos sinos; sinal do sagrado, da presença e do chamado de Deus no bairro de Santana”, afirmou. Ele destacou que, por quase oito décadas, os sinos foram tocados manualmente e depois silenciaram devido à precariedade da estrutura que os sustentava. “O povo sempre acolheu com carinho, amor e até como sinal de esperança…, até ouvi alguns dizerem, ao ‘silenciar-se’, ‘Deus está quieto’, está faltando o badalar dos sinos”, comentou o Sacerdote.
Para o Reitor, o retorno dos sinos em pleno ano jubilar reacende a alegria da comunidade: “Agora, com o retorno dos sinos, neste Ano Jubilar, reacende em nossos corações a esperança e a alegria de sermos chamados a viver em comunidade, cada vez que ouvirmos suas badaladas”.
MARCO DA ZONA NORTE

A origem da Paróquia Sant’Ana se confunde com a própria história da cidade de São Paulo. No século XVI, uma vasta área situada ao norte da Vila de São Paulo de Piratininga foi confiada aos missionários jesuítas. Próximo à sede da antiga fazenda instalou-se uma igreja dedicada a Sant’Ana, na qual os colonos se reuniam para celebrar e cultivar a devoção à mãe da Virgem Maria. São José de Anchieta, fundador da cidade, chegou a mencionar a fazenda em cartas enviadas a Portugal em 1560.
Em 12 de julho de 1895, Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti erigiu oficialmente a Paróquia Sant’Ana, cuja sede provisória passou a ser a Capela Santa Cruz, do Colégio Santana. Desde então, testemunhou intensas transformações sociais e históricas.
A atual igreja matriz foi construída entre 1896 e 1936 e tornou-se ícone do bairro que dela herdou o nome. Em 5 de maio de 2020, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos atendeu ao pedido do Cardeal Scherer e concedeu ao templo o título de Basílica Menor, ato oficializado em 26 de julho daquele ano.
TRADIÇÃO

Patrocinar o restauro de sinos é um gesto que se consolidou como tradição do Grupo Comolatti. Ao longo dos últimos 18 anos, o grupo já patrocinou a recuperação dos sinos de 19 igrejas da Arquidiocese de São Paulo, entre elas as Paróquias São Vito Mártir, Bom Jesus do Brás, Nossa Senhora do Brasil, Nossa Senhora da Paz, São Cristóvão, São José do Belém e São João Batista do Brás. Também são frutos dessa parceria a revitalização dos sinos da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte e do Mosteiro de São Bento, da Basílica Nossa Senhora da Conceição (Santa Ifigênia) e, em 2010, o restauro do carrilhão de 61 sinos da Catedral da Sé, o maior da América Latina.
Sérgio Comolatti, presidente do conselho de administração do grupo empresarial, reafirmou o valor evangelizador do toque dos sinos, que atravessa gerações. “A iniciativa busca manter viva a tradição de, com o toque dos sinos, chamar as pessoas para a Igreja, pois o soar dos sinos é uma forma de comunicação que atravessa gerações e representa para a família Comolatti um legado de fé”, destacou. Ele enfatizou, ainda, a alegria de contribuir com a missão da Igreja na capital paulista: “É uma satisfação contribuir para que seus sinos continuem a soar com qualidade, anunciando a presença da Igreja Católica na cidade”.
A reinauguração dos sinos da Basílica de Sant’Ana une preservação histórica, devoção popular e renovação da ação evangelizadora. Em cada toque, ecoa a memória da fé que deu origem ao bairro e continua a iluminar a vida de seus habitantes, convidando à comunhão, à esperança





