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Após restauro, sinos da Basílica Menor de Sant’Ana são reinaugurados

Fernando Geronazzo

Os sinos da Basílica Menor de Sant’Ana, na zona Norte de São Paulo, voltaram a res­soar solenemente na noite da terça-feira, 9, marcando um momento histórico para a co­munidade paroquial e para o bairro de Santana.

A bênção e a reinaugu­ração do campanário foram presididas pelo Cardeal Odi­lo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, e reuniram fiéis, representan­tes da Paróquia e membros do Grupo Comolatti, patrocina­dor do restauro.

O projeto de recupera­ção, conduzido pela empresa Fábrica de Sinos Piracicaba, devolveu pleno funcionamen­to aos três sinos da torre, que estavam silenciados havia al­guns anos devido a problemas estruturais. Entre os trabalhos executados estão a limpeza dos sinos; a troca do couro dos badalos; a confecção de três contrapesos, rodas e cavaletes de ferro; a instalação de uma nova plataforma metálica na parte superior da torre; a re­alocação dos sinos na nova estrutura e sua completa auto­mação com motores, sensores, painéis elétricos e comando digital, além da instalação de martelo para marcação das horas e toque fúnebre e nova pintura.

‘OS SINOS SÃO COMO A VOZ DE DEUS’

Na homilia, ao agradecer ao Grupo Comolatti por mais uma vez oferecer à Igreja em São Paulo o som do sinos que voltam a tocar na cidade, o Cardeal Scherer recordou que os sinos estão ligados à vida do povo de Deus.

“Os sinos são como a voz de Deus que fala ao público, ajudam a recordar os mo­mentos da oração e lembrar de Deus, avisam os fiéis sobre acontecimentos mais sérios que podem significar aflição ou alegria para esta porção da Igreja”, declarou o Arcebispo.

Dom Odilo destacou, ain­da, que, na metrópole, em meio ao barulho de tantas vo­zes, “temos que fazer o possível para que a presença da Igreja seja percebida na cidade”.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Padre José Rober­to Abreu de Mattos, Pároco e Reitor da Basílica, recordou a importância simbólica dos si­nos para a vida de fé do povo de Santana.

“Há exatamente 84 anos, a Paróquia Sant’Ana teve a grata satisfação de ouvir pela primeira vez o soar dos sinos; sinal do sagrado, da presença e do chamado de Deus no bairro de Santana”, afirmou. Ele des­tacou que, por quase oito dé­cadas, os sinos foram tocados manualmente e depois silen­ciaram devido à precariedade da estrutura que os sustentava. “O povo sempre acolheu com carinho, amor e até como sinal de esperança…, até ouvi alguns dizerem, ao ‘silenciar-se’, ‘Deus está quieto’, está faltando o ba­dalar dos sinos”, comentou o Sacerdote.

Para o Reitor, o retorno dos sinos em pleno ano jubilar reacende a alegria da comuni­dade: “Agora, com o retorno dos sinos, neste Ano Jubilar, reacende em nossos corações a esperança e a alegria de ser­mos chamados a viver em co­munidade, cada vez que ouvir­mos suas badaladas”.

MARCO DA ZONA NORTE

Luciney Martins/O SÃO PAULO

A origem da Paróquia Sant’Ana se confunde com a própria história da cida­de de São Paulo. No século XVI, uma vasta área situada ao norte da Vila de São Pau­lo de Piratininga foi confia­da aos missionários jesuítas. Próximo à sede da antiga fa­zenda instalou-se uma igreja dedicada a Sant’Ana, na qual os colonos se reuniam para celebrar e cultivar a devoção à mãe da Virgem Maria. São José de Anchieta, fundador da cidade, chegou a mencionar a fazenda em cartas enviadas a Portugal em 1560.

Em 12 de julho de 1895, Dom Joaquim Arcoverde de Al­buquerque Cavalcanti erigiu ofi­cialmente a Paróquia Sant’Ana, cuja sede provisória passou a ser a Capela Santa Cruz, do Colégio Santana. Desde então, testemu­nhou intensas transformações sociais e históricas.

A atual igreja matriz foi construída entre 1896 e 1936 e tornou-se ícone do bairro que dela herdou o nome. Em 5 de maio de 2020, a Congre­gação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos atendeu ao pedido do Cardeal Scherer e concedeu ao templo o título de Basílica Menor, ato oficializado em 26 de julho da­quele ano.

TRADIÇÃO

Fernando Geronazzo

Patrocinar o restauro de sinos é um gesto que se conso­lidou como tradição do Grupo Comolatti. Ao longo dos últi­mos 18 anos, o grupo já patro­cinou a recuperação dos sinos de 19 igrejas da Arquidiocese de São Paulo, entre elas as Pa­róquias São Vito Mártir, Bom Jesus do Brás, Nossa Senhora do Brasil, Nossa Senhora da Paz, São Cristóvão, São José do Belém e São João Batista do Brás. Também são frutos dessa parceria a revitalização dos si­nos da Igreja de Nossa Senho­ra da Boa Morte e do Mostei­ro de São Bento, da Basílica Nossa Senhora da Conceição (Santa Ifigênia) e, em 2010, o restauro do carrilhão de 61 si­nos da Catedral da Sé, o maior da América Latina.

Sérgio Comolatti, presi­dente do conselho de adminis­tração do grupo empresarial, reafirmou o valor evangeliza­dor do toque dos sinos, que atravessa gerações. “A ini­ciativa busca manter viva a tradição de, com o toque dos sinos, chamar as pessoas para a Igreja, pois o soar dos sinos é uma forma de comunicação que atravessa gerações e repre­senta para a família Comolat­ti um legado de fé”, destacou. Ele enfatizou, ainda, a alegria de contribuir com a missão da Igreja na capital paulista: “É uma satisfação contribuir para que seus sinos continuem a soar com qualidade, anun­ciando a presença da Igreja Católica na cidade”.

A reinauguração dos sinos da Basílica de Sant’Ana une preservação histórica, devo­ção popular e renovação da ação evangelizadora. Em cada toque, ecoa a memória da fé que deu origem ao bairro e continua a iluminar a vida de seus habitantes, convidando à comunhão, à esperança

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