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Assembleia arquidiocesana trata sobre a aplicação do Projeto Emergencial de Pastoral

‘A nossa Igreja em São Paulo precisa se colocar de forma nova diante das circunstâncias atuais’, exortou o Cardeal Scherer aos participantes

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Com o objetivo de acolher e discernir os frutos da escuta e dos apontamentos das assembleias ocorridas nas regiões episcopais em setembro, organizando-os à luz do Projeto Emergencial de Pastoral (2024-2026), foi realizada no sábado, 22, no Instituto São Paulo de Estudos Supe­riores (Itesp), na zona Sul, a Assembleia Arquidiocesana de Pastoral.

Na ocasião, os bispos auxiliares, clé­rigos, religiosos e leigos representantes do Conselho Arquidiocesano de Pasto­ral, dos conselhos de pastoral das regiões episcopais, dos vicariatos ambientais, das pastorais arquidiocesanas, bem como os formadores dos seminários, reitores das faculdades de Teologia, Direito Canôni­co e Filosofia, membros da Procuradoria e representantes dos decanatos nas co­missões pastorais do Anúncio, da San­tificação e do Testemunho e Serviço da Caridade aprofundaram os desafios para a aplicabilidade do Projeto Emergencial, o qual ajudará a delinear pistas ao futuro Plano de Pastoral da Arquidiocese, que será formulado ao longo de 2026, tendo em conta os apontamentos do 1º sínodo arquidiocesano (2017-2023), do Sínodo universal (2021-2024) e das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE), a serem definidas na Assembleia Geral da Conferência Na­cional dos Bispos do Brasil (CNBB) no próximo ano.

280 ANOS DO BISPADO DE SÃO PAULO

Os trabalhos foram iniciados com um momento oracional que recordou os 280 anos da Diocese de São Paulo, criada em 1745, e o permanente chamado aos católicos para evangelizar nesta Igreja particular, testemunhando “que Deus habita esta cidade e que somos suas tes­temunhas e missionários a serviço do Reino”.

Também foi apontado que o agir pastoral na Arquidiocese deve ser “ex­pressão concreta da riqueza de dons e carismas que o Espírito Santo concede ao povo de Deus”, sendo as expressões de vida eclesial “chamadas a contribuir, de forma coordenada e articulada, para a realização da missão evangelizadora da Igreja no contexto urbano e plural da metrópole paulistana”, como Igreja que participa do tríplice múnus de Cristo: profético (anúncio), sacerdotal (santificação) e régio (testemunho – serviço da caridade).

ORGANIZAÇÃO PASTORAL EM FUNÇÃO DA VIDA DA IGREJA

Na mesa de abertura, o Cardeal Odi­lo Pedro Scherer lembrou que a assem­bleia arquidiocesana buscava repercutir, retomar e aprofundar a implementação do Projeto Emergencial de Pastoral, e se dava sob o sinal da esperança, tema do Ano Jubilar.

O Arcebispo Metropolitano enfati­zou ser a hora de “passar dos bons pro­pósitos às boas práticas”, e sublinhou que uma das grandes questões postas é a urgência de uma evangelização missio­nária, atenta àquilo que o Espírito San­to diz à Igreja e à realidade do presente: “A nossa Igreja em São Paulo precisa se colocar de forma nova diante das cir­cunstâncias atuais, perante as quais não basta que simplesmente continuemos no ‘piloto-automático’. Nós precisamos fazer algo diferente e, realmente, assumir um processo de conversão pastoral”.

O Arcebispo trouxe como um dado positivo o fato de cada vez mais adul­tos estarem buscando os sacramentos da Iniciação à Vida Cristã (IVC), bem como a volta de católicos que haviam se afastado da vida da Igreja: “Como pode­mos acolhê-los bem? O processo de con­versão pastoral deve estar atento a essas questões e às muitas situações sociais, com o desafio de fazer, por exemplo, que deslanche o Vicariato da Caridade So­cial, o Vicariato para a Pastoral da Saúde e dos Enfermos, bem como a Catequese”, exortou.

“Toda a nossa organização pastoral está em função da missão da igreja. A vida pastoral não é uma realidade em si”, enfatizou.

PREOCUPAÇÕES COMUNS

Os coordenadores das comissões do Anúncio, Cônego Tarcísio Marques Mesquita; da Santificação, Padre Luiz Eduardo Pinheiro Baronto; e do Teste­munho e Serviço da Caridade, Cône­go José Renato Ferreira, apresentaram as sínteses dos desafios e pistas de ação mencionados pelos participantes das as­sembleias regionais.

Foram apontamentos comuns as di­ficuldades para que haja uma renovação das lideranças pastorais, a necessidade de maior clareza sobre o papel de cada uma das comissões, e o desejo de que as ações que realizam se tornem mais conhecidas.

Na comissão do Anúncio, entre os aspectos sublinhados estiveram a difi­culdade para a efetiva implementação da IVC e da Infância e Adolescência Missio­nária nas paróquias; a não permanência dos fiéis na vida da Igreja após recebe­rem os sacramentos; a necessidade de uma melhor acolhida às famílias e novos paroquianos; e a adoção de renovadas metodologias para as ações missionárias.

Entre os pontos de destaque da co­missão da Santificação foram mencio­nadas a percepção de que a formação bíblica, litúrgica e catequética tem sido insuficiente e pouco mistagógica; de que não há sinergia entre as pastorais; e de que os fiéis têm vivido os sacramentos com baixa consciência espiritual, o que requer aprimoramentos no itinerário de preparação.

Já na comissão do Testemunho e Ser­viço da Caridade apresentou-se como desafiador a vivência da Pastoral de Con­junto; a necessidade de melhor organizar os atendimentos e dados sobre a carida­de realizada; a superação das resistências de algumas paróquias em tratar sobre questões sociais, bem como fazer com que cheguem às pessoas “invisibilizadas”, como os idosos e pessoas com deficiên­cia, e acolham os mais pobres; além de a Igreja em São Paulo ter melhor articula­ção com o poder público.

BUSCAR RESPOSTAS PERANTE OS DESAFIOS

Após as sínteses, os participantes, di­vididos em 12 grupos, refletiram sobre os desafios de cada uma das três comis­sões para a aplicar o Projeto Emergencial e sobre pistas para sua efetiva implemen­tação; trataram, também, sobre como fortalecer o Projeto Emergencial em vis­ta do futuro Plano Pastoral.

Para as reflexões nos grupos, Dom Odilo recomendou que o foco não fosse nos problemas já amplamente conhe­cidos e debatidos no 1º sínodo arqui­diocesano, mas em propostas objetivas para solucioná-los. “Devemos ser pro­positivos naquilo que é, de fato, factível”, sublinhou.

As respostas formuladas pelo gru­pos foram enviadas de modo on-line à Coordenação Pastoral Arquidiocesana e brevemente mencionadas na plenária conclusiva da assembleia.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Padre José Maria Mohomed Junior, um dos coordenadores da Pastoral Ar­quidiocesana, explicou que o Projeto Emergencial de Pastoral abriu cami­nhos de discussão com as comunida­des, paróquias e regiões episcopais, e que a assembleia arquidiocesana proporcionou uma análise ainda mais aprofundada dos temas. “Uma vez que seja compilado todo esse material, nós queremos, de novo, ver o que precisa­mos apontar como caminhos especí­ficos para a vivência do Anúncio, da Santificação e do Testemunho em vista de um Plano de Pastoral para a nossa Arquidiocese”, enfatizou.

Na conclusão das atividades, Dom Carlos Silva, OFMCap., Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial da Co­ordenação Pastoral Arquidiocesana, destacou que a comunhão vivida na assembleia “precisa continuar nas nos­sas paróquias, pastorais, grupos, ser­viços, regiões episcopais e vicariatos ambientais”, e exortou os participantes a serem “animadores da comunhão, promotores da participação e testemu­nhas da missão.­

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