A cerca de 400 metros da Catedral da Sé, ao lado da Praça João Mendes, na Rua Tabatinguera, no número 104, está localizada a Capela do Menino Jesus e Santa Luzia, padroeira dos olhos.
Na segunda-feira, 13, além da festa dedicada à virgem e mártir da Igreja Católica, a comunidade celebrou os 120 anos de fundação da pequena e acolhedora igreja situada no centro da capital paulista.
A missa das 12h30 foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. Com transmissão pela rede social da Capela, a Eucaristia foi concelebrada pelo Capelão, Padre Luiz Claudio de Almeida Braga. Fiéis participaram presencialmente, seguindo os atuais protocolos de segurança em virtude da COVID-19.
ORIGEM DA CAPELA
Inaugurada no dia 13 de dezembro de 1901, a Capela do Menino Jesus e Santa Luzia foi fundada na chácara de Anna Maria de Almeida Lorena Machado, uma “dama da sociedade paulista”.
Anna Maria construiu a pequena igreja em homenagem aos seus santos de devoção após sobreviver a um naufrágio de navio. Na ocasião, ela perdeu todos os seus pertences, que incluía uma imagem do Menino Jesus de Praga. A imagem, que era estimada por sua família, foi encontrada ao amanhecer, flutuando na praia em que os sobreviventes aguardavam por socorro.
O projeto de construção da Capela é assinado pelo arquiteto italiano Domingos Delpiano, um dos primeiros padres salesianos que chegaram ao Brasil, em 1883. As obras ornamentais são do também italiano pintor-decorador Orestes Sercelli.
Em vida, além de manter a Capela, Anna Maria patrocinou todas as festas celebradas religiosamente nos dias 13 e 25 de dezembro. Após sua morte, em 1903, seus herdeiros mantiveram os cultos na Capela, em atendimento ao seu pedido registrado em testamento.
Porém, ao longo dos anos, os herdeiros tiveram problemas financeiros e a Capela passou aos cuidados de diferentes ordens religiosas da Igreja Católica. Atualmente, ela é administrada pela Fundação Capela do Menino Jesus e Santa Luzia, com a colaboração da Mitra Arquidiocesana.
PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL
Construída no estilo neogótico, a Capela reúne o estilo gótico medieval com estilo clássico, típico das construções brasileiras erguidas no início do século XIX e mesma junção encontrada nas antigas catedrais francesas.
A pintura decorativa que recobre quase que totalmente o interior da Capela é considerada um dos únicos exemplares de pintura mural (direta na parede), de autoria de Orestes Sercelli, preservada.
Em apreço ao valor arquitetônico da edificação e do valor artístico contido nas pinturas murais, a Capela foi tombada pelos órgãos estaduais e municipais de defesa do patrimônio: primeiro, em 1994, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), do estado de São Paulo, e, em 2002, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).
CAPELA DE PEREGRINAÇÕES
Monsenhor Jonas dos Santos Lisboa, que foi Capelão na Santa Luzia de 2014 até 2020, define a pequena igreja do centro de São Paulo como uma “Capela de Peregrinação”, já que ela costuma ser frequentada por fiéis de diferentes lugares, inclusive de fora de São Paulo.
“Há pessoas que vêm de longe para pedir graças ou agradecer a graça alcançada”, conta o Monsenhor. “Isso acontece com muita frequência, principalmente no dia 13 de cada mês e em especial em 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, quando há uma afluência de fiéis.”
Ainda segundo o Monsenhor, além dos pedidos relacionados a problemas nos olhos, feitos a Santa Luzia, muitos fiéis chegam à Capela com pedidos relacionados a necessidades da cabeça. Isso porque a pequena igreja também é conhecida por ter a imagem de Nossa Senhora da Cabeça.
“Desconheço que exista [por aqui] outra igreja em que haja esta devoção à Nossa Senhora da Cabeça e onde há uma imagem Dela. Embora a Capela seja dedicada ao Menino Jesus de Praga e Santa Luzia, se perguntarem [para os fiéis] onde fica a Igreja de Nossa Senhora da Cabeça todos informarão que é aqui”, disse o Monsenhor.
O atual Capelão, Padre Luiz Claudio, confirma que a Capela recebe diariamente muitos visitantes, não só em devoção ao Menino Jesus e a Santa Luzia, mas também a Nossa Senhora da Cabeça. “São pessoas que vêm fazer compras no centro e acabam passando para rezar ou para deixar as cabeças de cera, pedindo a intercessão de Nossa Senhora para distúrbios mentais, inclusive depressão.”
“Mesmo estando próxima da Catedral da Sé, a Capela é bastante procurada. Ela possui um público que a visita com certa regularidade”, reforça o Capelão.
O sacristão, Pedro dos Santos, 76, que chegou à comunidade em 1990, conta que em período de provas, muitos estudantes também buscam a Capela com pedidos a Nossa Senhora da Cabeça e a São Simão, que é protetor dos alunos e que compõem o acervo de imagens da comunidade. “Tem muitos que trazem cabeça de cera, outros raspam a cabeça e colocam os cabelos nos pés da Santa”, relata. “Já nos pés de São Simão, fica aquela pilha de papéis com pedidos da turma que deseja ‘passar de ano’.”
Para quem participa da comunidade, como é o caso de Neuza Maria Del Médico, 71, toda essa peregrinação de fiéis é normal e fez falta durante a pandemia. “Estou aqui há mais de 20 anos. A devoção a Santa Luzia na minha família veio com minha vó. Desde que conheci esta comunidade, não deixei mais de vir”, relata Neuza. “É uma Capela acolhedora. Eu, por exemplo, costumo ajudar no bazar e, quando não estou aqui, o pessoal pergunta por mim. É uma tradição, uma família.”
DA MISSA EM LATIM A RESTOS MORTAIS
Desde 2002, a Capela de Santa Luzia tem permissão para missas no rito extraordinário, que é a missa tridentina, rezada em latim. Elas ocorrem de quarta a sexta-feira, às 8h30, e são celebradas pelo Padre José Henrique do Carmo, que atua como colaborador da Capela.
Outra curiosidade dessa comunidade é que os restos mortais da fundadora, Anna Maria, estão sepultados ao lado do altar.
OLHAR DE PUREZA
Durante a homilia, na missa da festa de Santa Luzia, ao falar sobre a padroeira dos olhos, Dom Odilo Scherer enfatizou que “a visão é um presente de Deus que deve ser agradecido sempre” e que “deve ser usada, mas também cuidada”.
O Cardeal lembrou o ditado que diz que “os olhos são a janela da alma”, acrescentando que “o olhar traduz muito daquilo que a pessoa traz no coração. Por isso, purificar o olhar é importante”.
Dessa forma, Dom Odilo explicou que “olhar puro” significa “olhar as coisas com sentimento puro e verdadeiro, assim como as crianças, para que não seja um olhar corrompido”, seguindo o exemplo de Santa Luzia, que sempre olhou por meio da visão da fé.
“É preciso reconhecer os sinais de Deus,” recomendou o Arcebispo. “Saber reconhecer a partir da fé, da visão interior, o que Ele continua a fazer e o que quer de nós.”
Estou com 77 anos e não sabia dessa capela vou conhece-la.
Essa capela, realmente é uma benção. É tombada pelo patrimonio historico, a nossa Arquidiocese poderia dispor de uma verba para restaurar a capela.
Minha amada Santa Luzia, vou visitá -la, assim que passar pela cirurgia dos olhos. Agradeço em seu nome e em nome do nosso Senhor Jesus Cristo.🙏
Sempre frequentei essa capela. Meu filho nasceu prematuro, sobreviveu sem sequelas e foi batizado nessa igreja. É maravilhosa. Sr. Pedro é um ser humano ímpar. Que Santa Lúcia abençoe a todos nós.