Cardeal Odilo Scherer comemora 72 anos

Nesta terça-feira, 21, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, comemora seu 72º aniversário.

Natural de Cerro Largo (RS), o filho de Edwino Scherer e Francisca Wilma Steffens Scherer nasceu em 21 de setembro de 1949. Cresceu em Toledo (PR), onde foi ordenado Padre em 7 de dezembro de 1976. Está em São Paulo desde 2002, quando foi nomeado Bispo Auxiliar da Arquidiocese. Em 2007, tornou-se Arcebispo Metropolitano e Cardeal da Igreja.

Em 2019, por ocasião das comemorações dos seus 70 anos de vida, Dom Odilo compartilhou com um grupo de jornalistas um pouco daquilo que testemunhou da vida da Igreja e do mundo ao longo destas sete décadas.

Durante cerca de uma hora de conversa, o Cardeal revelou recordações, inquietações e aspirações do seu coração de pastor da maior Arquidiocese do País. 

Leia, a seguir, os principais trechos dessa conversa que foi publicada pelo O SÃO PAULO:

PRINCIPAIS RECORDAÇÕES

Eu nasci em um período ainda marcado pelo pós-guerra, em 1949. Embora fosse criança, percebia os reflexos dessa situação e aprendíamos que o mundo estava retomando fôlego depois de um grande desastre. Meus pais eram muito ligados ao trabalho da paróquia onde viviam, lá no Rio Grande do Sul. Eu fui conhecendo a vida da Igreja, pouco a pouco, por meio dos missionários do Verbo Divino que cuidavam da paróquia. Depois, com a criação da Diocese de Toledo e a chegada do Bispo [Dom Armando Círio], logo surgiu a oportunidade de entrar no seminário, com 12 anos. Nessa época, já havia sido convocado o Concílio Vaticano II. O nosso Bispo foi ao Concílio e, no intervalo das sessões, ele retornava para a Diocese e se reunia conosco para falar do Concílio e das questões da Igreja. Eu estava no antigo ginásio e acompanhava esses acontecimentos na medida do que podíamos compreender.

PÓS CONCÍLIO

No pós-Concílio, eu já realizava os estudos de Filosofia e Teologia. Era um período de movimentação na Igreja para tentar colocá-lo em prática. Havia o trabalho da CNBB de traduzir as diretrizes do Vaticano II aqui no Brasil e, na América Latina, houve a Conferência de Medellín, em 1968, com esse mesmo objetivo. Contudo, foi também um tempo de crise interna na Igreja por causa das interpretações, digamos, contraditórias do Concílio. Ainda não havia ideias claras. Era um período de bastante desorientação. Contudo, São Paulo VI buscava segurar firme a direção da interpretação do Concílio segundo a sua verdadeira proposta.

Logo que fui ordenado, o Bispo me pediu para trabalhar na formação no seminário menor. Foi um período muito bom de exercício da formação religiosa, cultural e, especialmente, humana dos seminaristas. Assim, fomos percebendo as muitas necessidades e como adequá-las às grandes demandas e diretrizes do Concílio.

Em suma, o pós-Concílio foi um período de bastante crise, em que muitos padres abandonaram o sacerdócio e muitos religiosos fizeram o mesmo em relação à vida consagrada. Não havia ideias muito claras a respeito do sacerdócio depois do Concílio. Porém, já com o Papa João Paulo II e suas viagens apostólicas, como a longa visita que fez ao Brasil em 1980, houve uma palavra forte e clara em relação à pastoral das vocações e à formação sacerdotal, que ajudou a retomar a formação com nova firmeza e discernimento.

EM ROMA

Eu passei boa parte da década de 1980 estudando em Roma. Foi uma experiência diferente e bastante dura no início. Naquela época, para fazer um telefonema era muito difícil. A viagem era muito mais cara, não havia os atuais meios de comunicação com os quais as pessoas conversam com facilidade e sem custos. Nós nos comunicávamos escrevendo cartas. Foi um tempo muito bom e denso de estudos e de percepção da universalidade da Igreja. Chegávamos a ter em uma sala de aula cerca de 40 nacionalidades diferentes. Tudo isso me enriqueceu bastante.

Depois, de 1994 a 2002, tive a oportunidade de trabalhar na Congregação para os Bispos. Era um trabalho de colaboração interna. Eu acompanhava os trabalhos do setor de língua portuguesa. Fazendo esse trabalho e acompanhando duas visitas ad limina dos bispos do Brasil e de Portugal, eu aprendi e conheci muito a Igreja do Brasil como um todo, a partir da realidade das dioceses, dos relatórios quinquenais que os bispos enviavam, por meio do acompanhamento das nomeações dos bispos. Foi um tempo de aquisição de conhecimento sobre a vida da Igreja.

EM SÃO PAULO

A Igreja na cidade de São Paulo é marcada pela cultura e pelo ambiente da metrópole. É uma Igreja viva, presente capilarmente em toda a cidade. Só na área da Arquidiocese são mais de 300 paróquias e muitas centenas de comunidades. Temos milhares de expressões organizadas da Igreja dentro e fora das paróquias, de leigos e religiosos. A Igreja não está presente somente por meio de suas estruturas mais visíveis; ela está na base e essa é sua força mais importante.

Penso que o problema principal da Igreja na cidade é a dispersão. No interior, quando toca o sino, sabemos que vai haver missa. Aqui, nem se escuta o sino em meio às milhares de vozes que chamam as pessoas. Precisamos trabalhar muito para interagir com a cidade, com as pessoas, com seus católicos. Isso tudo requer de nós, agora no processo sinodal, repensar a nossa forma de interagir com a cidade e com as pessoas concretamente. Esta é intenção do nosso sínodo: ajudar a sermos uma Igreja missionária na metrópole.

COMUNHÃO E UNIDADE

A comunhão faz parte do DNA da Igreja. É uma expressão muito concreta do amor e da percepção da fé comum. Nossa unidade se concretiza em torno da fé que professamos, da Palavra de Deus, do Magistério, em torno da Eucaristia, sacramento da comunhão nossa com Cristo e entre nós. Por outro lado, há a unidade em torno daqueles que visivelmente receberam o carisma de manter a Igreja unida e zelar para que ela não seja quebrada. Nesse sentido, a unidade em torno do Papa é fundamental, assim como a unidade em torno do bispo em cada diocese. Nós podemos ter diferenças no modo de pensar em relação a muitas coisas, gostos diferentes, culturas e visões de mundo diferentes. Porém, a base da nossa fé é comum. Existem aqueles que querem dividir a Igreja, porque, dividindo-a, deixam expostas suas fraquezas. A quebra da unidade cria sempre situações de escândalo e de ferida no Corpo de Cristo.

SONHOS E ESPERANÇAS

O primeiro desejo é manter a saúde e condições para poder trabalhar e continuar a realizar algo bom. Do ponto de vista pessoal, eu desejaria ter bastante tempo para poder me sentar, ler e escrever mais, com maturidade e discernimento, para aprender da sabedoria da história e da cultura. Os outros desejos são muito mais relacionados com a missão que exercemos. Em primeiro lugar, desejo que o sínodo arquidiocesano possa continuar bem e chegar a bom efeito para trazer uma renovação da vida da Arquidiocese de São Paulo. Eu desejo ver um Brasil melhor do que nós temos atualmente.

Quando eu era adolescente e jovem, imaginava que os problemas que o Brasil enfrentava, nos anos 1960 e 1970, logo se resolveriam e teríamos um País sem pobreza, sem violência, sem a gritante desigualdade social. Vejo que isso ainda está longe ou, talvez, esteja pior do que há 50 anos. Em todo o caso, é um desejo que tenho. Para a vida da Igreja, na qual vivemos uma série de tensões, crises e preocupações em torno da sua missão, desejo ver o renascimento das vocações sacerdotais, religiosas, ver os jovens valorizando o matrimônio e a família. Claro que esses desejos não dependem sempre das nossas possibilidades. Mas muita coisa podemos fazer para realizá-los.

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