Cardeal Scherer: ‘Recomendo a oração de todos pelo Papa falecido e pelo conclave’

Arcebispo Metropolitano concedeu entrevista à rádio 9 de Julho na qual falou sobre traços marcantes de Francisco, comentou sobre o processo de escolha de um novo Papa e recomendou aos católicos que orem pelo conclave e não se apeguem a especulações

Na véspera de embarcar para o Vaticano para acompanhar o funeral do Papa Francisco, morto na segunda-feira, 21, aos 88 anos, e para, depois, participar do conclave que elegerá um novo Papa, o Cardeal Odilo Pedro Scherer falou a rádio 9 de Julho sobre este momento da Igreja e o legado do falecido pontífice.

Na conversa por telefone com o Padre Cido Pereira e com Cidinha Fernandes, na edição do programa “Bom Dia, Povo de Deus”, de 22 de abril, Dom Odilo ressaltou que a Igreja vive o luto pela morte do Pontífice, e, simultaneamente, “um tempo de agradecimento a Deus pela vida do Papa Francisco”.

TRAÇOS PECULIARES

Dom Odilo recordou que Francisco tocou o coração da humanidade por meio de muitos gestos, bem como se valendo de uma linguagem facilmente compreensível: “Era um pastor que sabia lidar com o povo e falar ao povo. Ele se utilizava muito de imagens, comparações. Por exemplo: quando falava que a Igreja deve ser como um hospital de campo durante uma guerra, para recolher os feridos e cuidar dos que sofrem; ou quando falava ao clero que o sacerdote deve ser como o pastor que tem o cheiro das ovelhas; e mesmo agora neste Ano Santo, quando perguntavam se seriam abertas portas santas em todo o mundo, ele dizia: ‘desta vez, a porta santa é o confessionário’, ou seja, usava expressões que todo mundo entendia e que marcavam”.

Outro aspecto do falecido Papa, segundo Dom Odilo, era o bom humor: “Ele pedia a Deus todos os dias para manter o senso de humor, porque isso tornava a vida mais leve, e eu acho que vale para todos nós: não perder o bom humor, não se deixar se chatear demais pelos males da vida. Afinal, há tantas coisas boas pelas quais devemos todos os dias agradecer a Deus e acolher com gratidão e bom humor”.

REFERÊNCIA DENTRO E FORA DA IGREJA

O Arcebispo de São Paulo recordou que uma das marcas do pontificado de Francisco foi a de mostrar que a Igreja é um organismo vivo e que tudo que realiza deve desencadear processos, “isto é, uma dinâmica que continue a produzir outras iniciativas. É como o coração que impulsiona e manda sangue para todo organismo. O coração não funciona somente para si, funciona em função de organizar todo o organismo. Assim também é a Igreja. Por isso, a importância de desencadear processos que depois continuem, produzam efeitos a curto, médio e longo prazo, continuem a despertar mais iniciativas”.

Dom Odilo também lembrou que Francisco se tornou uma referência moral em todo o mundo, em razão dos firmes posicionamentos, alicerçado na fé da Igreja.

“Há um reconhecimento da autoridade moral que o Papa Francisco desempenhou e do apreço pelas suas posições claras e eticamente muito fundamentadas. Ele falava claramente contra a guerra, contra o bombardeio de inocentes, contra o massacre de crianças em situações de guerra, contra o fechamento de fronteiras, sobre os migrantes morrendo de fome ou sendo perseguidos. Quem pode ser contra isso? Quem pode discordar que o mundo precisa parar de fazer armas e se ocupar mais em produzir alimentos e medicamentos e cuidar das chagas do dia a dia em vez de ficar investindo grosso em armas de guerra?”, indagou.

NÃO ‘EMBARCAR’ EM ESPECULAÇÕES

Dom Odilo recomendou especialmente aos católicos que não se deixem levar pelos diferentes tipos de especulações sobre quem será o próximo Papa, as quais na maioria das vezes olham para a Igreja como mais uma instituição da sociedade em que há brigas pelo poder.

Nesse contexto, o Cardeal comentou que neste momento o que cabe aos católicos é viver o luto pela morte do Papa Francisco. “É até desrespeitoso, ‘em cima do caixão do Papa’, começar a falar demais sobre quem será o seu sucessor. Vamos, agora, acompanhar o velório, as despedidas ao Papa Francisco, rezar por ele, agradecer a Deus por sua vida”.

O Arcebispo recordou que após o funeral de Francisco – cujo corpo será sepultado no sábado, 26 – a Igreja iniciará o período de nove dias de oração e luto pelo Papa falecido ­­– “Novendiali” – enquanto se prepara para dar início ao conclave.

“Nesse período, nós rezamos, pedimos ao Espírito Santo, pedimos a Deus que nos ilumine e que nos inspire. E todos devem fazê-lo com espírito de fé e oração e não se deixar levar pelos cálculos políticos, pelas especulações e listas de candidatos. Portanto, vamos acompanhar com fé e abertura de coração o conclave e as surpresas de Deus. Essas especulações acabam trazendo critérios que não são exatamente os do bem da Igreja, mas critérios políticos e até ideológicos”, observou.

CONGREGAÇÕES GERAIS

Dom Odilo explicou que antes que seja iniciado o conclave para a escolha do novo Papa, serão realizadas as congregações gerais, reuniões das quais podem participar todos os cardeais, incluindo os não eleitores (aqueles com 80 anos ou mais).

“Nas congregações gerais, se faz um balanço, uma avaliação sobre a situação da Igreja, dos problemas que temos e, também, das coisas boas que têm de ser incentivadas. Faz-se como que uma pauta sobre aquilo que o próximo Pontífice deverá encarar. E assim, de alguma forma, já se traça a identidade de como deve ser o Papa. Portanto, é muito importante este momento das reflexões sobre a vida da Igreja e depois o conclave. Acompanhemos com profunda fé”, exortou.

‘ONDE ESTÁ PEDRO, AÍ ESTÁ A IGREJA’

O Arcebispo de São Paulo também ressaltou que independentemente de quem for o cardeal eleito Papa, é importante que todos na Igreja reconheçam-no como a autoridade, o legítimo sucessor de Pedro.  

“Onde está Pedro, aí está a Igreja. A Igreja Católica está com Pedro, está com o Sucessor de Pedro, hoje com o que faleceu e, depois, com o que será escolhido. E isso não é uma questão de simpatia, de gosto. É uma questão de fé. Uma vez escolhido legitimamente, ele é o Sucessor de Pedro, ele recebe o carisma, a graça de Deus confirmada pela ação da Igreja para governá-la. Portanto, recomendo a oração de todos nestes dias pelo Papa falecido e pelo conclave”.

DUAS RECOMENDAÇÕES

Na parte conclusiva da entrevista, Dom Odilo fez duas recomendações aos fiéis na Arquidiocese de São Paulo. A primeira é de que busquem se informar sobre as congregações gerais e o conclave preferencialmente pelas mídias do Vaticano e as da Arquidiocese de São Paulo, que são fontes credíveis.

Outro pedido de Dom Odilo é que todos se mantenham engajados para a realização da Romaria Arquidiocesana a Aparecida, em 4 de maio, que será ainda mais especial neste Ano Jubilar: “Convido todo o povo! Mantenham as suas romarias, os ônibus, convidem mais gente para participar. Não estarei, mas um dos bispos auxiliares vai presidir a missa da Romaria da Arquidiocese de São Paulo lá na basílica de Aparecida. Que Nossa Senhora Aparecida interceda por todos. Certamente, será um momento forte também de a Arquidiocese se unir a oração pela Igreja e pelo conclave”.