Criado com o foco na educação de meninos, instituição de ensino hoje também é referência para estudantes estrangeiros
O Colégio de São Bento chegou aos 120 anos de história em março. Instalado no conhecido Mosteiro de São Bento, construiu sua própria trajetória ao longo das décadas.
“São estruturas totalmente diferentes. Não existe uma interferência da comunidade monástica no colégio. São coisas que caminham de maneira independente”, afirmou ao O SÃO PAULO Daniel Paulo de Souza, diretor geral e pedagógico da instituição, que se localiza no Largo São Bento, no centro histórico da capital paulista, a poucos passos da estação de metrô de mesmo nome.
HISTÓRIA
Fundado em 21 de março de 1903 como Ginásio de São Bento, pelo Abade Dom Miguel Kruse, o Colégio voltava-se exclusivamente à educação de meninos. Posteriormente, tornou-se internato. A partir da década de 1970, abriu suas portas para a educação de meninas.
“O Abade pretendia montar um colégio para a elite paulistana. Um colégio nascido do coração desse visionário, dessa missão beneditina voltada à educação e preocupação com a formação educacional da sociedade”, comenta Souza.
Fatos históricos do Brasil e do mundo também se juntam à trajetória do Colégio, afinal, nestes 120 anos, a humanidade vivenciou, por exemplo, a Gripe Espanhola, em 1918, considerada uma das pandemias mais devastadoras; e a COVID-19, desde 2020.
“Na Gripe Espanhola, assim como o Mosteiro, o Colégio abriu as portas para as pessoas acometidas pela doença, mas que os hospitais não estavam dando vasão à época. Macas foram colocadas nos alojamentos dos internos”, relata Souza.
Na Revolução Paulista de 1924, o Mosteiro de São Bento se tornou alvo. Há marcas de tiro na lateral do prédio. “Temos uma foto de refugiados da Revolução de 24 aqui no pátio do Colégio”, diz Souza.
O Colégio recebeu ainda o Papa Bento XVI, em sua única visita ao Brasil, em 2007. Na ocasião o Pontífice ficou hospedado no Mosteiro.
“Há uma foto dele na frente da secretaria, naquele vidro blindado na varanda quando ele saía para dar benção à multidão que ficava aqui no Largo”, recorda o diretor geral.
ESTUDANTES DE ONTEM E DE HOJE
Entre as personalidades ilustres que se formaram no Colégio, há nomes como o poeta e escritor Oswald de Andrade, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o ator Raul Cortez, o poeta e tradutor Haroldo de Campos, o jornalista Jorge da Cunha Lima e o jurista e ex-governador de São Paulo Franco Montoro.
“Raul Cortez e Jorge da Cunha eram contemporâneos. Ambos nasceram em 1931, e ingressaram no São Bento em 1945. Franco Montoro, além de aluno, foi professor aqui. Formamos ainda alunos que entraram para a vida religiosa”, conta Souza.
Atualmente com 330 estudantes matriculados, o Colégio atende filhos de comerciantes do centro e de localidades próximas.
“Temos ainda os que vem de longe. São filhos de funcionários, professores e, também, de trabalhadores da região”, diz Souza.
Há quase duas décadas, o Colégio se tornou referência para alunos estrangeiros.
“Temos uma forte comunidade andina, em especial de peruanos, e chineses. Do total de nossos estudantes, 30% são chineses. Até por isso, temos uma secretaria chinesa para atender esse público”, acrescenta.
DIFERENCIAIS DE ENSINO
O Colégio de São Bento atende desde a Educação Infantil, a partir dos 3 anos de idade, ao Ensino Médio. Funciona em tempo integral e mantém uma única sala por série.
“As aulas com a grade regular ocorrem pela manhã. À tarde, são oferecidos cursos extracurriculares. Há disciplinas optativas, como teatro, dança, línguas, entre elas, o mandarim”, explica Souza.
Na grade obrigatória está a disciplina de ensino religioso. “Somos uma escola católica confessional, não podemos fugir dessa premissa. Mas recebemos alunos de todas as denominações religiosas”, frisa Souza.
E embora os alunos que professam outras religiões não sejam obrigados a participar das celebrações propostas, os pais, desde o primeiro momento, sabem da identidade católica do Colégio.
“Nosso foco não é obrigar o aluno a se tornar católico, mas, sim, ensiná-lo sobre o respeito à diversidade”, assegura Souza. “Agimos de acordo com os principais valores do Colégio e da comunidade beneditina, que são: tolerância, respeito, fraternidade, obediência e solidariedade”, complementa.
Thiago Rocha Roque, professor de ensino religioso, destaca que o Colégio permite aos alunos e aos professores encontrar algo que vai além do saber e do conhecimento transmitido na escola.
“Você pode encontrar espiritualidade, amizade, fraternidade. Essa comunhão que a fé cristã nos passa é vista nos professores que se ajudam e que se importam com os alunos”, diz Roque. “Vivemos ainda a diversidade no Colégio, tanto de nacionalidades quanto de diferentes religiões e culturas”, assegura.
‘TRADICIONAL, MAS NÃO PARADO NO TEMPO’
Para Souza, a tradição, a presença beneditina e a capacidade de adaptação às mudanças são algumas das razões que ajudam a explicar a longevidade do Colégio: “Ele é tradicional, mas não parado no tempo. Estamos sempre aderindo as novas tecnologias. Usamos, por exemplo, um aplicativo para nos manter em contato com os pais”, pontua.
Para Patrícia Aparecida Benedicto e Silva, coordenadora pedagógica, o que também ajuda a manter o Colégio é a tradição do ensino.
“Muitas famílias nos buscam por conta dos valores mais tradicionais. Acredito que nossa equipe consegue fazer um bom trabalho de acolhida e acompanhamento também nas questões emocionais”, avalia Patrícia. “As famílias buscam auxílio na educação de questões latentes dos dias de hoje, como a navegação na internet. Penso que o Colégio se mantém pelo olhar fraterno a questões que antes ficava restrito a elas”, acrescenta.
Patrícia também destaca a relação mantida pela instituição com os alunos e os pais: “Os alunos são reconhecidos por nome. Eles também nos conhecem. Tanto os pais quanto os estudantes têm acesso a toda equipe. Esse elo e aproximação gera confiança mútua e é fundamental para o colégio se manter”.
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