No Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, o Papa Francisco exorta que sejam valorizados em sua dignidade. Exemplos da família Moura e da senhora Maria Alda são inspiradores.
Angélica Gonçalves Moura e José Possidino Moura se conheceram ainda jovens. Ela com 15 anos, ele com 18. Em 1975, casaram-se, tiveram quatro filhos. De Paranapanema (SP), vieram morar na capital paulista, vivendo as alegrias e tristezas comuns a muitas famílias brasileiras.
Em agosto de 2023, um fato pôs à prova a união desta família católica: José Possidino, hoje com 78 anos, ficou paraplégico após um acidente doméstico.
“No começo, passamos muitas noites em claro, porque ele pouco dormia, tinha dores abdominais, mas, ao longo dos meses, as dores foram diminuindo e nos organizamos com os filhos e os cunhados para cuidar dele”, recorda Angélica, 75.
Amélia Moura, uma das filhas do casal, conta como a família tem se esforçado para amparar o pai e a mãe nesta fase da vida. “Durante o dia, cuidamos de sua higiene e bem-estar, enquanto vamos fazendo os afazeres de casa. Temos tido que nos deslocar três vezes por semana para levá-lo à fisioterapia, psicologia e equipes multiprofissionais. Minha mãe demorou um tempo para assimilar a nova realidade”, detalhou ao O SÃO PAULO.
‘NA VELHICE, NÃO ME ABANDONES’
O testemunho da família Moura (foto) está em sintonia com o pedido que o Papa Francisco faz a todos os cristãos e pessoas de boa vontade na mensagem para o IV Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, celebrado em toda a Igreja no domingo, 28, com o tema “Na velhice, não me abandones” (Sl 71,9), propondo uma ampla reflexão sobre a rejeição que a sociedade faz aos idosos.
“A solidão e o descarte dos idosos não são casuais nem inevitáveis, mas fruto de opções – políticas, econômicas, sociais e pessoais – que não reconhecem a dignidade infinita de cada pessoa, ‘para além de toda a circunstância e em qualquer estado ou situação que se encontre’ (declaração Dignitas infinita 1). Isso acontece quando se perde de vista o valor de cada pessoa, tornando-se ela apenas uma despesa que, em alguns casos, aparece demasiado elevada para pagar”, prossegue Francisco.
Na conclusão da mensagem, o Papa pede que as pessoas jamais deixem de mostrar ternura aos avós e aos idosos “das nossas famílias; visitemos aqueles que estão desanimados e já não esperam que seja possível um futuro diferente. À atitude egoísta que leva ao descarte e à solidão, contraponhamos com o coração aberto e o rosto radioso de quem tem a coragem de dizer ‘não te abandonarei!’ e de seguir um caminho diferente”.
SÃO JOAQUIM E SANT’ANA
Angélica e José Possidino sempre foram devotos de São Joaquim e Sant’Ana. Na Bíblia, não há referências precisas sobre os avós de Jesus, mas alguns textos apócrifos e a tradição contam que vieram a ter filhos apenas 20 anos após se casarem e diante de insistentes orações a Deus.
A Igreja reconhece que o casal é modelo para a transmissão da fé às novas gerações, como afirmou o Papa Francisco na oração do Angelus, em 26 de julho de 2013, no Rio de Janeiro, durante viagem apostólica ao Brasil: “São Joaquim e Sant’Ana fazem parte de uma longa corrente que transmitiu a fé e o amor a Deus, no calor da família, até Maria, que acolheu em seu seio o Filho de Deus e o ofereceu ao mundo, ofereceu-o a nós. Vemos aqui o valor precioso da família como lugar privilegiado para transmitir a fé”.
Em 2021, ao anunciar a instituição do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, Francisco indicou que o exemplo de São Joaquim e Sant’Ana recordam a todos “que a velhice é um dom e que os avós são o elo entre as diferentes gerações, para transmitir aos jovens a experiência de vida e de fé”.
A festa de Sant’Ana foi incluída no Breviário romano em 1481 pelo Papa Sisto IV, para a data de 26 de julho. Em 1584, o Papa Gregório XIII ampliou a celebração litúrgica de Sant’Ana para toda a Igreja ao incluí-la no Missal Romano. Após a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, em 1969, os pais da Virgem Maria passaram a ser celebrados conjuntamente na referida data.