Adeptos desses meios de transportes falam sobre as vantagens e os desafios de suas escolhas
Optar por um meio de transporte menos poluente é uma contribuição ao meio ambiente, já que isso significa reduzir as emissões de CO2 (gás carbônico). Além disso, diante dos altos preços da gasolina, trocar um veículo a combustão por outro mais sustentável pode render também alguma economia de dinheiro, conforme relataram três pessoas ouvidas pelo O SÃO PAULO e que fazem uso regularmente desses veículos.
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JOAB E SUA BIKE
Em 2011, o analista contábil Joab Marques, 41, trocou o carro e o transporte público por uma bicicleta. Morador de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, ele passou a pedalar 60km por dia, entre sua casa e o trabalho, na época na Vila Olímpia, na capital paulista.
“Trabalhei 20 anos na área financeira, sempre na cidade de São Paulo. Ficava muito tempo dentro do transporte público ou dentro do meu carro. Dependendo do trânsito, gastava cerca de três horas para ir, e outras três horas para voltar”, relata.
Com a sua bike, Marques reduziu drasticamente o tempo de deslocamento: “No início, demorava cerca de duas horas só na ida. Mas logo fui treinando o trajeto, meu corpo foi se acostumando e passei a gastar no máximo uma hora e 15 minutos no percurso”.
Ele também relata os benefícios para sua saúde com o uso desse meio de transporte: “Ao pedalar, estou me exercitando também, o que me dá condicionamento. Além disso, eu me estresso menos no trajeto e ainda conheço pessoas por causa da bike”.
Optar pela bicicleta também rendeu ao Joab Marques economia financeira. “Quando eu ia trabalhar de carro, gastava com gasolina e estacionamento. Quando usava o transporte público, gastava muito porque tinha que utilizar mais de um ônibus e metrô para chegar ao trabalho”, conta.
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INSEGURANÇA
Para Marques, a principal desvantagem de adotar esse meio de transporte está na insegurança das vias públicas da cidade. “Há um desrespeito muito grande com os ciclistas por parte dos demais condutores, como os motoristas de ônibus e os motoboys”, lamenta.
Perigo que, segundo ele, é intensificado nas vias em que não há ciclovias ou ciclofaixas. “Mesmo com os avanços ao longo de todos estes anos, em que a malha viária de ciclovia aumentou, há muitos trechos sem. Falta interligação entre as cidades”, comenta.
Pedalando, Marques já sofreu quatro acidentes, nenhum com gravidade: “Em todos, fui atropelado e só em um deles, o motorista ficou para me ajudar, porque os pedestres o impediram de deixar o local”.
Desde 2021, Joab Marques se dedica ainda mais ao ciclismo, participando de campeonatos e dando aulas de assessoria de ciclismo. Em suas redes sociais, ele compartilha dicas e detalhes das viagens longas que faz sobre duas rodas, como uma realizada em 2020, de Guarulhos a Araçagi, na Paraíba. “Pedalei mais de 3 mil km, durante 14 dias, para visitar a cidade natal da minha mãe [que faleceu meses antes]. Foi emocionante. Recebi muito apoio, inclusive financeiro, durante meu trajeto”, recordou.
ANDERSON E O EQUILÍBRIO SOBRE UMA RODA
Há quatro anos, o professor de capoeira Anderson Rodrigues, 42, adquiriu um monociclo elétrico – veículo que possui apenas uma roda e não tem guidão.
Desde então, Rodrigues, morador da Freguesia do Ó, na zona Norte, reduziu o uso da motocicleta em sua rotina e passou a utilizar com mais frequência o monociclo para os deslocamentos que faz para dar aulas por diferentes bairros e regiões da cidade.
“É um dos meus principais meios de transporte. Neste momento, estou usando um pouco menos para ir trabalhar do que usei nos últimos anos, porque estou com mais aulas, o que reduziu o intervalo que tenho para chegar de uma escola a outra”, conta.
Rodrigues diz que está se organizando financeiramente para comprar outro monociclo elétrico com maior autonomia. Seu modelo atual atinge a velocidade máxima de 30 km/h e permite percorrer uma distância de até 30km, dependendo das condições do percurso. Contudo, mesmo que a bateria não seja totalmente consumida durante o percurso, há a necessidade de recarregá-la para melhor desempenho do equipamento.
“Se a bateria estiver com menos de 40% da carga, automaticamente, o monociclo vai andar mais devagar. Como o meu chega a 30 km/h, quando a bateria está em 50%, tenho que andar a 20 km/h”, explica. “Já com um monociclo que tem a autonomia de 100km, por exemplo, como a bateria é mais forte, é possível manter uma boa velocidade e andar cerca de dois dias sem se preocupar com a recarga.”
Rodrigues diz ainda que usa o monociclo todos os dias para se deslocar pelo bairro em que mora, percorrendo distâncias de 5km até 7km. “Para locais mais distantes, uso quando tenho um tempo maior entre os compromissos, até porque me traz economia de combustível, não polui, além de ser uma maneira divertida de locomoção”, comenta.
“Às sextas-feiras, por exemplo, consigo ir trabalhar de monociclo porque só dou aula no Ibirapuera, na zona Sul”, diz. “Se for preciso economizar a bateria para a volta, eu pego um ônibus até a Avenida Paulista e sigo nele depois”, acrescenta Anderson Rodrigues, explicando que o equipamento possui uma alça que auxilia no transporte quando não está em uso.
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VALE A PENA TER UM CARRO ELÉTRICO, LINDOMAR?
O carro elétrico também é um meio de transporte que contribui para reduzir a emissão de poluentes, sobretudo os modelos 100% elétricos, que não possuem motores a combustão.
Para o piloto de acrobacia (precision driver) Lindomar Costa, 55, trata-se de uma opção segura diante do trânsito de São Paulo.
“A maioria desses carros são equipados com direção autônoma, controle de estabilidade, freio ABS de fábrica, frenagem autônoma, leitura de faixa e acendimento de farol”, lista Costa, que atua testando a performance de modelos de carros 100% elétricos e elétricos híbridos – que têm um motor de combustão, um motor elétrico e uma bateria – de diferentes montadoras.
“Hoje já é possível recarregar a bateria dos carros elétricos em postos de combustíveis, shoppings, concessionárias, supermercados e pontos espalhados pelas estradas também”, comenta.
De acordo com Lindomar Costa, entre os modelos disponíveis, há carros elétricos híbridos que chegam a ter autonomia de mais de 1.000km, configurado o motor a combustão, mais a parte elétrica. E já existem carros 100% elétricos que garantem autonomia de até 400km.
Ele frisa ainda que “todo modelo tem a opção Eco, de Economia. Basta configurá-la para que seja feita uma regeneração mais rápida, mais forte ou menos forte da bateria. Assim, ao transitar com o carro, toda vez que se tira o pé do acelerador, ele recarrega a bateria”.
Trata-se, também, de uma escolha mais econômica e não apenas por não precisar de combustível: “O carro 100% elétrico não demanda manutenção periódica e constante de troca de óleo, filtro de combustível, correia dentada, pois não tem nada disso.”
Apesar de todas essas vantagens, os altos preços de mercado dos carros elétricos ainda faz com que sejam inviáveis para a maioria das pessoas. “Hoje, um carro elétrico com autonomia maior precisa ter uma bateria maior. E quanto maior a bateria, mais caro ele fica”, explica Costa.