Nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo pelo Papa Francisco no dia 8, o Monsenhor Ângelo Ademir Mezzari acolheu com alegria e esperança a nova missão confiada pela Igreja, consciente da responsabilidade de ser um dos sucessores dos apóstolos.
Religioso da Congregação dos Rogacionistas do Coração de Jesus e, até então, Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, em Bauru (SP), o Bispo eleito concedeu uma entrevista, por telefone, ao O SÃO PAULO. Ele relatou como recebeu a notícia da nomeação, suas expectativas e o grande carinho que tem pela cidade de São Paulo, onde se formou e atuou pastoralmente por mais de 20 anos.
Nascido em 1957 em Sanga do Engenho, município de Nova Veneza, atualmente Forquilhinha (SC), Monsenhor Ângelo foi ordenado sacerdote em 1984. Em seu ministério, atuou sobretudo na Pastoral Vocacional, na área da Comunicação e na promoção da caridade, especialmente nas periferias. “Espero que a experiência vivida nesta cidade como religioso e sacerdote possa contribuir, de alguma forma, para o meu serviço como Bispo Auxiliar, colaborando com o Arcebispo”, afirmou o novo Bispo. Leia a entrevista:
O SÃO PAULO – Como o senhor recebeu a notícia da nomeação episcopal? Monsenhor
Ângelo Ademir Mezzari – O então Núncio Apostólico do Brasil [Dom Giovanni d’Aniello] me telefonou informando que eu havia sido escolhido pelo Papa Francisco para ser Bispo Auxiliar de São Paulo. Foi uma grande surpresa. No momento, fiquei até sem palavras, pois é algo que não se espera. Pedi um tempo para rezar e refletir, e três dias depois dei o meu “sim”. Ao mesmo tempo que me surpreendi com a notícia, é uma ocasião para abrir o coração e acolher este dom, este chamado de Deus. Também me acende de alegria e esperança a confiança que a Igreja deposita em minha pessoa, confiando-me essa nova missão, esse novo serviço.
Com sua grande experiência na Pastoral Vocacional, como o senhor explica essa vocação dos bispos?
De fato, é um grande mistério de Deus. Nós sentimos um chamado para a consagração religiosa e para o sacerdócio, a Igreja propõe um caminho vocacional e formativo, aceita e acolhe o vocacionado por meio de seus superiores. Portanto, nós vamos nos preparando e alimentando o sonho de nos tornar religiosos e sacerdotes. Já no episcopado é completamente diferente. É a Igreja, por meio do sucessor de Pedro, que escolhe entre os seus presbíteros aqueles que podem exercer e viver esse dom específico. Não se trata apenas de uma função, mas, sim, de uma identidade, um estado de vida, uma graça que só a Igreja pode conferir pela ação do Espírito Santo. Por isso que digo que é um mistério divino, revelado aos cristãos desde os primeiros séculos.
Como o senhor se sente em participar dessa dimensão da missão da Igreja?
É uma grande graça poder integrar o colégio episcopal, que tem à sua frente o Papa, Bispo de Roma, e que, por meio da imposição das mãos do bispo ordenante, serei consagrado bispo. Essa é a sucessão dos apóstolos, da qual farei parte, e isso mexe bastante com o nosso coração e o nosso ser. Antes de tudo, estou vivendo isso como um grande chamado à santificação pessoal. Em primeiro lugar, desejo viver pessoalmente esta graça que transforma a minha vida, muda a minha existência e me coloca em movimento, faz com que eu me doe ainda mais por causa de Jesus Cristo e seu Evangelho, a serviço do Reino de Deus.
O bispo deve ter as características do Bom Pastor: apascentar, santificar e ensinar o rebanho. Então, na Igreja, desejo ser um bom pastor, colaborando com aqueles que são as nossas referências: o Papa Francisco, na Igreja Universal e, na Arquidiocese, o nosso pastor, Dom Odilo, unido aos demais bispos auxiliares.
Tive a graça de me encontrar em algumas ocasiões com o Papa Francisco, em Roma, quando eu era Superior-Geral da Congregação [dos Rogacionistas], entre 2010 e 2016. Fico feliz em saber que ele, por meio da Igreja, me chama para ser mais um dos sucessores dos 12 apóstolos.
O senhor já viveu e trabalhou em São Paulo. Como define esta cidade?
Eu fiz toda a minha formação em São Paulo. Estudei Filosofia na antiga Faculdade Nossa Senhora Medianeira, dos Jesuítas, na Avenida Paulista, cursei Teologia no Instituto Teológico Pio XI, no Alto da Lapa. Depois de trabalhar cinco anos em Curitiba (PR), fui eleito Conselheiro Provincial e vim trabalhar na formação, permanecendo cerca de 20 anos em várias missões na capital paulista, sobretudo na periferia da zona Oeste. É uma realidade que conheci e na qual, de certo modo, me integrei bastante, nas suas relações eclesiais e sociais. Certamente a cidade mudou e a Igreja vai avançando a sua caminhada. São tantos outros novos desafios que surgem. Espero, no entanto, que a experiência vivida nesta cidade como religioso e sacerdote possa contribuir de alguma forma para o meu serviço como Bispo Auxiliar, colaborando com o Arcebispo, nas funções para as quais serei designado.
Como seus paroquianos reagiram à nomeação?
O povo manifestou alegria pela graça que a Igreja concede ao seu Pároco e o chamado que me é feito, com toda a responsabilidade da qual isso decorre. É claro, porém, que também manifestaram certa tristeza por minha partida. É uma paróquia bastante grande, muito viva, ativa, tem uma longa história. Meu coração também sente em deixar essa comunidade que aprendi a amar nesses três anos e meio que estive aqui. Ao mesmo tempo, sinto muito a oração, o apoio e o incentivo das pessoas. Em breve, a nossa Congregação enviará um novo pároco para se somar aos outros três sacerdotes que aqui atuam. Portanto, levarei comigo a esperança e a saudade.
O que o senhor gostaria de dizer ao povo de Deus que está em São Paulo?
Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer a acolhida muito fraterna de Dom Odilo e dos bispos auxiliares. Saúdo o clero, os seminaristas, religiosos e religiosas e todos os fiéis leigos. Eu aprendi a amar muito São Paulo e sua população. Sei que a Arquidiocese vive este caminho sinodal e desejo entrar nele, buscando conhecer e me informar sobre o sínodo. Quero, com todos, ser mais uma testemunha de que Deus habita esta cidade.
Sei o quanto a Igreja é uma força nesta cidade na defesa da vida e da dignidade humana, por meio do diálogo intercultural e inter-religioso. É uma presença profética. Reitero que desejo ser um pastor conforme o coração de Cristo, correspondendo à missão que a Igreja me confia.