Educomunicação é uma área do conhecimento e atuação que reúne dois campos: a comunicação e a educação. Ao falarmos de educação, em geral o pensamento se desloca para a escola, a educação formal. A comunicação é processo de relacionamento entre as pessoas, seja ela presencial ou mediada por tecnologias, mas não se reduz ao uso de tecnologias.
A Educomunicação – educar para a comunicação – tem sua origem e matriz na comunicação popular muito praticada pela Igreja Católica e demais igrejas cristãs nas décadas de 1970-1980, com vistas à capacitação para produção de pequenos jornais, boletins, programas de rádio, vídeo popular e a leitura crítica dos meios de comunicação.
Uma das referências a quem devemos o conceito de que cada comunicador deveria ser um educador é o argentino Mário Kaplún. Para ele, a comunicação é um processo educativo independentemente do lugar onde é realizada, seja escola, seja pela mídia, uma vez que “mais do que pensar a comunicação educativa como espaço específico, há de se pensar o caráter educativo de toda a comunicação”.
Olhar educomunicativo no Diretório
A expressão Pastoral da Comunicação (Pascom) também nasce de duas realidades que interagem reciprocamente: comunicação e pastoral. O Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil tem um olhar educomunicativo ao afirmar que a Pascom “é a presença e ação da Igreja nos ambientes comunicacionais. Sua atuação se estabelece a partir de ações próprias no campo da comunicação com sentido pastoral e evangelizador”. E acrescenta algumas características em sintonia com a Educomunicação: “É a pastoral do ser e do estar em comunhão com toda a comunidade eclesial, garantindo a acolhida e a participação, a organização solidária e a gestão democrática dos processos comunicacionais” (Doc. 99, 2023, n. 323, p.179).
Alguns pressupostos estão presentes na reflexão e prática da Educomunicação, como o processo da comunicação dialógica e participativa, a escuta, a gestão compartilhada e o compromisso com a transformação da realidade, tendo o ser humano como sujeito dos processos comunicacionais. Um aspecto central é o ser humano enquanto sujeito do processo, qualificado como “sujeito eclesial” (Doc. 99, 2023, n.326, p.181). Outro aspecto é a interface com diversas áreas do conhecimento e da prática pastoral como saúde, meio ambiente e as diferentes pastorais, sempre em diálogo com a comunicação.
A catequese é uma das áreas pastorais que requer conhecimento não só do conteúdo, mas dos processos da comunicação, a compreensão dos mecanismos da mídia para acompanhar criticamente as produções, na apropriação das diferentes linguagens, e, sobretudo das mudanças na percepção da fé, os novos hábitos que a cultura digital provoca no ser humano.
Nesse sentido, o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil recomenda que “os catequistas e outros animadores pastorais considerem os desafios presentes na cultura midiática contemporânea” (Doc. 99, 2023, n.95, p.66), já que muitas vezes tal cultura contradiz os princípios da fé cristã.
Educar para a comunicação
O Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (Doc. 99, 2023, p. 159-173), dedica o capítulo IX ao tema “Educar para a comunicação”. A primeira recomendação é que a Igreja promova formação sistemática para a comunicação a todas as lideranças, iniciando “pelos bispos, presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas, lideranças leigas e comunidades”.
O objetivo dessa formação vai além do simples domínio da técnica e envolve a compreensão das relações da comunicação com a sociedade e o papel da mídia no mundo contemporâneo, bem como as relações de comunicação no interno da comunidade eclesial, ou seja, a comunicação nas pastorais e entre as pastorais. Esta formação favorecerá também políticas e ações eficazes na prática evangelizadora das diversas pastorais, para o diálogo com a comunidade e a sociedade.
As metas em relação à educação para a comunicação são claras:
1) Promover a formação para os processos dialógicos de relacionamento, ou seja, educar-nos para a abertura e a consideração com o outro, ao exercício da missão de forma participativa e colaborativa, sem impor, mas propondo, conforme a prática de Jesus.
2) Favorecer procedimentos de análise crítica frente aos meios de comunicação, tendo elementos para a análise de tudo o que é veiculado e acessado, tanto na mídia aberta quanto nas redes sociais e grupos. O espírito crítico também confronta as mensagens recebidas com os ensinamentos do Evangelho.
3) Oferecer formação para o uso adequado dos recursos da informação a serviço do bem comum. A capacitação favorece o aprendizado para o uso dos recursos disponíveis e necessários para a comunicação nas comunidades, bem como a formação para o trabalho em equipe, na gestão dialógica e participativa.
4) Incentivar práticas de comunicação que gerem incidência e transformação social. Trabalhando a comunicação a partir dos valores humanos, cristãos e cidadãos, é possível promover ações que incluam o compromisso social da Igreja, a inclusão, de acordo com as realidades locais.
Um estilo de vida
A Educação para a comunicação abrange diferentes âmbitos em que é preciso ter presente para trabalhar como a família, escola, comunidade, política, profissional, pastoral, da recepção midiática e do letramento digital (cf. Doc. 99, p.163).
Para que a Educomunicação responda às realidades contemporâneas, ela necessita de uma metodologia integrada, ou seja, formar pessoas capazes de pensar, produzir, compartilhar, conviver. Esta é a metodologia adotada pelo Sepac Paulinas (Serviço à Pastoral da Comunicação), que tem o ser humano como sujeito do processo comunicacional e se alinha aos princípios e valores de capacitar agentes culturais e sociais na área da comunicação, qualificando a atuação profissional, cultural e pastoral, na totalidade do ser humano.
A competência neste campo é uma exigência que, aliada ao compromisso cristão e aos valores da cidadania, torna a comunicação mais eficaz. Essa metodologia tem como eixo central a comunicação como processo integrado que inclui a reflexão, a ação e o relacionamento, de forma articulada. Trata-se de uma formação para ser e atuar, focando o ser humano como sujeito em sua interação e convivência na sociedade, com as tecnologias e ambiente comunicativo. Mais do que técnicas, a Educomunicação torna-se um modo de ser e atuar, um estilo de vida.