Nesta Oitava da Páscoa da Ressurreição de Jesus, publicamos abaixo o artigo do Padre Roberto Carlos Queiroz Moura, Coordenador Arquidiocesano de Pastoral.

A PÁSCOA: MISTÉRIO DE PASSAGEM E REDENÇÃO
A Páscoa é, por excelência, a grande epifania do Deus, que intervém na história para conduzir o seu povo da escravidão para a liberdade. Ela é a expressão suprema do “passar” de Deus – um êxodo contínuo – em direção ao ser humano ferido, caído, mas amado. Desde a aurora da criação até à plenitude dos tempos na Redenção, a experiência pascal se delineia como fio condutor da ação salvífica divina: da queda original de Adão ao surgimento de uma nova criação no Cristo Ressuscitado.
No coração da fé de Israel, está o Êxodo: evento fundante que revela um Deus que escuta, compadece e age. Ao libertar seu povo do jugo opressor do Egito, conduzindo-o por meio de Moisés em direção à Terra da Promessa, Deus se revela como Aquele que caminha com os seus. Antes da libertação, porém, Ele institui o memorial – a Páscoa hebraica – como sinal e sacramento da aliança. A ceia pascal, com o cordeiro imolado, as ervas amargas e o pão ázimo, tornava presente, ano após ano, a fidelidade divina (cf. Ex 12,7-8). Era, portanto, mais do que uma recordação: era atualização viva da salvação.
É neste contexto que Jesus, na véspera de sua Paixão, deseja ardentemente celebrar a Páscoa com os seus discípulos. Ele se insere no memorial do povo judeu para transformá-lo, por sua entrega total, no Mistério Pascal definitivo. A sua morte não é mero fim, mas passagem: da vida entregue à vida glorificada, da obediência à exaltação, da cruz à ressurreição. Aqui se inaugura o novo e eterno Êxodo.
O Mistério Pascal de Cristo – sua Paixão, Morte e Ressurreição – torna-se o ato central e definitivo da fé cristã. Nele, a ação criadora de Deus se revela em sua plenitude: em Cristo, o Pai reconcilia o mundo consigo, instaurando o germe do Reino que será consumado no fim dos tempos. Ao ressuscitar o Filho, Deus antecipa na história o destino escatológico da humanidade: a vitória da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado.
A espiritualidade pascal nos convida a contemplar este dinamismo de passagem: do antigo ao novo, da escravidão à liberdade, da morte à vida. A Ressurreição de Cristo é o novo Gênesis, em que a humanidade é reintegrada ao Paraíso, pois a culpa soberba de Adão é vencida pela obediência amorosa do novo Adão. A cruz, outrora instrumento de suplício, torna-se trono da glória e sinal da nova criação.
Os evangelhos sinópticos ressaltam que a trajetória de Jesus, entre o batismo no Jordão e a subida a Jerusalém, é uma contínua preparação para o seu próprio Êxodo. Em Jerusalém, Ele consuma a Páscoa com a entrega total de si, cumprindo e superando o antigo memorial. A libertação prometida no Antigo Testamento encontra sua plenitude na pessoa e missão do Cristo.
Celebrar a Páscoa é, portanto, entrar no mistério de Deus que salva, é participar do memorial vivo de sua entrega, é permitir que nossa existência seja moldada pela lógica do dom e da graça. “Fazei isto em memória de mim” (cf. 1Cor 11,23-26) não é apenas uma ordem ritual, mas um chamado à conversão contínua, à transformação pascal de nossa vida.
A Páscoa é o fulcro do Ano Litúrgico, o coração pulsante da vida eclesial. Nela, celebramos não apenas um acontecimento passado, mas a atualização da obra redentora e a glorificação do Pai pelo Filho. Em Cristo ressuscitado, a humanidade encontra sua verdadeira vocação: viver a vida em plenitude.
Aproximemo-nos, pois, deste Mistério sublime com reverência e fé. Nele, o passado é redimido, o presente é santificado e o futuro é iluminado pela esperança. Celebremos o Ressuscitado que, ao vencer a morte, nos abre as portas da Vida eterna.
Maravilhoso!
Amém!