Debater como o jornalismo e a literatura católica podem estar a serviço da evangelização foi a proposta de uma live promovida pelo jornal O SÃO PAULO na ExpoCatólica, na tarde da sexta-feira, 4, no estande do Vicariato Episcopal para a Pastoral da Comunicação.

A mediação foi do jornalista Daniel Gomes, redator-chefe do O SÃO PAULO. Ele recordou o fato de o jornal estar no 70ª ano de circulação, com mais de 3,5 mil edições publicadas.
“A cada edição, nós fazemos aquilo que o Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta idealizou ao criar o jornal em 25 de janeiro de 1956. Ele queria que o O SÃO PAULO fosse sempre a boa imprensa a serviço do apostolado, da evangelização, anunciando Jesus Cristo com o mesmo vigor e criatividade de São Paulo Apóstolo. E nestes 70 anos, também fomos a letra viva dos pensamentos dos papas e dos nossos arcebispos: o próprio Dom Carlos Motta, Dom Agnelo Rossi, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Cláudio Hummes e, desde 2007, Dom Odilo Pedro Scherer. Jornalismo à serviço da evangelização é o que sabemos fazer”.
MERCADO EDITORIAL

Um dos participantes da live foi Victor Tavares, diretor-executivo da Distribuidora Loyola de Livros – que está há 33 anos no mercado – e das Edições Fons Sapientiae.
“Cada profissional católico também é um evangelizador, tem de levar a Boa Palavra, principalmente por meio dos livros. A seleção do editor é muito importante. É preciso saber o que você está publicando, pois corre-se o risco de publicar algo que acaba não vendendo bem, ou de se publicar coisas só pra vender bem, mas que contradigam a doutrina católica”, observou Tavares.
Ele lembrou que é fundamental que as editoras e autores saibam ler a realidade que os cerca para saber o momento certo de lançar um livro. “Temos de publicar conteúdos que as pessoas vão consumir e que, ao mesmo tempo, ajudem a evangelizar de verdade”.
Valdeci Toledo, autor e gerente da Editora Ave-Maria, recordou que os livros que são publicados passam pelo crivo do conselho editoral.
“Nós analisamos o conteúdo, considerando sempre a missão da Editora Ave-Maria, que é promover publicações que desenvolvam o crescimento cultural e espiritual do leitor. É uma responsabilidade grande, que fazemos com o fundamento da Tradição da Igreja, do Magistério e da Sagrada Escritura. Este é um tripé fundamental para qualquer editora católica”, comentou.
Valdeci Toledo está lançando o livro “O Detetive Católico – perguntar, responder e entender a fé”, com 70 respostas a partir de principais dúvidas de fé dos leitores da revista Ave-Maria.
“Nós continuamos percebendo essa busca do público pelo livro impresso, como é o caso da Bíblia, que vendemos mais de 500 mil exemplares por ano. Sempre publicamos livros com a seriedade de conteúdo”, comentou Valdeci, apontando para os bons números de vendas alcançados em 2024 e no primeiro semestre deste ano. “Temos leitores sedentos por conteúdos bons que possam alimentar a sua fé, seu conhecimento, pois a nossa fé não pode ser superficial, precisa ser aprofundada, temos de dar as razões para nossa fé”, concluiu.
O OLHAR DE QUEM ESCREVE

Outro participante da live foi o Frei Wilter Malveira, OFM, que na ExpoCatólica está lançando o livro “Evangelização nas Redes Sociais”, pela Angelus Editora. Ele contou que a base do trabalho foi consultada em mais de 95% em literatura em italiano, com abordagens ainda não tratadas no Brasil, como as questões de Teologia digital.
O Frei lembrou que hoje as pessoas buscam mais por informações do que se formar em profundidade sobre os assuntos, o que tem sido um desafio para os autores católicos.
“Ao chegarmos nas editoras com um conteúdo, sempre existe a pergunta ‘Isso é vendável?’ Assim, infelizmente, às vezes se tende a empobrecer um conteúdo para que fique mais vendável, mas o melhor caminho não é este: creio que podemos adaptar, simplificar o conteúdo, usando uma linguagem mais pastoral, acessível, mas sem empobrecer o conteúdo, não só pelo fato de ter dado muito trabalho para estudar um tema, mas porque nós precisamos de referência para dizer que aquilo que estamos fazendo tem compromisso com a verdade, compromisso ético, com a moral e com a vida das pessoas”, completou.
“Neste livro, busquei mostrar o que é evangelização nas redes sociais, quem deve fazer e como, pois nem todas as pessoas que se dizem influencers católicos são, de fato, evangelizadores”, comentou Frei Wilter, lamentando que nem todos que trabalham com as redes sociais a estudam de modo suficiente, mas, em contrapartida, pessoas que pouco sabem a respeito das mídias digitais têm buscado se informar melhor para entender seu funcionamento.
Karla Maria Sousa, jornalista e escritora, especialista em produção editorial e membro da Academia Guarulense de Letras, também participou da live. Ela é autora dos livros “Invisíveis – quando a rua é morada, o vírus é só mais uma ameaça”, “Mulheres Extraordinárias”, “O peso do Jumbo” e “Irmã Dulce – A Santa brasileira que fez dos pobres sua vida”, os três últimos publicados pela Paulus Editora.
“Foi na comunidade católica que percebi que viver em um mundo desigual não é o plano do Reino de Deus para nós. Na minha formação humana e cristã, fui percebendo que o jornalismo é uma ponte para denunciar aquilo que precisa ser denunciado para que se transforme e um dia alcancemos o Reino de Deus. Isso não é abstrato, passa simplesmente pelo fato de o Estado garantir aos cidadãos direitos como moradia, educação, saúde. E meu trabalho no jornalismo literário busca provocar reflexões, conscientização, sobre o que é dignidade humana”, comentou.
Karla também refletiu sobre a responsabilidade de cada autor na divulgação do próprio livro. “Nós, autores, temos que entender que os nossos trabalhos, feitos com todo amor e carinho, precisam ser vendidos, pois do contrário não é sustentável para a editora. Eu acredito que o grande desafio para o autor, seja ele católico ou não, é entregar qualidade, ser responsável pela própria obra, do início ao fim, no sentido de não deixar o seu livro ser esquecido. Se nós, autores, não falarmos do nosso livro, as pessoas dele se esquecem”, afirmou, pedindo que as editoras católicas se abram para novas obras, entendendo que o público católico é plural.
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