Símbolo da fé dos imigrantes italianos, paróquia no Brás vive um novo tempo de comunhão e evangelização

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO
A Paróquia São Vito Mártir, no Brás, Região Sé, viveu no domingo, 26, um dos momentos mais significativos de sua história: a dedicação da igreja e do altar, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo. A liturgia foi concelebrada pelos Padres Michelino Roberto, Administrador Paroquial; José Ferreira Filho, Vigário Paroquial; além dos Padres Pedro Paulo Pereira Funari e João Henrique Funari Fouto.
O rito de dedicação foi permeado de gestos simbólicos: aspersão de água benta sobre o povo e as paredes da igreja, bênção do ambão, unção do altar e das paredes com o óleo do Crisma; incensação e iluminação do templo. A solenidade culminou com a liturgia eucarística, ápice da vida cristã.

GRATIDÃO
Na saudação inicial, Padre Michelino recordou a trajetória da comunidade, nascida da fé dos imigrantes italianos que chegaram ao Brás no início do século XX. “Antes havia aqui uma pequena capela, construída com o suor, o esforço e o amor dos imigrantes que vieram do Sul da Itália ‘ganhar a América’”, afirmou.
O Sacerdote destacou que o processo de restauração, realizado ao longo de três anos, representou não apenas uma obra material, mas também um tempo de reconciliação e comunhão.
“Esta cerimônia marca um trabalho de reconstrução de comunhão entre a Paróquia São Vito Mártir e a Associação Beneficente São Vito Mártir, que no passado eram uma só realidade. Hoje, queremos voltar a ser um, como é o mandamento do Senhor”, disse o Padre Michelino, agradecendo a presença do Cardeal e de todos os colaboradores.

TEMPLOS DE DEUS
Na homilia, Dom Odilo meditou sobre o sentido espiritual da dedicação de uma igreja, recordando que o templo de pedra é também símbolo da comunidade viva. “Nós somos este templo e, com Jesus, oferecemos a nós mesmos a Deus, em louvor e adoração”, afirmou.
O Arcebispo destacou que, embora Deus esteja presente em toda parte, o templo é sinal visível da presença divina no meio do povo. “Deus não precisa de uma casa para morar, porque o mundo inteiro é sua casa. Somos nós que precisamos de um lugar para Deus, para expressar nossa abertura e manifestar que não O excluímos do nosso meio”, explicou.

Dom Odilo lembrou ainda que a igreja é “casa da Palavra de Deus”, onde a fé é alimentada pela escuta comunitária. Inspirando-se na primeira leitura, do livro de Neemias, afirmou que “a fé se perde quando a Palavra não é proclamada e acolhida”.
Da segunda leitura, da carta de São Paulo aos Coríntios, o Cardeal destacou a dignidade dos fiéis batizados: “Cada cristão é templo vivo de Deus. Nossa vida deve irradiar a glória do Senhor pelas virtudes e pela imitação de Cristo.”
Comentando sobre o Evangelho proclamado, Dom Odilo sublinhou que as igrejas devem ser sempre lugar da misericórdia, do perdão e da acolhida: “Que nossas igrejas sejam sempre casa da misericórdia e da caridade, especialmente para os que mais necessitam do olhar bondoso de Deus”.

RENOVAÇÃO
A celebração coroou um amplo projeto de revitalização da Paróquia São Vito Mártir, cujas obras tiveram início em 2022 e foram possíveis graças ao apoio de fiéis, doadores do comércio local e da Paróquia Nossa Senhora do Brasil, também na Região Sé.
As reformas abrangeram as partes elétrica e hidráulica, a instalação de sistemas de segurança e a readequação dos espaços pastorais.
Com o templo restaurado, a comunidade vive também um renovado dinamismo pastoral e social. Entre as iniciativas recentes, destaca-se o projeto de contraturno escolar voltado a crianças de 7 a 11 anos. O espaço reformado abriga salas de aula, biblioteca e refeitório, nos quais as crianças participam de atividades pedagógicas, culturais e de catequese.

Outra frente de atuação é o Projeto Transbordar, que reúne cerca de 30 mulheres em oficinas de costura, crochê e bordado, com o objetivo de gerar renda e fortalecer vínculos comunitários.
Padre José Ferreira Filho observou que a revitalização física do templo vem acompanhada da reconstrução espiritual da comunidade: “Reformulamos a catequese e a preparação para a Crisma, a Escola da Fé já é uma realidade há três anos, criamos o grupo de leitores, estamos formando novos catequistas e reorganizamos o grupo de coroinhas e cerimoniários”.

TRADIÇÃO E FÉ
Fundada em 24 de março de 1940, a Paróquia São Vito Mártir é um dos marcos da presença italiana no Brás. A devoção ao jovem mártir – que, segundo a tradição, foi torturado e morto aos 15 anos por não renegar a fé – chegou ao bairro ainda no final do século XIX, trazida por imigrantes de Polignano a Mare, no Sul da Itália, cidade natal do Santo, .
Com o tempo, a Paróquia se tornou um ponto de referência cultural e religiosa, especialmente pela Festa de São Vito, celebrada desde 1919 e considerada uma das mais tradicionais da cidade.







