No dia de São Francisco de Assis, 4 de outubro, o Papa Francisco fez publicar sua nova encíclica – “Fratelli tutti – (Vós todos sois irmãos), sobre a fraternidade e a amizade social.” O título da nova encíclica traz as palavras de Jesus às multidões e aos discípulos, ao adverti-los contra a falsidade e sede de poder e prestígio de escribas e fariseus: “quanto a vós, não vos façais chamar de mestre, pois um só é o vosso Mestre e vós todos sois irmãos” (Mt 23,8).
Essa palavra de Jesus está no coração da mensagem “social” do Evangelho: o amor ao próximo está vinculado inseparavelmente ao amor a Deus. As relações entre as pessoas devem orientar-se sempre por essa verdade: somos irmãos uns dos outros. Se isso vale para as pessoas em geral, vale muito mais ainda para quem tem fé em Deus e é cristão. Há um só Deus e Pai; e um só é o nosso Mestre, o Cristo, a quem devemos reverência e obediência incondicional. Somos unidos por laços naturais e sobrenaturais, que nos irmanam e unem uns aos outros.
A partir desse princípio, acabam-se as pretensões de superioridade de uns sobre os outros, baseadas em critérios culturais, sociais, econômicos, raciais ou quaisquer outros. E também deveriam ser superadas as tendências ao fechamento aos outros em base a nacionalidades, religiões, ideologias e partidos. Deveriam cessar discussões sobre quem tem mais direitos que os demais e que seja reconhecido a cada um o justo direito, em conformidade com a mesma dignidade de todos os irmãos, membros da grande família humana, filhos do mesmo Pai do céu.
A fraternidade muda a percepção dos outros: um olhar ambicioso e ganancioso, sempre está atrás de vantagens para si e de postos acima dos outros, da afirmação do próprio direito sem se importar com o direito dos outros. O olhar ávido de bens, poder e vaidades é um grande mal e introduz desordem, discórdias e violência em todos os níveis da comunidade humana, comunidade familiar, urbana e nacional, até se instalar nos mais altos níveis da comunidade internacional. Numa comunidade de irmãos, procura-se harmonizar o lugar e o justo direito de todos e se tem um olhar especial para os membros mais frágeis e necessitados da família humana.
Vivemos tempos de uma cultura doentia, contagiada gravemente por diversos vírus destruidores, como o ódio e o fechamento em relação a quem é diverso ou pensa diversamente de nós; e também o vírus do egoísmo e do individualismo, da insensibilidade diante do sofrimento alheio e da afirmação exacerbada dos direitos particulares, ou supostos direitos, contra os direitos fundamentais e universais. Tudo isso leva o mundo aonde? Que futuro prepara isso para a humanidade?
A nova encíclica do Papa Francisco “Fratelli tutti” insere-se na Doutrina Social da Igreja e traz uma contribuição importantíssima para a vida social, econômica e política. Ela parte de um princípio cristão fundamental, a fraternidade, e vai às suas consequências para o convívio humano em todos os níveis. O Papa vai à raiz dos problemas e do sofrimento social da humanidade: falta de fraternidade e de verdadeira amizade entre as pessoas, grupos e povos. Nesse sentido, a encíclica oferece um remédio capaz de curar a cultura enferma em que vivemos, que continua a produzir os males da injustiça, pobreza, guerras, humilhações e sofrimentos. Francisco não parte da afirmação de direitos, embora não os subestime. Também não parte simplesmente da condenação da guerra, embora isso não signifique a aprovação da guerra como meio de solução de conflitos. O Papa dirige-se à consciência e chama à conversão pessoal, social, econômica e política. Essa conversão requer mudança de rumos e da lógica interna aos comportamentos e atitudes geradoras de males, para orientar-se pela fraternidade e amizade, capazes de produzir atitudes sanadoras de tantos males que afligem o mundo.
Francisco não se dirige somente aos membros da Igreja, mas a toda a humanidade. No primeiro domingo do mês missionário, ele realiza uma ação de “Igreja em saída”, uma ação evangelizadora de grande significado. E no dia de São Francisco, “irmão universal”, que propôs um estilo de vida fraterna para o mundo, partindo do coração do Evangelho, o Papa presta uma homenagem ao Santo que, ao longo dos séculos, vai atraindo tantos à beleza da simplicidade e da vida fraterna, conforme o Evangelho.
E o papa e padres? Estão incluídos?
E os ditos pastores, que se acham superiores e comandam a vida dos fiéis? Eles têm que aprender isso.