Segundo especialistas, transportes coletivos representam a melhor alternativa para a redução de problemas urbanos como congestionamento e poluição

O setor de transportes é considerado um dos maiores responsáveis pela emissão de gases poluentes na atmosfera. Segundo dados do Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo, lançado em 2017, apenas os carros particulares são responsáveis por cerca de 73% dos gases de efeito estufa, além de emitir mais de um terço do CO2 no mundo. Dados como esse mostram que a mobilidade urbana não é só um assunto sobre qualidade de vida, como também de sustentabilidade.
Segundo Lucas Melo, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes da Escola Politécnica, a sustentabilidade, quando inserida na mobilidade urbana, é essencial para a redução de impactos climáticos. “Assim contribuímos com a mitigação de mudanças climáticas, melhorando a qualidade do ar, melhorando a qualidade de vida nos ambientes urbanos ao diminuir congestionamentos e poluição sonora, por exemplo.”
Crescimento
Nesse contexto, o relatório Tendências Tecnológicas da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi) sobre o futuro do transporte apontou que soluções sustentáveis para o setor cresceram 700% nas últimas duas décadas, passando de 15 mil inovações tecnológicas em 2003 para 120 mil em 2023. Esses dados demonstram não apenas o avanço tecnológico, mas também o crescente interesse por alternativas que reduzam os impactos ambientais do transporte.
O grande problema da mobilidade urbana paulista é a dominância dos carros sobre outras formas de transporte, afirma Erminia Maricato, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU) da USP. Para ela, a solução é o incentivo ao transporte coletivo. “O nosso problema é diminuir as viagens de carro, sem dúvida nenhuma. A fórmula é transporte coletivo, tirar carros de circulação, melhorar o transporte coletivo para tirar automóveis de circulação, é muito óbvio que vai melhorar a qualidade do ar, e aí você tem menos emissão de gases de efeito estufa”, detalha.
Alternativas
Ônibus coletivos podem ser cerca de oito vezes menos poluentes que carros de passeio e quatro vezes menos que as motos, de acordo com um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), além de transportarem mais pessoas em menos viagens, fator que impacta diretamente a redução de emissão de gases do efeito estufa. Há ainda a alternativa dos transportes elétricos, geralmente mais econômicos e menos poluentes; entretanto, Melo ressalta a importância em pensar a origem dos recursos geradores da energia utilizada.
“Não adianta a gente ter uma frota enorme de veículos elétricos, enquanto as fábricas que são utilizadas para construir são baseadas em usinas de produção de energia elétrica, em carvão, em óleo diesel, porque elas são tão poluentes quanto. A gente só está retirando o foco da poluição”, alerta.
Como medidas de resolução, Ermínia defende o incentivo às políticas públicas e ao transporte coletivo como as melhores opções para o avanço das condições de mobilidade e sustentabilidade urbana paulista. “O aspecto principal é uma política que seja pública, que tenha uma consonância com uso e ocupação do solo, com o crescimento da cidade, que dê maior prioridade ao transporte coletivo, especialmente transporte de Metrô, ferroviário e ônibus por corredores.”
Fonte: Jornal da USP (Yasmin Teixeira sob supervisão de Cinderela Caldeira)