Monitoramento anual mostra melhoria na água do Lago do Parque Ibirapuera

Este é apenas um dos dez locais em área de Mata Atlântica, entre 146 analisados, onde água está em boa qualidade

Joca Doarte /SVMA

A qualidade da água no Largo do Parque Ibirapuera, na zona Sul de São Paulo, melhorou no último ano, passando de regular para boa. É o que informa o mais recente relatório do programa Observando os Rios, “O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica”, publicado no dia 22 pela Fundação SOS Mata Atlântica.

De janeiro a dezembro de 2021, foram feitas 615 análises, em 146 pontos de coleta em 90 rios e corpos d’água em 16 estados onde está o bioma Mata Atlântica, entre os quais São Paulo.

Os dados gerais são preocupantes, já que em nenhum dos pontos a qualidade da água chegou ao nível ótimo, em mais de 20% a qualidade é ruim ou péssima, em 72,6% é regular e apenas em 6,9% é boa. Dos dez locais que atingiram este patamar, cinco estão em São Paulo: além do Lago do Parque Ibirapuera, foram encontradas duas boas amostras no Córrego Caiacatinga e uma no Córrego São Luiz, ambos em Itu; e uma no córrego Paquera, em Ilha Bela.

A classificação é feita por meio do Índice de Qualidade da Água (IQA), que se baseia em 16 parâmetros de avaliação das águas doces brutas destinadas ao abastecimento público e aos usos múltiplos, como pela indústria ou agricultura. Entre estes parâmetros estão a temperatura da água e do ambiente, turbidez, espumas, odor, nível de oxigênio dissolvido e as presenças de lixo flutuante, material sedimentável, peixes, larvas e vermes vermelhos, larvas e vermes escuros e transparentes, coliformes totais, entre outros.

Segundo Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios, o que explica a boa qualidade das águas desses dez rios e córregos foram as intervenções para que parassem de receber esgoto. “Quando o esgoto é conduzido direto para tratamento, melhora significativamente a qualidade da água. Além disso, a manutenção da mata ciliar [cobertura florestal em áreas de nascentes e beira de rios] e a proteção da margem de rios também ajuda bastante”, afirmou ao O SÃO PAULO.

INTERVENÇÕES

A água do Lago do Parque Ibirapuera provém do Córrego do Sapateiro, que, canalizado, passa por alguns bairros da zona Sul, como o Ibirapuera, Vila Clementino, Vila Mariana e Itaim Bibi. Durante décadas, foi comum o despejo irregular de esgoto no córrego, mas intervenções contra esta prática, bem como ações para preservar a nascente, passaram a ser feitas como parte do projeto de despoluição do Rio Pinheiros. “No ano passado, houve relatos do aparecimento de peixes em sua foz, no Rio Pinheiros, o que chamou muito a atenção da população paulistana”, consta no relatório.

A despoluição do Córrego do Sapateiro é parte do Programa Córrego Limpo, iniciado em 2007 pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), em parceira com a Prefeitura de São Paulo.

“Cabe à Sabesp implantar redes coletoras e fazer as conexões de imóveis, impedindo que o esgoto chegue aos cursos d’água. A Companhia também monitora a qualidade das águas dos córregos despoluídos e promove ações de conscientização socioambiental junto a comunidades do entorno. Já a Prefeitura faz a limpeza do leito e das margens dos córregos, fiscaliza o lançamento irregular de esgoto e faz a manutenção das galerias de águas da chuva, entre outras atribuições. A população tem papel importante na despoluição de rios e córregos ao dar destinação correta ao lixo e conectar os imóveis à rede de esgoto”, informou a Sabesp em nota à reportagem.

Desde 2000, a companhia também opera a Estação de Flotação e Remoção de Flutuantes Ibirapuera. “A estação executa sempre que necessário um processo de tratamento da água do córrego antes de chegar ao lago, para a retirada de material poluidor”, detalhou a Sabesp.

ALGUNS AVANÇOS NO RIOS PINHEIROS E TIETÊ

No relatório do programa Observando os Rios é mencionado o avanço em um dos lagos monitorados em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, cuja qualidade da água passou de ruim para regular.

Veronesi lembra que isso também é resultado da despoluição do Rio Tietê, iniciada nos anos 1990 e que teve como uma das mais recentes ações a inauguração, em 2020, de um interceptor na margem do rio Tietê para levar o esgoto de mais de 800 mil pessoas para a Estação de Tratamento de Esgoto de Barueri.

Segundo a Sabesp, desde o começo do Projeto Tietê, em 1992, a coleta e tratamento de esgoto beneficiou 12,4 milhões de pessoas. A cobertura da rede de coleta saltou de 70% para 92%, e a de tratamento de 24% para 83%, além da mancha de poluição no rio ter caído de 500km para 85km de extensão. A companhia informou, ainda, que desde 2019, por meio programa Novo Rio Pinheiros, 554 mil imóveis foram conectados ao sistema de tratamento de esgoto na Região Metropolitana de São Paulo.

No entanto, conforme apontado o relatório programa Observando os Rios, na capital paulista há alguns trechos do rio Pinheiros onde a qualidade da água está péssima. A esse respeito, a Sabesp pondera que “os trabalhos ainda estão em andamento, inclusive com a implantação de cinco unidades de recuperação da qualidade da água de córregos (URs), uma tecnologia que vai permitir a intervenção direta em afluentes do Pinheiros que recebem esgotos de áreas de ocupação irregulares mais adensadas, onde é inviável a instalação de estrutura de coleta convencional dessa carga poluidora”.

AÇÕES INTEGRADAS

Veronesi ressaltou que a qualidade das águas nos rios não será alcançada apenas com as ações de saneamento básico, mas também com cuidados sobre o uso e da ocupação do solo e a proteção à floresta. Atualmente, apenas 12,4% dos maiores fragmentos da Mata Atlântica estão preservados: “A floresta é um grande filtro, uma grande protetora da água, de modo que deve ser protegida, bem como precisa haver a manutenção das matas ciliares, dos topos de morro”.

No relatório é lembrado que a Mata Atlântica “é responsável pela manutenção do ciclo hidrológico, do clima e de uma enorme diversidade de espécies, além de ser provedora de serviços e recursos ecossistêmicos essenciais ao equilíbrio da vida de mais de 70% dos brasileiros”.

Joca Doarte / SVMA

CUIDAR DA CRIAÇÃO

Na encíclica Laudato si’ (LS), o Papa Francisco recorda que ter água potável e limpa é algo indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas, bem como para a boa gestão de questões sanitárias, agrícolas e industriais. Ressalta, também, que “um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas. Entre os pobres, são frequentes as doenças relacionadas com a água, incluindo as causadas por microorganismos e substâncias químicas” (LS,29).
No mesmo documento, o Pontífice enaltece as iniciativas que buscam preservar a Criação, “como o saneamento de alguns rios que foram poluídos durante muitas décadas, a recuperação de florestas nativas, o embelezamento de paisagens com obras de saneamento ambiental, projetos de edifícios de grande valor estético, progressos na produção de energia limpa, na melhoria dos transportes públicos. Estas ações não resolvem os problemas globais, mas confirmam que o ser humano ainda é capaz de intervir de forma positiva” (LS,58).

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