Oficial do Dicastério para a Doutrina da Fé participou de encontros formativos em São Paulo e destacou a importância da conversão pastoral e da corresponsabilidade eclesial

Na última semana, o Monsenhor Jordi Bertomeu Farnós, oficial da Seção Disciplinar do Dicastério para a Doutrina da Fé, esteve em visita a São Paulo para uma série de atividades acadêmicas e formativas sobre o tema da prevenção de abusos na Igreja.
No dia 7, ele participou da abertura do “Curso de Atualização sobre Comissões de Tutela Contra Abusos Sexuais a Menores e Adultos Vulneráveis”, promovido pela Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo (FDCSPA), em parceria com o Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na modalidade on-line. O curso tem por objetivo oferecer formação e atualização para os membros das Comissões de Tutela de Menores, a partir do motu proprio do Papa Francisco Vos Estis Lux Mundi, analisando sua natureza, estrutura, competências e procedimentos, bem como ações preventivas e a promoção de ambientes seguros no âmbito eclesiástico.
Ainda na manhã do dia 7, o Sacerdote participou de um encontro virtual com bispos do Regional Sul 1 da CNBB e de outros estados, também sobre a tutela de menores e adultos vulneráveis.
Nos dias seguintes, teve encontros com estudantes e professores dos cursos de Teologia e Direito Canônico, no campus Ipiranga da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e, na noite da quarta-feira, 8, reitores e diretores espirituais de seminários participaram de uma conferência virtual promovida pela FDCSPA, em parceria com a Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (Osib) e a Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB.

CONVERSÃO INTEGRAL
Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, onde é professor encarregado da disciplina “Delicta Graviora contra sextum” (Delitos mais graves contra o sexto mandamento), Monsenhor Jordi sublinhou em suas conferências que o enfrentamento dos abusos na Igreja requer mais do que protocolos e normas disciplinares: é necessário um processo de conversão e renovação pastoral. “Não se trata apenas de responder a denúncias, mas de uma conversão que precisamos fazer todos – sacerdotes, bispos e fiéis”, afirmou.
Segundo ele, os abusos não podem ser vistos como casos isolados, mas como uma crise que atinge a fé e a credibilidade eclesial, e que só será superada com espiritualidade, corresponsabilidade e compromisso com o serviço.
O canonista sublinhou que o caminho de prevenção começa na formação dos futuros ministros e consagrados, com uma atenção integral à dimensão humana, espiritual e afetiva: “Precisamos formar servidores, e não pessoas que busquem privilégios”.
Defendeu, ainda, que os seminários e institutos de formação ofereçam acompanhamento psicológico e espiritual adequados, favorecendo o amadurecimento emocional e o discernimento vocacional. O processo formativo, afirmou, deve ajudar o seminarista a viver o celibato e a castidade como expressão livre e madura de doação, e não como repressão.

CULTURA DO CUIDADO
Monsenhor Jordi também refletiu sobre a dimensão sinodal da vida e da missão da Igreja, ressaltando que a superação do clericalismo e a corresponsabilidade de todos os batizados são essenciais para a promoção de ambientes seguros e transparentes: “A Igreja sinodal é aquela que aprende a escutar o Espírito e a caminhar junto, valorizando o contributo de todos”.
Nesse sentido, o canonista destacou que é fundamental a colaboração entre clérigos e leigos, especialmente na escuta das vítimas e na atuação das comissões de tutela. Ele reiterou que, conforme o motu proprio Vos Estis Lux Mundi, todas as dioceses devem contar com comissões de escuta e de prevenção, que devem atuar em comunhão com o bispo, garantindo acolhimento, transparência e justiça.

OLHAR PASTORAL
O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Grão-Chanceler da FDCSPA, também participou dos eventos, reforçando a importância do tema e o empenho da Igreja em promover formação e prevenção.
Dom Odilo destacou que a resposta da Igreja não deve se limitar à reação diante de situações já ocorridas, mas incluir uma política pastoral de prevenção, voltada ao cuidado e à educação para a vivência cristã autêntica. “Prevenção, em outras palavras, é formação, é educação”, afirmou. “Temos necessidade de aprofundar essa consciência não só no clero, mas em todo o povo de Deus”, completou.
O Arcebispo concluiu, expressando sua satisfação com a iniciativa formativa e desejando frutos pastorais e institucionais para o trabalho das Comissões de Tutela em todo o Brasil.
(Colaborou: Karen Eufrosino)