Moradores das periferias unem-se para minimizar impactos da COVID-19

Crescem iniciativas de solidariedade nas áreas mais afetadas pela COVID-19, com foco em conscientizar e auxiliar população mais vulnerável

Desde de que o mundo começou a sofrer com os impactos da pandemia do novo coronavírus, muitas iniciativas de caridade foram idealizadas por pessoas anônimas, personalidades públicas e empresas.

Nas principais periferias de São Paulo, o cenário é ainda mais emergente. As condições mínimas de saúde e de qualidade de vida têm resultado em um grande número de infectados e mortos por COVID-19. Esse cenário tem feito que as comunidades não fiquem apenas à espera de benfeitores, e os próprios moradores se tornaram a personificação da palavra altruísmo.

‘BRASILÂNDIA SOLIDÁRIA’

Formado por 41 bairros, o distrito da Brasilândia é o quarto mais populoso de São Paulo, com 264.918 habitantes, segundo dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. O território é também um dos mais vulneráveis da cidade e, em meio a pandemia de coronavírus, é o primeiro no número de mortes por COVID-19.

A falta de saneamento básico e as condições precárias de moradia podem explicar o grande número de óbitos. Na tentativa de diminuir os altos índices de coronavírus nos bairros contemplados pela região, há quase um mês, um grupo de moradores idealizou a rede “Brasilândia Solidária”.

Em entrevista à rádio 9 de Julho, o integrante Jabes Campos falou sobre o desenvolvimento das ações e contou que o projeto foi se intensificando na medida em que o número de diagnósticos e mortes cresceram.

O principal desafio, segundo Jabes, é fazer uma comunicação que gere o entendimento dos moradores sobre a necessidade de realizarem o isolamento social, dentro de suas possibilidades e que, quando não for possível ficar em casa, possam se proteger utilizando máscaras.

Atualmente, a rede é composta por 20 voluntários divididos em oito grupos: saúde, educação, comunicação, assistência social, captação de recurso, geração de renda, juventude e cultura. As discussões são pautadas em sintonia com cada área de atuação.

FAZER ECOAR

Com apoio dos profissionais da saúde que já trabalhavam nos bairros, uma das ações concretas da rede é a comunicação por meio de um carro de som, que transita pelas ruas, informando sobre os métodos preventivos. Tem havido, também, a distribuição de máscaras, confeccionadas por costureiras voluntárias.

Contudo, Jabes reiterou que há o problema da aglomeração. O adensamento popular, a questão da moradia impõe uma situação muito difícil para que a comunidade possa praticar o isolamento. A nossa vulnerabilidade social, a falta de recursos financeiros, o espaço de convivência faz com que a pandemia encontre um ambiente de contaminação muito favorável”.

Outra atividade é a realização de Blitz’s, que tem como intuito sensibilizar a população sobre a crise: “Nós temos que formar uma corrente, para que todo mundo cuide de todo mundo, para que possamos poupar as vidas’, completou Jabes.

POUPAR VIDAS

A rede tem discutido sobre a criação de um espaço para o acolhimento de idosos e pessoas contaminadas pelo novo coronavírus. Jabes recordou que em outros locais, escolas públicas se transformaram em ambientes propícios para a realização da quarentena: “Se uma pessoa vai até o hospital, e é constatada com o vírus, ela não pode voltar para casa, pois, se ela volta, contamina a família inteira”, disse, ao lembrar que grande parte das residências na periferia são compostas por poucos e pequenos cômodos.

DO OUTRO LADO DA CIDADE

A segunda maior periferia de São Paulo, o bairro de Paraisópolis, desde o fim de março promove um projeto em que os próprios moradores buscam monitorar o isolamento social e as principais emergências das famílias locais.

Com os chamados “presidente da rua” e “vice-presidente da rua”, toda a população de Paraisópolis é contemplada pelo apoio dos voluntários.

Além disso, no território, duas escolas já se transformam em espaços de acolhimento e, desde o fim de abril, recebem os moradores que testam positivo para o COVID-19, para realizem a quarentena, evitando, com isto, o contato com os familiares, diminuindo o risco de novos contágios.

Os infectados são direcionados pelos profissionais das Unidades Básicas de Saúde locais, às escolas estaduais Maria Zilda Gamba Natel e Etelvina de Goes Marcucci.

SOCORRISTAS

No dia 6, aconteceu a formatura de 240 socorristas que formam a Primeira Brigada de Emergência de Primeiros Socorros da comunidade. A formação foi possível pela parceria entre a União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, G10 das Favelas, Grupo Bombeiro Caetano (GBC) e a Associação Bombeiro Mirim Juvenil Voluntário (BMJV), que cedeu as Bolsas de Estudos.

O objetivo da iniciativa é atender a população com primeiros socorros, que respeitem os protocolos de emergência nacionais e internacionais, da American Heart Association e Emergency First Response, CA.

Dividida em seis microrregiões (Centro, Grotão, Grotinho, Brejo, Prédios e Antonico), e com o auxílio de 12 bombeiros contratados, os socorristas atuam em dez equipes de 60 bases, com brigadistas equipados com pranchas longas, kits de primeiros socorros, modelo cipa, e equipamentos de proteção individual (EPI´s).

Todos os valores para compra de equipamentos e custeio dos profissionais estão sendo angariados por meio de um financiamento coletivo.

SAIBA MAIS SOBRE AS INICIATIVAS EM:

Rede “Brasilândia Solidária” no Facebook

Financiamento coletivo do projeto socorristas de Paraisópolis

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