
A incômoda coceira na sola dos pés e na palma da mão perdurava há algumas semanas. Wilma Lobo Guedes já havia planejado ir ao médico, mas antes aceitou o convite de um dos filhos para uma viagem ao litoral paulista com o esposo, Luiz Carlos Guedes.
Nada mais seria como antes após aquele 26 de agosto de 2024. Durante a viagem de carro, Guedes queixou-se de um desconforto nos olhos. Ao chegarem ao destino, a família constatou nele sinais típicos de conjuntivite. O casal, então, decidiu regressar à capital paulista e ir a um pronto-socorro. No plantão hospitalar estava uma equipe especializada em transplante de aparelho digestivo.
Guedes, de fato, estava com conjuntivite e recebeu prescrição medicamentosa para se tratar em casa; e Wilma, despretensiosamente, comentou com um dos médicos sobre a coceira que sentia, e este recomendou-lhe que prontamente fizesse um exame de sangue. Os resultados apontaram anormalidades. Ela, então, fez uma tomografia na qual se diagnosticou uma lesão na pâncreas.
“Eu perguntei ao médico se era um tumor. Ele falou, ‘sim, Wilma, é um tumor, mas não sabemos se é maligno ou benigno. Teremos de operar você’”, recordou Wilma ao O SÃO PAULO, detalhando que a coceira que sentia decorria do fato de o tumor estar obstruindo o canal da vesícula, e, assim, esparramar bile por todo o fígado.
“Naquela noite, meu marido per amanhecer, o olho dele estava limpo, sem que tenha aplicado medicamento algum. Eu não tenho dúvidas de que Deus usou o Guedes para que eu fosse ao hospital”, assegurou.
A fé na luta contra a doença
Dias depois, Wilma passou por um procedimento cirúrgico de cerca de 12 horas de duração. “Eu fiquei um mês na UTI, e, infelizmente, quando veio o resultado da biópsia, se constatou o tumor maligno. Em dezembro do ano passado, na semana do Natal, comecei a quimioterapia. Foi uma fase muito difícil. Passei o Natal muito mal, debilitada. Durante a quimioterapia, eu emagreci mais de 30 quilos”, detalhou.
Encerrada a quimioterapia, os exames de imagem e os sanguíneos de marcadores tumorais indicavam que ela estava curada. Há cerca de um mês, porém, um novo exame apontou alterações em dois marcadores tumorais.
“Nestes dias, eu me peguei falando com Deus: ‘Senhor, no ano passado eu passei um Natal muito ruim. Não consegui ficar com meus netos. Este ano, queria ter um Natal próximo da família, com meus filhos também”, relatou a mulher de 67 anos, que é mãe do Thiago e da Carolina, e avó de dois netos.
Paroquiana da Paróquia Nossa Senhora da Lapa, na Região Lapa, Wilma não perde a fé nem a esperança: “Deus é minha fortaleza, é Nele que me apego, porque Ele é o médico dos médicos, sabe de todas as coisas, e tudo acontece no tempo Dele”.
“Quando surge um diagnóstico deste – ‘você está com um tumor maligno’ –, parece que é uma sentença de morte, mas com muita fé, tenho conseguido passar por esta situação”, contou.
A esperança sempre renasce com o Natal

A época do Natal é de muitas lembranças para Wilma, especialmente da mãe, Ana Silva – que assim como sua irmã morreu em decorrência de um câncer – que sempre gostava de ver toda a família reunida para celebrar o nascimento do Menino Jesus. A mãe também nasceu no dia de Natal.
“Apesar de todas essas dificuldades, estou muito confiante! Neste Natal, poderei passar com minha família. E vou aproveitar muito, pois não sei até quando estarei aqui, nem o que vai acontecer comigo. A vida é um dia de cada vez. Vamos curtir com as crianças, colocar presentes na árvore, ter ceia a Natal, ir à missa, tudo como tem de ser em uma família unida”, assegurou.
A fala de Wilma reverbera o que escreveu o Papa Francisco na bula Spes non confundit, pela qual proclamou este Ano Jubilar: “No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expectativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã”.
“Espero que seja tudo bem o que tem para vir na minha vida. Que Deus olhe por mim de novo, com a mesma intensidade com que Ele agiu quando descobri o tumor da primeira vez. Desejo que este Natal seja de muito amor, de esperança, e que as pessoas possam olhar mais pelo próximo, ter mais empatia”, concluiu.
‘Cristo associa-vos à sua cruz’
Em 13 de dezembro de 2009, poucos dias antes do Natal, o Papa Bento XVI visitou uma unidade hospitalar em Roma que trata de doentes terminais com câncer, Alzheimer e esclerose. A mensagem do Pontífice aos pacientes e familiares é uma verdadeira catequese sobre como a doença pode ser ocasião de santificação e de maior proximidade com Deus.
“Convido-vos a encontrar em Jesus apoio e conforto, para nunca perderdes a confiança e a esperança. A vossa doença é uma prova muito dolorosa e singular, mas diante do mistério de Deus, que assumiu a nossa carne mortal, ela adquire o seu sentido e torna-se dom e ocasião de santificação. Quando o sofrimento e o desânimo se tornam mais fortes, pensai que Cristo associa-vos à sua cruz… as vossas condições de saúde testemunham que a vida verdadeira não é aqui, mas junto de Deus, ocasião em que cada um de nós encontrará a sua alegria e terá dado humildemente os seus passos atrás do homem mais verdadeiro: Jesus de Nazaré, Mestre e Senhor”, declarou o Pontífice.





