Arcebispo de São Paulo tem feito recorrentes pedidos para que sejam mantidas nesta pandemia as ações caritativas nas igrejas da Arquidiocese, em favor daqueles que mais precisam. Interessados em colaborar encontram lista com os locais para doações na plataforma ‘Animando a Esperança’
Com o avanço da pandemia de COVID-19 e a adoção de medidas mais restritivas para evitar a proliferação do coronavírus, aumentaram as dificuldades para que as famílias de baixa renda garantam o mínimo para a sua subsistência, uma vez que estão mais escassas as oportunidades de obtenção de renda com trabalhos esporádicos ou informais.
Some-se a isso o fato de 13,9 milhões de brasileiros terem encerrado o ano de 2020 sem um trabalho formal, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em fevereiro; além da alta de 15% no preço médio dos alimentos no Brasil, no comparativo entre este mês e março de 2020.
Em todo o mundo, a Igreja estende as mãos aos mais pobres e o faz a partir da solidariedade dos fiéis, que entregam doações a serem repassadas a quem mais precisa. No entanto, em São Paulo, em virtude das restrições para a realização das missas com a participação presencial, tem havido queda na quantidade de itens doados, ao mesmo tempo em que aumenta a procura daqueles que mais precisam de ajuda neste momento.
Essa realidade foi mencionada pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, no programa “Encontro com o Pastor”, da rádio 9 de Julho, nesta segunda-feira, 29.
“Nossas igrejas são procuradas pelos pobres para receber ajuda, como comida, roupas, calçados, remédios etc. No entanto, as igrejas estão vazias, está entrando muito pouco em dinheiro e quase nada em doações de alimentos. Meu apelo é este: vamos socorrer os pobres, vamos continuar a doar, agora, sobretudo, doações de alimentos não perecíveis nas paróquias, comunidades, pastorais, comunidades religiosas e novas comunidades. Doe alimentos nestes lugares e os pobres os receberão. Ajude a socorrê-los. Que ninguém passe fome por nossa causa”, pediu o Arcebispo.
Na carta em que anunciou a suspensão temporária das celebrações com a participação presencial dos fiéis, em 21 de março, Dom Odilo já havia pedido que as comunidades paroquiais mantivessem a solidariedade com todas as pessoas, em especial os doentes, pobres e aflitos.
“Vivamos este tempo em comunhão com todos e lembremo-nos daqueles que sofrem ainda mais que nós. Sobretudo, não esqueçamos os pobres que há entre nós. Motivemos o povo para que continue a oferecer sua ajuda, sobretudo com gêneros alimentícios não perecíveis e produtos de higiene, para ajuda aos pobres”, escreveu o Arcebispo na ocasião.
Onde doar, quando e quais itens?
Essas são perguntas recorrentes entre aqueles que se sensibilizam com a realidade dos mais pobres, querem colaborar de alguma forma, mas, como não têm vínculos permanentes com uma comunidade paroquial, não sabem bem como fazê-lo.
A partir desse diagnóstico, a Arquidiocese de São Paulo criou em 2020 a plataforma “Animando a Esperança”, por meio da qual qualquer pessoa pode consultar um mapa interativo com os locais onde é possível fazer doações e quais são as principais necessidades nestes chamados Pontos de Esperança.
Há mais de 440 cadastrados, incluindo paróquias, novas comunidades, colégios católicos e outros organismos ligados à Igreja em São Paulo. Na plataforma, há os canais de contato de cada Ponto de Esperança, de modo que aqueles que desejam fazer doações podem, por exemplo, agendar um melhor horário para tal ou obter informações sobre como fazer depósitos financeiros, caso assim desejem.
Na plataforma também é possível encontrar o resultado das ações caritativas da Arquidiocese de São Paulo entre março e julho de 2020, que resultaram na doação de mais de 220 mil cestas básicas; cerca de 183 mil kits de higiene; 1,4 milhão de refeições; 537 mil peças de roupas e mais de 225 mil máscaras.
Caridade: missão de todo o cristão
Mais do que um gesto de bondade, ter uma atitude caritativa com o próximo é dever do cristão. “Pela caridade, amamos a Deus sobre todas as coisas e a nosso próximo como a nós mesmos por amor a Deus. Ela é o ‘vínculo da perfeição’ (Cl 3,14) e a forma de todas as virtudes”, consta no §1844 do Catecismo da Igreja Católica (CIC). “A caridade assegura e purifica nossa capacidade humana de amar, elevando-a à feição sobrenatural do amor divino”. (CIC, §1827).
A prática da caridade ganha uma dimensão ainda mais especial neste tempo, em que os cristãos cumprem com os propósitos de Quaresma, feitos por meio dos exercícios quaresmais do jejum, da esmola e da oração.
“Ao fazer a experiência de uma pobreza assumida, quem jejua faz-se pobre com os pobres e ‘acumula’ a riqueza do amor recebido e partilhado. O jejum, assim entendido e praticado, ajuda a amar a Deus e ao próximo, pois, como ensina São Tomás de Aquino, o amor é um movimento que centra a minha atenção no outro, considerando-o como um só comigo mesmo (cf. Fratelli tutti, 93)”, escreveu o Papa Francisco na mensagem para a Quaresma deste ano.
Também a esse respeito, o Cardeal Scherer, em live após a missa do Domingo de Ramos, 28, afirmou: “O nosso jejum, a nossa penitência, não é para economizarmos e colocarmos no bolso. O fruto da nossa penitência, nós devemos partilhar com os pobres”, disse, ao responder à pergunta de um internauta.