Há três meses, Isabela Maria da Paz chegou ao Amparo Maternal carregando consigo um passado repleto de dor e insegurança e, mesmo com todo seu bloqueio, descobriu algo surpreendente: o Amparo não era apenas um abrigo, mas um verdadeiro lar. “Aqui, eu me sinto dentro de casa”, afirma, com emoção.
Desde criança, Isabela passou por diversas dificuldades e já aos 14 anos começou a usar drogas. Sem laços familiares fortes, ela decidiu vir para São Paulo, conheceu algumas pessoas e logo se viu nas ruas do centro da cidade. Hoje, com orgulho, ela afirma que está há três meses “limpa”.
“Eu não imaginava, já não tinha mais nenhuma expectativa de vida. Quem trouxe de volta a minha vontade de viver foi o Gustavo”, diz ela, referindo-se ao seu filho, nascido e acolhido no Amparo, e que hoje tem 2 meses.
“Eu não tive uma mãe e um pai presentes”, diz a jovem, explicando sua determinação em criar uma história diferente da sua para o filho.
Isabela foi criada pela avó, que sempre buscava protegê-la de um ambiente familiar no qual o alcoolismo sempre trouxe problemas. Tal como a mãe, vítima de feminicídio, ela buscou nas drogas um “refúgio”.
“Em questão da drogadição, eu usei aquilo como refúgio, eu achava que ia estar mais perto dela, eu me sentia mais próxima dela”, confessa. Apesar das dificuldades, Isabela acredita que as experiências nas ruas a fortaleceram. “Ali é você por tudo, você perde a vergonha, perde sua dignidade”, reflete.
Hoje, Isabela tem o desejo de se reconectar com sua filha mais velha. “Quando a vir de novo, vai ser diferente”, afirma, com esperança. “Independentemente de eu tê-la colocado no mundo, eu não conheço minha filha. Então, quando a vir, acho que vai ser bem diferente, porque agora eu me dei uma oportunidade”, projeta.
Isabela conta que chegou ao Amparo Maternal graças ao trabalho de resgate de pessoas em situação de rua. Durante quatro anos nas ruas, ela evitou buscar ajuda, mas ao descobrir-se grávida, percebeu que não poderia permanecer como estava. A decisão definitiva veio quando o coração de Gustavo foi ouvido pela primeira vez: “Ali ‘caiu na minha consciência’ de que tinha uma vida comigo, que eu não estava só me destruindo, mas poderia estar fazendo mal para ele também”, diz, emocionada. No Amparo Maternal, ela recebeu todo o auxílio necessário, apesar de sua relutância inicial. Com o tempo, viu que estava em um ambiente no qual poderia confiar nas pessoas e sentir-se segura: “Foi uma coisa que a gente construiu junto”.
Isabela diz que embora o futuro ainda a assuste, ela já está se preparando para a hora de sair do Centro de Acolhida do Amparo Maternal: “Quero ver acontecer logo”, diz, confiante de que Deus está guiando seus passos. “O Amparo foi a minha salvação. Aqui consegui me enxergar, consegui me ver”, finaliza.
‘Eles fazem tudo o que podem pela mãe e pelo bebê’
Bruna Gabriela tem 26 anos, é filha única e sempre foi amada por seus pais. Hoje, ela é mãe de uma menina de 9 anos, que mora com os avós, e do Heitor, também acolhido no Amparo.
“O Amparo abriu meus olhos para muitas coisas”, assegura a jovem. “Depois dessa passagem aqui, aprendi muito, eles me ensinaram muito”.
Bruna diz ter sofrido violência física nos dois relacionamentos que teve. “No segundo relacionamento, aos 7 meses de gestação, o pai do Heitor me deixou”, relata. Bruna chegou ao Amparo Maternal após passar por momentos de extrema dificuldade com seu bebê. “Fiquei três dias no hospital, passei uma noite na pensão e, no dia seguinte, fui despejada. Tive que procurar ajuda, foi quando surgiu o Amparo. Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida toda”.
“A orientadora Judite me acolheu. Foi demais, sem palavras para ela! Quando deitei minha cabeça no travesseiro e vi que meu filho estava comigo em uma cama quentinha, e que tomei um banho e me alimentei, agradeci muito a Deus e ao Amparo”, recorda sobre seu primeiro dia no Centro de Acolhida.
Bruna destaca o carinho e a empatia das orientadoras do Amparo. “Elas fazem mais do que cumprir o trabalho delas; nos escutam quando precisamos desabafar, oferecem carinho e estão sempre dispostas a conversar.” Ela menciona a orientadora Salvadora, a quem vê como uma avó, com muito afeto.
“Aqui você não precisa se preocupar com o leite do seu filho, com a fralda, com o calçado, com a roupa. Eles fazem tudo o que podem pela mãe e pelo bebê”, destaca, recordando ainda o amplo suporte que o pequeno Heitor recebeu quando adoeceu.
Bruna deixa uma mensagem de gratidão e esperança a todos que colaboram com as ações do Amparo Maternal: “Continuem ajudando e apoiando o Amparo. Somos eternamente gratas e os bebês também”.
(Reportagem: Assessoria de Comunicação da Associação Amparo Maternal)