Padres compartilham com seminaristas experiências missionárias no Norte do Brasil

Atividade deu continuidade ao Simpósio Missionário realizado pelo Seminário Arquidiocesano Imaculada Conceição

Os seminaristas que participam do Simpósio Missionário realizado pelo Seminário Arquidiocesano Imaculada Conceição, ouviram na tarde da sexta-feira, 3, o testemunho de três sacerdotes da Arquidiocese de São Paulo que fizeram experiência de missão em regiões do Norte do Brasil.

Falaram com os seminaristas os Padres Fabiano de Souza Pereira, Luiz Tose e Ernandes. O Simpósio Missionário, realizado via plataformas digitais, acontece no lugar da missão anual de férias dos seminaristas, que, este ano, não é realizada devido à pandemia do novo coronavírus.

PADRE FABIANO: ‘O CLAMOR DA TERRA E O CLAMOR DOS POBRES’

O Padre Fabiano de Souza Pereira foi o primeiro a falar. Ele Iniciou com o sinal da Cruz, porque “todo testemunho está ligado a uma vida de oração”. O Sacerdote contou de sua experiência em Igarapé-Açu, no nordeste do Pará, onde trabalhou na Paróquia São Sebastião, que conta com 49 comunidades.

Padre Fabiano

Lá, ele pôde sentir o “clamor da terra e o clamor dos pobres”, por conta das muitas misérias que afligem a região, como turismo sexual, tráfico de órgãos e drogas, violência, poluição e pobreza material. A experiência missionária foi exigente e muitos casos eram complexos – o Padre atendeu, por exemplo, vítimas de abusos sexuais e abusadores.

Também não faltaram problemas políticos. Um dos eventos que marcou o Padre foi o assassinato, por razões políticas, de um professor.

Padre Fabiano contou também o caso da visita a uma comunidade que o marcou de modo especial. O Evangelho do dia narrava a multiplicação dos pães. Ao chegar, o Padre encontrou crianças que não tinham tomado café por falta de alimentos. Isso lhe provocou uma certa crise, pois se perguntava como poderia falar da multiplicação dos pães àquelas pessoas. Após a celebração, decidiu ir à cidade comprar alimentos. A viagem teve alguns desafios, como o atolamento do carro. Ao chegar, foi a uma capela pedir ajuda a Nossa Senhora. Logo em seguida, recebeu a visita de uma senhora que lhe ofereceu maçãs. Outros depois o ajudaram a reunir mais alimentos. Nisso percebeu uma manifestação clara da Providência divina.

Os desafios eram grandes, mas não faltaram frutos. Uma experiência especial foi resgatar jovens das drogas, que depois se tornaram líderes de comunidades de fé e constituíram família. “Todos necessitam de conversão, independentemente da condição”, disse Padre Fabiano, referindo-se às pessoas que saem das situações mais trágicas e entram na Igreja.

Com a falta de recursos, o Padre aprendeu a valorizar as pequenas coisas. Citou como exemplo o livrinho “Manual de orações e da vida cristã”, por vezes desprezado. Com mais livrinhos destes, disse, poderia ter evangelizado muitas pessoas.

PADRE LUIZ TOSE: ENCONTRAR PESSOAS, ESTAR COM ELAS E FALAR DE DEUS

O testemunho seguinte foi o do Padre Luiz Tose, que esteve na Diocese de Marabá, no Pará, onde também há muitos desafios. São 24 paróquias, 44 padres e 16 municípios. A Paróquia chamava-se Jesus Misericordioso, em uma vila conhecida por Quatro Bocas, a 200 quilômetros de Marabá por uma estrada de terra.

Padre Luiz Tose

A Paróquia conta com 40 comunidades e uma rádio comunitária, que é o meio de comunicação com as vilas vizinhas, onde estão as várias comunidades. Curiosamente, todos os lugares têm internet. Algumas casas sequer possuem banheiro, mas há a internet, porque se trata do único meio de comunicação rápida disponível.

Padre Luiz fez um chamado à simplicidade: “quando vamos a uma missão dessas, muitas vezes nos perguntamos o que vamos fazer, o que vamos levar”. Em primeiro lugar, porém, se trata de encontrar as pessoas, de estar com elas e falar de Deus.

Também a coragem é requisitada. A Paróquia sofre com a prostituição infantil, tão comum na região. Isso exige que a Igreja, por vezes, erga sua voz, até porque, pela miséria generalizada, várias pessoas consideram normais situações inaceitáveis.

PADRE ERNANDES: ‘OS MORADORES VEEM NO PADRE O PRÓPRIO CRISTO’

A última exposição veio do Padre Ernandes. Sua experiência se deu na Diocese de Coroatá, na região centro-leste do Maranhão, a cerca de 260 quilômetros da capital São Luís. A Diocese conta com 16 municípios, 35 padres e 600 mil habitantes. A cidade em que ficou se chamava Peritoró.

Padre Ernandes

O primeiro impacto ao chegar lá se deu com a postura do bispo, um homem muito simples e afável. Fizeram muitas missões populares e o Padre Ernandes se impressionou com a enorme quantidade de jovens participantes. Também o surpreendeu o fato que as pessoas estavam muito ligadas nas mídias sociais e procuravam alimentar sua espiritualidade por meio delas.

O Padre procurou se aproximar dos jovens e paroquianos. Percebendo que eram numerosos e estavam bem animados, pediu ao pároco permissão para fazer um encontro vocacional. Reuniu cerca de 250 jovens, aos quais falou de Deus e do sentido da vida, e alguns decidiram conhecer o Seminário. “Foi o modo que encontrei para ajudar”. Ele notou que muitos jovens pareciam ter uma vocação, mas que, pela falta de qualquer tipo de acompanhamento, desperdiçavam esse chamado, por exemplo tendo filhos antes do tempo e fora de um contexto adequado.

O Padre recordou o respeito e veneração pela Igreja. “Os moradores veem no padre o próprio Cristo”, falou. Em alguns lugares, quando chega um padre ou diácono, os moradores soltam fogos de artifício para avisar a todos, e muitos começam a se reunir para os batismos.

Padre Ernandez concluiu ressaltando o enorme valor dessa experiência missionária para a vida de um seminarista e de um sacerdote. “Muda nosso olhar sobre as coisas” e “faz a gente se interessar mais pelos pobres”.

EVANGELIZAÇÃO DOS JOVENS

Após as três exposições, seguiram-se comentários do Cardeal Odilo Pedro Scherer e várias perguntas dirigidas aos expositores.

O Cardeal enfatizou que essas missões ajudam a ter uma visão mais rica do Brasil, que ultrapasse a diocese de São Paulo. Ainda que a missão esteja em São Paulo, disse ele, esse conhecimento mais amplo tem grande valor.

Perguntado sobre a evangelização dos jovens, Padre Luiz Tose citou a interessante experiência que tiveram com a prática do caratê. Foi um modo eficaz que encontraram para atrair os jovens para a Igreja e evangelizá-los. Por meio do caratê, conseguiam comunicar valores, como por exemplo a disciplina. “Foi de fato uma atividade muito rica […] e também procuramos envolver os pais”.

Em outra pergunta, Padre Luiz falou que “a maior alegria […] é conseguir levar Deus para as pessoas”, “conseguir fazer com que tenham um encontro verdadeiro com Deus”. Normalmente, as pessoas não precisam de grandes eventos para isso, acrescentou.

O Padre Ernandez recordou que, para transmitir aos jovens o fervor missionário, continua a ser essencial o testemunho. Quando os jovens encontram um padre ou diácono que os visite, reúna e ensine, se empolgam, se deixam envolver e muitos se esforçam para levar os trabalhos adiante. O Sacerdote falou de jovens que, mesmo após o fim de sua missão, continuam os trabalhos missionários e trocam com ele mensagens.

O Simpósio Missionário realizado pelo Seminário Arquidiocesano Imaculada Conceição será concluído neste sábado, dia 4.

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