“Coração de Cristo, trespassado por amor, é a carne viva e vivificante que acolhe cada um de nós [sacerdotes], transformando-nos à imagem do Bom Pastor. É ali que se compreende a verdadeira identidade do nosso ministério: ardentes da misericórdia de Deus, somos testemunhas alegres do seu amor que cura, acompanha e redime. […] A festa de hoje renova nos nossos corações o chamamento ao dom total de nós mesmos no serviço do povo santo de Deus. Esta missão começa com a oração e continua na união com o Senhor, que continuamente reaviva em nós o seu dom: a santa vocação ao sacerdócio. […]Não tenhais medo da vossa fragilidade: o Senhor não procura sacerdotes perfeitos, mas corações humildes, abertos à conversão e prontos a amar como Ele mesmo nos amou.”
(Papa Leão XIV, Mensagem para o Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero – 27/06/2025)
Cura d’Ars: exemplo para todos os presbíteros

Ele passava até 16 horas por dia no confessionário e atendia, a cada ano, cerca de 80 mil peregrinos que iam à aldeia de Ars, na França, para se confessar. Não por acaso, São João Maria Vianney ficou conhecido como o “incansável apóstolo do confessionário” e foi proclamado “padroeiro dos párocos do mundo”, pelo Papa Pio XI, em 1929.
João Maria Vianney nasceu em 1786 no seio de uma humilde família camponesa, na cidade de Dardily, na França. Começou a trabalhar no campo ainda na infância e somente foi para a escola aos 17 anos de idade. Tempos depois, ele ingressou no Seminário Maior de Lyon, porém, devido à sua formação escolar tardia, não tinha conhecimento suficiente de latim e enfrentou muitas dificuldades para entender os estudos filosóficos e teológicos. Por isso, foi enviado para um seminário privado, em Ecculy, no qual conseguiu concluir seus estudos.
Ordenado sacerdote em 13 de agosto de 1815, não lhe foi dada inicialmente a autorização para atender Confissões, pois o julgavam incapaz de guiar as consciências. Um ano depois, foi designado como Vigário-capelão em Ars, à época com pouco mais de 200 habitantes, conhecida pela fama de seus cabarés e pelas bebedeiras da população. Na encíclica Sacerdotii nostri primordia, São João XXIII afirma que o Cura d’Ars impunha a si próprio constantes mortificações e rogava constantemente a Deus pela santificação do povo daquele pequeno vilarejo. Também dedicava-se à pregação e à catequese e estava sempre disponível para Confissões.
Uma década depois da chegada do Padre, viu-se uma Ars transformada, com a igreja sempre cheia e muitas pessoas, de diferentes localidades, à procura do sacramento da Reconciliação, a ponto de a vila passar a ser chamada de “o grande hospital de almas”.
São João Maria Vianney morreu em 4 de agosto de 1859. Na cerimônia de sua canonização, há exatos cem anos, em 1925, o Papa Pio XI recordou o rosto esguio do Santo “desgastado pelo jejum, de onde a inocência e a santidade da sua alma humilde e dulcíssima brilhavam tão intensamente”. O próprio Cura d’Ars chegou a afirmar que vigiava e jejuava para que os fiéis alcançassem a redenção dos pecados: “Dou aos pecadores uma pequena penitência e o resto, faço eu no lugar deles”.
‘Ser padre é ser um peregrino de esperança’

Ordenado sacerdote em 2015, bacharel em Ciências da Educação e mestre em Catequética, ambos pela Universidade Pontifícia Salesiana de Roma, o Padre João Henrique Novo do Prado, 36, é o atual Reitor do Seminário Propedêutico Nossa Senhora da Assunção.
No dia a dia de convivência com aqueles que estão no primeiro estágio formativo de preparação para o sacerdócio, Padre João Henrique compartilha que o Sacerdote “deve levar esperança a muitos corações feridos, aflitos e desesperados. Esta esperança é o próprio Jesus, que consola a todos e que nos fortalece para seguir adiante”.
“Como padre, procuro ser sinal de esperança todos os dias para as pessoas que encontro, fazendo-me próximo delas, compartilhando de suas alegrias e de suas tristezas, acalentando-as com a celebrações dos sacramentos, principalmente a Eucaristia e a Confissão, e ofertando minhas orações por todos aqueles que Deus me confia”, conta.
À luz deste Ano Santo, Padre João Henrique assegura: “Ser padre é ser um peregrino de esperança, é caminhar junto ao povo de Deus, sendo para este amado povo um sinal vivo de esperança em um mundo marcado por tanta desesperança e de muitos corações dilacerados. Além disso, entendo o sacerdócio ministerial como um consumir a vida, ofertando tudo o que sou, para, a partir dessa oferta, as pessoas se encontrarem com Cristo”.
Coordenador da Pastoral Vocacional e do Centro Vocacional Arquidiocesano desde 2023, o Sacerdote afirma que “do seio familiar devem despertar vocações para a Igreja”, mas lamenta que, atualmente, a maioria das vocações não provenham da experiência de um lar católico: “O jovem descobre a vocação depois de um momento de conversão e caminha muitas vezes sozinho; há também situações em que a pessoa sente o chamado, mas a família não a apoia, não a incentiva. Ora, o papel da família é despertar, gerar, incentivar e acompanhar as vocações que depois vão amadurecendo na vida das comunidades eclesiais”.
Por fim, Padre João Henrique destaca que o “discernimento vocacional se faz com a Igreja e não sozinho, por isso a importância da participação dos vocacionados nas paróquias e comunidades de fé. E esse vocacionado acaba sendo um exemplo para outros jovens que podem também se sentirem chamados por Deus para uma vida de doação e de consagração”.