Paróquias buscam maior proximidade com os fiéis em condomínios

Na capital paulista, cerca de 29% da população vive em apartamentos, realidade que traz novos desafios à evangelização

Luciney Martins/O SÃO PAULO

A poucos metros do salão de festas já é possível ver pelas grandes janelas de vidro um banner com uma foto sorridente de Santa Teresa de Calcutá, as cadeiras dispostas em duas fileiras e o altar preparado para a missa. Pouco a pouco, os lugares vão sendo ocupados em meio à rotina de mais uma noite no Condomínio Residencial Parque Imperial, no Jardim Patente, na zona Sul da capital paulista.

Uma vez por mês, a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, da Vila Arapuá, Região Episcopal Ipiranga, realiza missa nesse condomínio onde vivem aproximadamente 2 mil pessoas. Na noite daquele 20 de março, cerca de 40 condôminos – a maioria de idosos e casais de adultos – foram até o salão de festas do bloco 9 para participar da Eucaristia, presidida pelo Padre João Bechara Ventura, Administrador Paroquial.

Para alguns moradores, como o casal Otávio Monteiro, 83, e Márcia Moschella Monteiro, 78, esta é a única oportunidade de ir à missa. “A nossa saúde já não permite mais que andemos tanto”, diz Otávio. “Ele quase não dirige mais e eu tenho alguns problemas na perna, então, para andar e para tomar um ônibus fica difícil. Ter esta missa aqui é uma bênção”, completa Márcia.

A IGREJA AO ENCONTRO DAS PESSOAS

Dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 12,5% da população do País vive em apartamentos. Em 2010, eram de 8,5%. Na capital paulista, assim moram atualmente 29,4% dos habitantes.

Essa realidade tem colocado às paróquias ao menos dois desafios: o de fazer com que as pessoas que vivem em apartamentos saibam que existe uma igreja próxima de seu condomínio; e o de adentrar a estes espaços para manter a proximidade com os fiéis e assegurar-lhes os sacramentos, especialmente para os que têm limitações de locomoção.

Fazer com que a comunidade paroquial vá “ao encontro das pessoas, como Igreja em saída, nas diversas realidades pessoais e sociais” é uma das propostas finais da assembleia sinodal do 1º sínodo arquidiocesano de São Paulo (2017-2023), bem como de que haja uma “constante conversão das estruturas paroquiais e pastorais já existentes, para facilitar o acolhimento e a inserção das pessoas em comunidades vivas e outras organizações em comunhão com a Igreja” (cf. 69 e 73).

UMA COMUNIDADE NO CONDOMÍNIO

Mais do que realizar uma missa mensal, a Paróquia Nossa Senhora Aparecida tem presença no Condomínio Residencial Parque Imperial com a Comunidade Santa Teresa de Calcutá, cujas atividades hoje são coordenadas pelos moradores Carlos Lodi, 56, Regina Célia Moralli de Souza, 64, e Elisa Mitiko Harano Sunohara, 64.

“A Comunidade começou em 2006. A nossa sorte, na época, foi a de que o síndico também era católico. Isso facilitou muito. A adesão foi um ‘trabalho de formiguinha’, seja para que as pessoas participassem, seja para fazer com que as demais aceitassem as missas”, recorda Carlos Lodi.

As missas mensais são agendadas conforme a disponibilidade do Administrador Paroquial e, posteriormente, divulgadas entre os condôminos via grupos de WhatsApp e por cartazes espalhados pelo condomínio. Todos os paramentos litúrgicos e os instrumentos, como a caixa de som e microfones, são de posse da comunidade e ficam guardados na casa dos moradores.

Regina e Elisa também são ministras extraordinárias da Sagrada Comunhão. “Na medida do possível, visitamos pessoas acamadas e aquelas que já não podem participar da missa, e levamos a elas a Eucaristia”, comenta Elisa. Essas pessoas também recebem a visita do sacerdote para os sacramentos e a bênção de seus lares.

Padre João Bechara, Administrador Paroquial desde setembro de 2023, diz que em anos anteriores houve a tentativa de se realizar missas em outros condomínios, mas a ideia não prosperou. “Aqui essa tradição da missa e da visita do padre tem passado de geração a geração. Já nestes condomínios mais recentes, há muita gente que é nova no bairro e é mais difícil chegar a elas”, avalia.

O Administrador Paroquial afirma sonhar com uma capela fixa neste condomínio, algo também desejado pelos leigos. Por ora, porém, o foco está em ter mais moradores engajados na Comunidade Santa Teresa de Calcutá.

“Temos sido fiéis todos estes anos, mantemos a Comunidade no condomínio, mas não atingimos a todas as pessoas que gostaríamos. Para isso, precisamos de maior participação dos demais”, comenta Regina.

Pouco a pouco, porém, a Comunidade tem se fortalecido a partir de simples iniciativas. Uma delas é o sorteio, ao final de cada missa, da família que irá acolher a pequena imagem de Santa Teresa de Calcutá durante o mês. Naquela noite, a “santinha” foi para o lar de Helton Capuzzo e Paloma Capuzzo, casados há dez anos. Sorridentes, eles comemoraram ter sido sorteados pela primeira vez e garantiram que iriam rezar diariamente diante da imagem.

DE BÊNÇÃO EM BÊNÇÃO E COM A AJUDA DE SANTOS INTERCESSORES

No Parque São Domingos, na zona Oeste, a Paróquia Santa Flávia Domitila, na Região Episcopal Lapa, tem buscado estar mais próxima aos moradores dos quatro conjuntos de prédios que a circundam.

Administrador Paroquial desde fevereiro de 2023, o Padre Fabrício Mendes de Moraes retomou uma das tradições desta Paróquia cinquentenária: a bênção dos lares. Com isso, mais portas têm se aberto também nos condomínios para momentos de oração e novenas em ocasiões como a Quaresma e o Natal.

“No maior destes conjuntos de prédios, nós realizamos no ano passado a novena durante a Quaresma. Também no mês da padroeira, em maio, conseguimos ir abençoar os apartamentos. E no fim de 2023, os próprios moradores lideraram a novena de Natal”, comenta o Sacerdote.

Durante a Campanha da Fraternidade 2024, o Padre foi a outros três condomínios para abençoar os apartamentos. Neles também têm sido mais frequente a presença das capelinhas da Mãe Peregrina, do movimento da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt. “Em cada conjunto de prédios, estamos colocando uma ou duas capelinhas, para que passe de apartamento a apartamento”, explica.

Outra estratégia foi colocar cada um dos conjuntos de prédios sob a intercessão de um santo: São Miguel, Santa Rita de Cássia, São Judas Tadeu e São Patrício foram os escolhidos pelos fiéis.

Pascom Paroquial

REVITALIZAÇÃO E RESGATE

Aparecida Conceição Rodrigues Picco, 75, e Leonita Pinto de Aguiar Xavier, 58, engajadas nas pastorais da Paróquia, asseguram à reportagem que após a intensificação das ações nos condomínios têm percebido a revitalização da assembleia de fiéis.

“Temos visto muitas ‘carinhas diferentes’ na missa e outras já conhecidas que tinham sumido da comunidade, mas agora estão participando pra valer”, comenta Aparecida.

“Acredito que estamos fazendo aquilo que o Papa Francisco pede, a ‘Igreja em saída’. Nós vamos ao encontro dessas pessoas, as convidamos para que participem das missas, e aos poucos as demais vão se achegando”, destaca Leonita.

Aparecida dá algumas dicas para as paróquias circundadas por prédios que queiram estreitar os laços de proximidade pastoral com seus moradores: “O primeiro passo é procurar identificar quem são os fiéis desses condomínios que participam das missas. Depois, pode se propor que eles convidem as demais pessoas do prédio para que façam momentos de oração, novenas, e, por fim, para que venham à igreja”.

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