Peregrinação das relíquias de Santa Teresinha ao Brasil entra na etapa final

Luciney Martins/ O SÃO PAULO

Até 20 de outubro, a urna com os fragmentos do corpo da santa carmelita e Doutora da Igreja, que viveu no século XIX, será levada a igrejas no estado de São Paulo, e às cidades do Rio de Janeiro e de São João Del Rei (MG)

Iniciada em janeiro deste ano e com passagens por cerca de 70 cidades do Bra­sil, a peregrinação das relíquias de Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897) entra em sua etapa final a partir desta semana.

Na quinta-feira, 26, as relíquias serão levadas à Basílica de Nossa Senhora do Carmo, no bairro da Bela Vista. Às 19h30, haverá a missa de acolhida, presidida por Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé. Até 20 de outubro, as relíquias estarão em outras igrejas na capital paulista, como a Paróquia Santa Teresinha, em Higie­nópolis; o Mosteiro de Santa Teresa, em Mirandópolis; a Igreja da Ordem Tercei­ra do Carmo e o Mosteiro de São Bento, na região central (veja a programação completa ao lado).

O CONTEXTO DA PEREGRINAÇÃO

Essa peregrinação das relíquias da “Santa das Rosas” ocorre após um pedido da Ordem dos Carmelitas Descalços do Brasil à Basílica de Santa Teresinha, em Lisieux, na França.

Esta é quarta vez que as relíquias são trazidas ao País. As anteriores foram em 1997, 1998 e 2022. Neste ano, a peregrina­ção se insere no contexto de dois jubileus: os 150 anos do nascimento da carmelita francesa, comemorados em janeiro de 2023, e os 100 anos de sua canonização, que serão celebrados em 2025.

No relicário que está sendo levado às paróquias estão fragmentos do fêmur e de ossos do pé de Santa Teresinha. Destaque­-se que o termo relíquia tem sua origem na palavra latina reliquiae, que significa “res­to, aquilo que sobrou”.

santateresinha
Reprodução

SANTA E DOUTORA DA IGREJA

Nascida em 2 de janeiro de 1873, em Alençon, na França, Marie Françoise Thérèse Martin era filha de Luís Martin e Zélia Guérin (canonizados em 2015 pelo Papa Francisco). A mãe faleceu quando Marie tinha apenas 4 anos de idade. Por essa razão, sua irmã mais velha, Pauli­na, foi referência de conduta para Marie.

Quando Paulina tornou-se monja car­melita, a jovem desejou seguir o mesmo caminho, mas o ingresso no Carmelo de Lisieux só foi viabilizado após o pai ter fei­to este pedido ao Papa Leão XIII.

No Carmelo, Marie Françoise adotou o nome de Irmã Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. Apesar de sua curta vida – Teresinha morreu aos 24 anos, devido a uma tuberculose, em 30 de setembro de 1897 – sua experiência de fé atravessou o tempo por meio de seus escritos em “His­tória de uma alma” – na qual está deta­lhada a “Pequena via”, caminho espiritual trilhado pela Santa –; “Correspondência geral”, com 266 cartas de Teresa de Lisieux a 199 dos seus correspondentes; e “Uma coleção de 54 poemas”.

Em 1914, São Pio X assinou o decre­to de abertura da causa de beatificação da Irmã Teresa. Suas virtudes heroicas foram proclamadas em 1921 pelo Papa Bento XV, e ela foi beatificada em 29 de abril de 1923 pelo Papa Pio XI, que a canonizou em 17 de maio de 1925. Dois anos depois, em 14 de dezembro de 1927, o mesmo Pontífice a proclamou padroeira das missões junto com São Francisco Xavier. Já em 19 de outubro de 1997, São João Paulo II pro­clamou Santa Teresinha do Menino Jesus como Doutora da Igreja, destacando que “seu ardente itinerário espiritual demons­tra muita maturidade, e as intuições da fé expressas nos seus escritos são tão vastas e profundas que a tornam digna de ser pos­ta entre os grandes mestres espirituais”.

A CONFIANÇA CONDUZ AO AMOR

Na comemoração dos 150 anos do nascimento de Santa Teresinha, em 2023, o Papa Francisco publicou a exortação apostólica C‘est la Confiance (CC), inicia­da com uma frase da Santa: “Só a confian­ça e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor”.

O documento ressalta o legado espi­ritual da carmelita francesa, enfatizando que seu amor a Jesus é a razão principal para sua alma missionária: “Teresa pôde definir a sua missão com as seguintes pa­lavras. ‘Eu desejarei no Céu o mesmo que na terra: amar Jesus e fazê-Lo amar’ [Carta 220, Ao Padre M. Bellière]. Escreveu que entrara no Carmelo ‘para salvar as almas’ [Manuscrito A]. Por outras palavras, não concebia a sua consagração a Deus sem a busca do bem dos irmãos”.

Francisco aponta que um dos legados de Santa Teresinha é a sua “Pequena via”, um caminho de confiança no amor de Cristo (cf. CC 14): “É o ‘doce caminho do amor’ [Manuscrito A], aberto por Jesus aos pequeninos e aos pobres, a todos. É o caminho da verdadeira alegria” (CC 17).

O Pontífice recorda ainda que no ma­nuscrito “História de uma alma”, a Santa aponta para o amor de Jesus por todas as pessoas (cf. CC 33) e ao final do texto “dei­xa-nos o seu Oferecimento como Vítima de Holocausto ao Amor Misericordioso de Deus [Oração 6]. Quando se entregou plenamente à ação do Espírito, recebeu, sem clamor nem sinais vistosos, a supe­rabundância da água viva: ‘as ondas, ou antes, os oceanos de graças que vieram inundar-me a alma’ [Manuscrito A]” (CC 35). Na obra, conforme lembra o Pontífice, Santa Teresinha fala ainda de seu grande amor pela Igreja “amante, humilde e mise­ricordiosa” (cf. CC 40).

O Papa lembra também que a contribui­ção da jovem carmelita como Santa e Dou­tora da Igreja não é analítica, mas sintética, ou seja, consiste em sua genialidade em fazer com que todos busquem aquilo que é essencial e indispensável à fé (cf. CC 49).

Na conclusão da exortação apostólica C‘est la Confiance, o Pontífice aponta que em um mundo marcado pelo individua­lismo e pela busca de necessidades super­ficiais, Santa Teresinha mostra a beleza de fazer da vida um dom, testemunha a radicalidade evangélica, ajuda a cada um a redescobrir a simplicidade e o primado absoluto do amor, da confiança e do aban­dono em Deus, e a todos convida a uma saída missionária (cf. CC 52), de modo que ela “está mais viva do que nunca no meio da Igreja em caminho, no coração do povo de Deus (…) O sinal mais belo da sua vitalidade espiritual são as inúmeras ‘rosas’ que vai espalhando, isto é, as graças que Deus nos concede por sua intercessão cheia de amor, para nos sustentar no per­curso da vida” (CC 53).

ITINERÁRIO DA PEREGRINAÇÃO DAS RELÍQUIAS

26 a 29/09 – Basílica de Nossa Senhora do Carmo (Rua Martinia­no de Carvalho, 114, Bela Vista)

30/09 – Basílica de Santa Teresi­nha (Rio de Janeiro)

01/10 – Paróquia Santa Teresinha (Rua Maranhão, 617, Higienópolis)

02 e 03/10 – Mosteiro de Santa Teresa (Avenida Jabaquara, 244, Mirandópolis)

04/10 – Diocese de São Miguel Paulista (Paróquia Santa Terezi­nha – Jardim Santa Terezinha)

05 e 06/10 – Diocese de Santo Amaro (Santuário Mãe de Deus; Catedral e Casa Geral dos Fra­des; e Mensageiros do Espírito Santo)

07/10 – Igreja da Ordem Terceira do Carmo (Avenida Rangel Pesta­na, 230, Sé)

08/10 – Diocese de Guarulhos (Paróquia Santa Teresinha)

09/10 – Diocese de Mogi das Cruzes

10/10 – Hospital das Clínicas

10 e 11/10 – Mosteiro de São Bento

12/10 – Diocese de São João Del Rei (MG)

13 a 20/10 – Paróquia Santa Tere­sinha (Higienópolis)

(Fonte: Ordem dos Carmelitas Descalços do Brasil)

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