Iniciativa que este ano completa duas décadas tem como uma das ações um projeto de compostagem comunitária na Vila Mariana
Com o propósito de articular ações transformadoras para as cidades brasileiras, foi criado há 20 anos o Programa Permanente Ecobairro, voltado a regeneração dos municípios de forma sustentável e colaborativa por meio da parceria entre as pessoas e as organizações públicas e privadas.
Todo o trabalho desenvolvido nos estados de São Paulo e da Bahia, e no Distrito Federal tem como base a educação, a saúde, a cultura, a ecologia, a política, a economia, a comunicação e a espiritualidade. Tais esferas se conectam em uma proposta educativa iniciada com a experiência do próprio indivíduo, ampliando-se para a sua casa, o seu quarteirão e o seu bairro, resultando em um trabalho em rede que abrange a infância, a juventude e a maturidade.
Em cada local em que o programa está, existe a preocupação de responder às necessidades específicas, promovendo um encontro gerador de transformação e educação socioambiental.
“Como programa, cada ação é uma oportunidade de enraizamento de um novo aprendizado, de um novo saber. Este é sempre o nosso propósito. Nós não conseguimos fazer tudo ao mesmo tempo. Temos que ir lançando as sementes. O novo somente é incorporado se for praticado, a mudança só se dá no encontro, se não, é um ato heroico. O encontro é uma chave essencial para todo esse processo”, explicou Lara Freitas, mestre em Gestão Urbana e cofundadora do Programa Permanente Ecobairro.
Segundo Elisa Rocha, educadora e nucleadora de ecologia do Programa, entender qual será a porta de entrada para a implementação das iniciativas é fundamental para o sucesso dos projetos. Ela afirma que não importa por onde a sociedade comece, mas sim que repense hábitos: “É urgente que as pessoas saiam do lugar onde moram e se conectem com o território que as cerca”.
Nesse sentido, diferentes ações são realizadas com as comunidades contempladas pelo Programa para que um caminho rumo à educação ambiental seja iniciado, entre elas: o bordado, a contação de história, o teatro, entre outros, todos com o propósito de atender o que determinado núcleo necessita e deseja.
RESÍDUOS QUE GERAM VIDA
Todo domingo pela manhã, Maria Teresa, 77, chega à Praça Pablo Garcia Cantero, no bairro da Vila Mariana, na zona Sul de São Paulo, carregando os resíduos orgânicos produzidos por ela ao longo da semana. O que antes era jogado no lixo tem uma nova perspectiva dentro do ciclo da própria natureza. Ela é uma das voluntárias do projeto de compostagem comunitária da Vila Mariana.
Iniciado em 2020, o projeto é ancorado pelo Programa Permanente Ecobairro, em parceria com a Associação dos Moradores da Vila Mariana e outras iniciativas públicas e privadas, e se dá, sobretudo, pela participação dos moradores da região que assumiram o compromisso de guardar os seus resíduos orgânicos e os levar semanalmente para a composteira termofílica na Praça, a primeira montada em espaço público.
Esse tipo de composteira reúne os resíduos orgânicos com capacidade de desenvolvimento em altas temperaturas, normalmente acima de 55 graus.
Um ano antes, a iniciativa foi implementada ainda em formato experimental em uma área no Museu do Inseto, também na Vila Mariana.
De 2020 até agora, estima-se que mais de 60 mil toneladas de resíduos já tenham sido transformados em adubos e reinseridos na natureza.
Maria Teresa chegou ao bairro no início do projeto e logo se encantou com a iniciativa. A ida ao projeto se tornou para ela um compromisso semanal. À reportagem, ela contou que gosta de contribuir com a retirada dos microlixos que eventualmente estejam na praça, e com toda a dinâmica do dia. Além disso, tem realizado as formações oferecidas pelo Programa para incentivar a prática da compostagem no condomínio em que mora.
TALENTOS COLOCADOS A SERVIÇO
Além de Maria Teresa, outros moradores assumiram a missão de zelar pela composteira e pela Praça Pablo Garcia Cantero. Eles chegam carregando baldes e sacolas com os seus resíduos, observam quais manutenções são necessárias no local e as realizam de forma espontânea. Posteriormente, cada um, após a checagem das condições térmicas da composteira, deposita o material produzido nos ambientes, chamados de leiras.
O adubo produzido por esses resíduos é distribuído na praça, nas árvores e no solo. Esse trabalho mudou radicalmente a saúde e a aparência da praça, que antes apresentava um chão de aspecto duro e sem nutrientes.
Para a educadora do Programa, Luciene Murozaki, o mais importante de toda a ação é o entendimento do trabalho em comunidade naquilo que cada pessoa é capaz de contribuir. Ela recordou que cada voluntário que chega oferece os seus talentos em favor da iniciativa, seja com montagem das leiras (feitas de madeira), seja na pesagem dos resíduos ou ainda para a limpeza do local e e outros serviços que sejam necessários.
Na praça restaurada pelo projeto, tudo vem do próprio meio ambiente. Desde troncos de árvores utilizados como brinquedos livres, que incentivam a imaginação de crianças, às folhas secas que ajudam a proteger o solo e as plantações.
Em São Paulo, o Programa Ecobairro também está no Alto de Pinheiros e na Vila Leopoldina.
OUTRAS AÇÕES DO PROGRAMA ECOBAIRRO
Projeto Municipalidades em Transição
Em parceria com o poder público e a sociedade civil, o trabalho visa a criar soluções sustentáveis para problemas ecológicos em nível global. A experimentação de tais ações ocorre na Subprefeitura da Vila Mariana.
One Planet Living
Visa ao processo de cocriação de um Plano de Ação para a Vila Mariana, a partir da visão de moradores, representantes de empresas, iniciativas, coletivos, organizações, escolas, conselhos locais e poder público; tendo por base a metodologia internacional Planet Living.
Projeto Piloto de Arborização de Calçadas (PPAC)
A partir da parceria entre poder público e comunidade, tem o objetivo de desenvolver e aplicar uma metodologia participativa para ampliação da cobertura vegetal arbórea em um quadrilátero no Distrito da Saúde, a partir do plantio de árvores nas calçadas.
(Fonte: Programa Permanente Ecobairro)