Na zona sul da cidade, a Associação Fernanda Bianchini promove a inclusão e o autocuidado por meio das expressões artísticas e corporais

“Antes de descobrir o ballet, eu era muito tímida e andava curvada por causa de uma escoliose severa. Hoje, a escoliose melhorou bastante graças à dança, fisioterapia e pilates”.
Izabel Sampaio, 23, é deficiente visual. Ela é uma das 18,6 milhões de pessoas que convivem com algum tipo de deficiência no Brasil (8,9% da população), segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD): Pessoas com Deficiência 2022. Desse total, 506 mil são cegas e outras 6 milhões de pessoas possuem baixa visão.

Moradora do Jardim Gianetti, na zona Leste de São Paulo, Izabel foi diagnosticada com glaucoma aos 6 anos de idade, mas desde quando era bebê, sua mãe, Edna Maria, percebia um comportamento incomum na filha: sempre que saíam de casa, a menina fechava os olhos ao ser exposta à luz do sol. “Decidi levá-la ao oftalmologista e se confirmou o glaucoma”.
Quando Izabel completou 8 anos de idade, após ter feito sua segunda cirurgia para tratar o glaucoma, ela começou a perder a visão gradativamente. Hoje, convivendo com o descolamento da retina no olho esquerdo, a jovem pratica ballet, fisioterapia e pilates, após uma de suas professoras da escola pública apresentá-la à Associação Fernanda Bianchini (AFB), que atende gratuitamente crianças, jovens e adultos com deficiências variadas, tendo impactado positivamente, desde 1995, mais de 3 mil vidas por meio da dança, do teatro e do canto.

“Na escola, eu era a única criança com deficiência visual, e era excluída, chamada de ‘café com leite’. Quando conheci a Associação Fernanda Bianchini, senti que ali era o meu lugar e fui acolhida”, relatou Izabel, que soube da existência da instituição quanto tinha 14 anos de idade.
No final deste ano, Izabel se formará em ballet. “Quando estou dançando, me vem uma sensação de liberdade. Eu sinto que não há barreiras que me impeçam de fazer qualquer passo”, destacou.

VIDAS TRANSFORMADAS POR MEIO DA ARTE
Fernanda Bianchini Saad, 47, é bailarina, fisioterapeuta e fundadora da AFB. “Atuamos com o público que muitas pessoas não têm a mesma paciência em ensinar. Nós contamos com um espaço 100% acessível e agora estamos trabalhando para mudar a acessibilidade ‘Atitude Now’”, comentou à reportagem do O SÃO PAULO.
No começo deste mês, foi inaugurada a nova sede da AFB, na Rua Nelson Fernandes, 217, em frente ao Metrô Jabaquara, na zona Sul, com um ambiente amplamente acessível às pessoas com deficiência, incluindo placas sinalizadoras dentro da associação, no trajeto e no entorno da instituição.

“É possível mudar a consciência e a atitude humana em pequenas coisas, como colocando faróis sonoros em frente à AFB e ao metrô, e contar com uma saída personalizada para que os alunos tenham facilidade para chegar à nossa sede, onde poderão ter suas vidas transformadas pela arte”, ressaltou Fernanda Bianchini (na foto ensinando ballet para Izabel Sampaio).
“Tudo mudou, tínhamos poucas salas e agora aqui vamos ter mais espaço”, comemorou Geovanna Costa, 16, uma das alunas da AFB. Quando tinha 1 ano e seis meses de vida, ela foi diagnosticada com paralisia cerebral.
Há nove anos, Geovanna frequenta a Associação Fernanda Bianchini. “Com as aulas, ela teve mais autonomia, está mais sociável, tem mais autoconfiança. Ela sempre pensava que não podia dançar em uma cadeira de rodas, mas na AFB ela viu que é possível”, relatou a mãe da jovem, Fabiana Custódio, 36.

O OLHAR PARA AS FAMÍLIAS
Atualmente, a AFB conta com uma equipe de 35 colaboradores profissionais e 50 voluntários.
Elisa Sonoda, coordenadora de saúde da instituição, ressalta o cuidado que há para a preparação física na escola de dança, a fim de que as alunas não se machuquem, além da preocupação de garantir suporte às famílias. “Os acompanhantes das alunas também fazem aulas de pilates e ioga para descansar a mente e ficarem relaxados”, exemplifica.

“Falar sobre a saúde mental da pessoa com deficiência é importante, assim como pensar na família que está ali a apoiá-la, e que também precisa de um amparo. Nosso papel é transformar não só a vida dos estudantes, mas de todo o seu entorno familiar”, ressaltou Elisa.
Vinícius Longuinho, 28, coordenador pedagógico de dança, explicou que os professores recebem treinamento especializado para oferecer um atendimento de qualidade aos 400 alunos.
“Eu acredito que a acessibilidade está ligada com autonomia, de que a pessoa precisa conseguir fazer suas atividades sozinha. Esperamos que neste novo prédio, os nossos alunos sintam-se ainda mais confiantes e sejam protagonistas das suas próprias histórias”, finalizou.