Reaberta há 25 anos, Rádio 9 de Julho faz ressoar o Evangelho e a vida da Igreja

Emissora da Arquidiocese de São Paulo tem planos avançados para operar em FM; fiéis e paróquias são chamados a colaborar na coleta anual para a rádio em 12 de maio

Funcionários, comunicadores e ouvintes da 9 de Julho, em evento da rádio; no detalhe, o Padre Jorge Silva, Diretor, e o Cardeal Odilo Scherer
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

“Que esta rádio seja um sinal vivo da ternura de Deus para com o povo, anuncie o amor de Deus Pai para com todos e torne a nossa Arquidiocese uma Igreja mais missionária e evangelizadora”. Assim exortou o Cardeal Cláudio Hummes, então Arcebispo Metropolitano, em 23 de outubro de 1999, na solenidade, no Mosteiro da Luz, em que a rádio 9 de Julho oficialmente voltou ao ar.

Foram 26 anos de silenciamento desde que o regime militar lacrou os transmissores da rádio, em 1973. “A voz de Deus será ouvida e acolhida, como foi no passado, e o clamor do povo alcançará a justiça social, a solidariedade e a paz expressas com clareza mediana no Evangelho de Cristo Jesus”, disse o Cardeal Paulo Evaristo Arns, à época Arcebispo emérito, ao comemorar a reabertura da emissora, feito pelo qual tanto se empenhou.

Passados 25 anos, as metas de atuação da emissora se mantêm. “A rádio 9 de Julho tem um compromisso com a evangelização na Arquidiocese de São Paulo. O propósito, desde o início, é comunicar o Evangelho e anunciar Jesus. Ela é uma antena de Deus, um sinal visível para anunciar a Palavra no ar”, ressaltou, à reportagem, o Padre Jorge Silva, Diretor-geral da emissora que é mantida pela Fundação Metropolitana Paulista.

Cardeais Arns e Hummes nos estúdios da emissora no dia da bênção dos transmissores, em 1999
Douglas Mansur/Arquivo O SÃO PAULO

70 ANOS DE HISTÓRIA

Criada em 1953, a rádio 9 de Julho foi oferecida à Arquidiocese de São Paulo pelo então presidente da República, Café Filho, após a conclusão das comemorações do IV centenário da cidade de São Paulo, em 1954. A concessão foi efetivada pelo decreto nº 37.744, de 12 de agosto de 1955, assinado pelo presidente à época Juscelino Kubitschek.

Em 2 de março de 1956, a rádio iniciou as operações, sediada inicialmente no Palacete do Carmo, no centro da cidade. Em 1970, foi transferida para uma nova sede, no bairro da Vila Mariana, já sob os cuidados dos Padres Paulinos. Em 30 de setembro de 1973, um decreto do governo do presidente Emílio Garrastazu Médici declarou peremptas as ondas médias e curtas da rádio 9 de Julho, que teve seus transmissores lacrados em 5 de novembro daquele ano.

“Dom Paulo Evaristo Arns e outros bispos achavam que não havia mais liberdade suficiente para o povo e, por isso, a Igreja foi lutar pelos direitos humanos. Eu estive neste grupo. Não queríamos derrubar governo algum, mas, sim, libertar a comunicação católica. Queríamos o direito de pregar a Doutrina Social da Igreja, e isso nos custou caro, mas não tivemos medo. Fecharam a rádio 9 de Julho, mas não a nossa boca”, recordou em entrevista ao O SÃO PAULO, em setembro de 2022, o Padre Zezinho, o último a apresentar um programa na rádio antes do fechamento.

Com a gradual volta do regime democrático ao Brasil, Dom Paulo Evaristo incumbiu o jurista Hélio Bicudo para iniciar, em 1985, as tratativas para recuperar a concessão da rádio; mas foi apenas em maio de 1993 que o Ministério das Comunicações deu parecer favorável ao pedido. Finalmente, no dia 9 de julho de 1996, o então presidente Fernando Henrique Cardoso anulou o decreto de Médici e homologou a portaria do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, devolvendo a 9 de Julho à Fundação Metropolitana Paulista, para operar na frequência de AM 1.600 kHz.

Nos anos que se seguiram, houve ampla mobilização da Arquidiocese para construir as novas instalações da rádio no bairro da Freguesia do Ó e fazer todas as adequações técnicas e estruturar a programação, tarefas lideradas pelo Monsenhor Dario Benedito Bevilacqua, nomeado em 1997 por Dom Paulo como Diretor da rádio, e por Francisco Paes de Barros, experiente profissional de radiodifusão, contratado como diretor-executivo da emissora.

Em 19 de março de 1999, a rádio voltou ao ar em caráter experimental, e em 23 de outubro do mesmo ano, foi oficialmente reaberta. As paróquias da Arquidiocese e todo o povo de Deus em São Paulo foram chamados a colaborar para a reabertura da 9 de Julho, fazendo doações financeiras por ligação telefônica ou transferência bancária. Houve ainda uma ampla campanha com outdoors pelas ruas e anúncios em jornais, revistas e emissoras de tevê.

DINÂMICA, INTERATIVA E MULTIPLATAFORMA

Atualmente, cerca de 100 pessoas, entre funcionários e colaboradores voluntários, dão vida à rádio 9 de Julho. Padre Jorge destaca que o Cardeal Scherer, os bispos auxiliares e cerca de 30 padres, diáconos e seminaristas participam ativamente da programação, bem como religiosas consagradas e leigos. Segundo o Diretor, a rádio tem buscado ser mais interativa e ter uma linguagem mais moderna.

“Temos de aproximar a 9 de Julho dos jovens, pois eles têm muita facilidade com essa questão das mídias sociais e da internet. Pensamos que o jovem pode evangelizar outro jovem por meio da rádio. Hoje, já temos muitos colaboradores jovens, especialmente por meio da Pastoral da Comunicação. Isso não significa que iremos deixar o outro público, afinal são esses ouvintes que trouxeram a rádio até aqui”, ressaltou Padre Jorge.

A jornalista Cleide Barbosa, coordenadora de programação da emissora, destacou que essa mudança também envolve posicionar a rádio 9 de Julho como um veículo multiplataforma. “Quando pensamos um conteúdo para o rádio, também o pensamos para as redes. O programa transmitido no AM também vai para o Facebook, o YouTube, e há recortes de trechos para postar no Instagram e nos stories do Facebook. Temos ainda o desafio de modernizar o aplicativo da rádio, para que seja cada vez mais interativo”, detalhou.

O PROJETO DA 9 DE JULHO NO FM

De acordo com o Padre Zacarias José de Carvalho Paiva, membro do conselho curador da emissora, a Fundação Metropolitana Paulista, por meio do seu conselho curador, já deu entrada nos órgãos competentes para a migração da rádio do AM (Amplitude Modulada) para o FM (Frequência Modulada), e está ao aguardo da manifestação do Ministério das Comunicações.

A rádio já tem se preparado para esta migração, e um dos principais entusiastas é o próprio Arcebispo de São Paulo. “Nós iniciamos o processo de migração da rádio 9 de Julho para se tornar uma FM. Espero que em breve, não sei dizer em quanto tempo, nós passemos para o FM. Com isso, esperamos alcançar mais ouvintes e de uma faixa etária mais jovem”, disse Dom Odilo no programa Construindo Cidadania, no sábado, 4.

Padre Jorge Silva explicou que a diversificação da programação já ocorre pensando na migração para o FM e que os funcionários estão sendo capacitados para essa mudança. “Estamos preparados. A hora que for possível colocar a rádio no ar em FM, já teremos o que oferecer”, assegurou. “Com uma rádio FM na Arquidiocese, temos muito a ganhar na parte da evangelização”, completou.

COM O APOIO DOS OUVINTES E DAS PARÓQUIAS

Para a manutenção da estrutura atual da rádio e para as mudanças que precisarão ser feitas para o FM, como na arquitetura dos estúdios e a aquisição de equipamentos, a colaboração financeira dos ouvintes e do todo o povo de Deus em São Paulo é fundamental.

Todos os anos, no Domingo da Ascensão do Senhor, quando também é celebrado o Dia Mundial das Comunicações Sociais, as paróquias e comunidades da Arquidiocese realizam a coleta em prol da emissora. Em recente carta aos bispos auxiliares, padres e diáconos da Arquidiocese, o Cardeal Scherer pediu-lhes empenho nesta iniciativa e lembrou que “a rádio 9 de Julho é um instrumento e meio de evangelização da nossa Arquidiocese, que depende do apoio de todos os católicos”.

“O povo da Arquidiocese adotou a rádio 9 de Julho como uma filha querida de sua casa. A coleta, portanto, é uma forma de gratidão. Contamos muito com esta ajuda, pois sem ela não conseguimos manter a rádio no ar. E temos de mantê-la de pé, pois a rádio é a maior catedral de São Paulo para anunciar o Evangelho”, avaliou Padre Jorge.

Outra maneira de apoiar a emissora é por meio da Família dos Amigos, com o compromisso de uma contribuição financeira mensal. A rádio realiza ações específicas em gratidão aos amigos evangelizadores, entre as quais a “Bênção do Lar”, na qual padres comunicadores vão às casas para um momento de oração, diálogo e bênção.

Aldayr dos Santos e Silva, 85, é uma das amigas evangelizadoras da rádio. “E não somente eu, mas também meu neto e meus bisnetos são. Eu falo da rádio pra todo mundo da minha família e para meus amigos”, assegurou a moradora da Vila Guilherme, na zona Norte, e que escuta a emissora desde antes do fechamento de 1973. “A rádio tem uma programação muito boa, muito clara sobre a evangelização, com uma linguagem que todo mundo entende”, destacou.

Para participar da Família dos Amigos, acesse: https://radio9dejulho.com.br.

COMEMORAÇÕES

Como parte das comemorações do jubileu de 25 anos de reabertura, a rádio 9 de Julho foi homenageada em sessão solene na Câmara Municipal de São Paulo, na segunda-feira, 6 e em outubro deve ocorrer um grande momento celebrativo.

Uma logomarca especial também foi desenvolvida. “A logomarca destes 25 anos foi pensada recolhendo as contribuições desde a primeira logo da rádio. Ela remete ao primeiro radinho preto, que tinha uma antena como uma cruz; há um sinal em cima com as ondas de internet, o número 25 e as cores da Arquidiocese de São Paulo”, explicou Cleide Barbosa.

O jubileu tem sido um momento especial para os ouvintes e, também, para os comunicadores, como é o caso de Josiene, que faz dupla sertaneja com Joseval. Eles apresentam, desde outubro de 2016, o programa Amanhecer do Sertão, aos domingos, das 5h às 7h.

“Quando eu era criança e ouvia a rádio com meus pais no interior do Paraná, jamais poderia imaginar que um dia teria um programa na 9 de Julho. É uma sensação maravilhosa. Eu visto a camisa, faço com amor”, assegurou.

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