Após 50 anos, os quatro sinos da Basílica Nossa Senhora da Conceição, no bairro Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, voltaram a soar juntos na noite de segunda-feira, 9, após serem restaurados.
A bênção e reinauguração do campanário foram realizadas pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, com a participação de fiéis da comunidade paroquial e membros do Grupo Comolatti, patrocinador do restauro. Os trabalhos de manutenção, limpeza e modernização do sistema de automação foram realizados pela empresa Sinos Angeli.
TEMPLO HISTÓRICO
Uma das igrejas mais antigas da cidade, a Basílica Nossa Senhora da Conceição remonta ao século XVIII, quando duas irmandades de escravizados alforriados construíram a Capela de Santo Elesbão e Santa Ifigênia, dois santos negros. No início do século XIX, em 1809, Dom João VI, ainda príncipe regente, criou a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, com a capela como sua primeira sede. A igreja colonial foi demolida no início do século XX para a construção de uma nova matriz, cujo projeto foi elaborado pelo arquiteto austríaco Johann Lorenz Madein. A construção da atual igreja começou em 1904, sendo inaugurada, ainda inacabada, em 1910. As obras terminaram por volta de 1914. O interior foi ricamente decorado com pinturas, vitrais, púlpitos e um órgão.
Entre 1930 e 1954, em razão da construção da Catedral da Sé, a “Igreja de Santa Ifigênia” foi pró-catedral da Arquidiocese. Em 1958, foi elevada à dignidade de basílica menor pelo Papa Pio XII. Foi tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) em 1992.
PATRIMÔNIO CULTURAL E ESPIRITUAL
Padre João Paulo Rizek, Pároco há pouco mais de um ano, destacou ao jornal O SÃO PAULO a relevância histórica e espiritual dos sinos da basílica. “Temos quatro sinos. Um deles é do século XVIII, outro do século XIX, e os dois mais recentes, do século XX. Inclusive, esses dois últimos foram produzidos pela mesma família Angeli, cujo descendente os automatizou agora”, comentou o Sacerdote.
Além do significado histórico, o Padre ressaltou o impacto espiritual dos sinos na vida paroquial.
“Os sinos têm a função de lembrar as pessoas de seu compromisso com Deus e, na fé católica, sinos bentos como esses possuem também um poder sobrenatural, como o de espantar o mal”, enfatizou.
Os toques diários ao meio-dia e às 18h, horários tradicionais de oração da Ave-Maria, já estão planejados. “Tenho certeza de que isso vai ajudar muito o povo do centro de São Paulo, em uma área tão comercial, a não pensar apenas em dinheiro, mas também em Deus”, afirmou Padre João Paulo, que vê com entusiasmo essa revitalização que devolve à comunidade uma parte significativa da identidade e da fé locais.
TRADIÇÃO
Patrocinar o restauro de sinos de igrejas em São Paulo tornou-se uma tradição do Grupo Comolatti. Em 17 anos, já foram restaurados os campanários de 18 igrejas da Arquidiocese de São Paulo, tais como as Paróquias São Vito Mártir, Bom Jesus do Brás, Nossa Senhora do Brasil, Nossa Senhora da Paz, São Cristóvão, São José do Belém e São João Batista do Brás, além da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte e do Mosteiro de São Bento, no centro. Em 2010, foi restaurado o carrilhão de 61 sinos da Catedral da Sé, o maior da América Latina.
Sérgio Comolatti, presidente do conselho de administração do grupo empresarial, recordou que a iniciativa busca manter viva a tradição de, “com o toque dos sinos, chamar as pessoas para a Igreja, pois o soar dos sinos é uma forma de comunicação que atravessa gerações e representa para a família Comolatti um legado de fé”.
“É uma satisfação contribuir para que seus sinos continuem a soar com qualidade, anunciando a presença da Igreja Católica na cidade”, acrescentou o empresário.
SINAL PARA A CIDADE
Ao agradecer ao Grupo Comolatti por mais um restauro de sinos realizado, o Cardeal Scherer recordou que os sinos estão ligados à vida do povo de Deus. “O seu som marca os tempos da oração, reúne o povo para realizar as ações litúrgicas e avisa os fiéis sobre acontecimentos mais sérios que podem significar aflição ou alegria para esta porção da Igreja, nesta parte da cidade ou para cada um dos fiéis”, afirmou o Arcebispo.
Dom Odilo destacou, ainda, que, na metrópole, em meio ao barulho de tantas vozes, “temos que fazer o possível para que a presença da Igreja seja percebida na cidade”.