
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO
Os sinos da Igreja Nossa Senhora Achiropita anunciavam, às 19h30 da sexta-feira, 15, o início de uma grande festa no coração do Bixiga. No templo próximo a bares e restaurantes, moradores e devotos se reuniram para celebrar a padroeira do bairro, em missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano.
Há 99 anos, o mês de agosto é marcado na região pela valorização da cultura italiana e pela manifestação de fé mariana, consolidando a Festa de Nossa Senhora Achiropita como uma das mais tradicionais da cidade.

‘A NOSSA HISTÓRIA PASSA PELA ACHIROPITA’
Fundada em 1926, a Paróquia Nossa Senhora Achiropita é um dos símbolos mais expressivos da fé e da herança italiana na capital.
Sua origem se relaciona com a chegada ao bairro de imigrantes vindos da Calábria, no Sul da Itália. Eles trouxeram consigo uma imagem de Nossa Senhora Achiropita, que passou a ser venerada pelos fiéis em um altar de madeira montado na Rua Treze de Maio. Entre os dias 13 e 15 de agosto, eram celebradas missas e realizadas as primeiras festas com o objetivo de angariar fundos para a compra do terreno onde foi erguida a igreja.
Maria Emília, 77, é exemplo de como a tradição se consolidou no bairro e atravessa gerações. Neta dos primeiros imigrantes italianos que ali chegaram, ela cresceu vendo seus pais atuarem na comunidade: “A nossa história passa pela Achiropita. É impossível falar do bairro sem que ela esteja no centro de tudo.”
Segundo a paroquiana, graças à festa, “hoje a devoção a Nossa Senhora Achiropita é mais forte no Brasil do que na Itália”.
“Nós temos zelo pela tradição italiana, pois foram os italianos que fizeram este bairro, esta igreja e toda esta comunidade. Trabalhamos com alegria, porque sabemos que todo o nosso esforço não tem preço. Quando saímos daqui cansados, não reclamamos, mas agradecemos a Deus pela saúde que nos permite servir. Achamos que estamos doando, mas, na verdade, recebemos muito mais”, expressou Maria.

O MOTOR DA SOLIDARIEDADE
Mais do que entretenimento, a festa que ocorre nas Ruas Treze de Maio, São Vicente e Doutor Luís Barreto tem como principal objetivo manter os oito projetos sociais da Paróquia.
Atualmente, são 35 barracas de comidas típicas italianas, bebidas e brinquedos, movimentadas por mais de 1,3 mil voluntários.
A festa envolve números expressivos: 20 toneladas de molho, 12,5 toneladas de macarrão, 15 mil fogazzas por noite e sete toneladas de linguiça. Toda a renda é revertida para obras sociais que beneficiam diariamente mais de 1,1 mil pessoas.

“Tudo é muito bonito, traz muita gente, mas é fundamental que todos entendam a importância de estarem aqui. Nada do que nós angariamos nesta festa é destinado à Paróquia, mas sim aos projetos sociais”, assegurou o Padre Roberto Silva, PODP, Pároco.
Mônica Conte, paroquiana e voluntária, destacou que a presença de São Luís Orione, sacerdote italiano que iniciou os trabalhos na comunidade paroquial, marcou a espiritualidade da comunidade.
“Quando Orione pisou neste chão, ele infundiu o amor pela caridade. Sentimos esse amor pelos que nada têm. Estamos aqui para garantir que nossos projetos continuem firmes e, se outros surgirem, estaremos prontos para ajudar sempre os menos favorecidos”, afirmou.
Além da manutenção das obras sociais, a comunidade paroquial também realiza a campanha SOS Restauro, voltada à preservação arquitetônica do templo. Detalhes sobre a ação podem ser consultados em https://achiropita.org.br/doacoes.

UMA OBRA FEITA PELAS MÃOS DE DEUS
Durante a celebração, o Arcebispo de São Paulo destacou a ligação da festa com a solenidade da Assunção de Nossa Senhora e explicou o significado do nome Achiropita, que em grego quer dizer “aquela que não foi pintada”.
“Nossa Senhora do Céu, gloriosa, bonita e bela. Não é obra de artista, é obra de Deus, que a fez assim, tão extraordinariamente bela e gloriosa, porque a chamou para participar plenamente da glória do Céu”, afirmou.
Dom Odilo sublinhou que Deus preparou Maria para ser a Mãe digna do Salvador e que sua elevação ao Céu é um sinal de esperança para todos os fiéis: “Olhando para ela hoje, elevada ao Céu, ficamos cheios de esperança. Como diz o Evangelho, ela é um grande sinal de esperança para todos nós, que ainda estamos a caminho como peregrinos.”

O Purpurado também recordou que a Igreja vive o Ano Santo, ocasião em que os cristãos são chamados a renovar a fé e a esperança no projeto de salvação de Deus:
“Em Maria, elevada ao Céu, essa plenitude já se realizou. Por isso, olhamos para ela com alegria e esperança. Nesta festa, Nossa Senhora, celebrada aqui como Achiropita, nos inspire, conforte nosso caminho, nos encoraje todos os dias e confirme a nossa esperança”.
Após a conclusão dos festejos deste ano, um comitê será formado para cuidar dos detalhes da festa centenária, a ser realizada em 2026.
CONHEÇA OS PROJETOS DAS OBRAS SOCIAIS NOSSA SENHORA ACHIROPITA
- Centro de Atendimento Jurídico Dom Orione: garante acesso a direitos básicos da população em situação de vulnerabilidade, especialmente no centro da cidade.
- Casa de Acolhida Rainha da Paz: desde 2012, acolhe homens em situação de dependência química em Campos do Jordão (SP), oferecendo, durante nove meses, um itinerário de reabilitação com espiritualidade, trabalho e cuidados.
- Centro Educacional Dom Orione: atende crianças e adolescentes de 6 a 14 anos em situação de vulnerabilidade, com práticas educativas e sociais.
- Centro de Educação Infantil Mãe Achiropita: criado em 2006, atende 211 crianças de até 6 anos em período integral. Mais de 2 mil já passaram pelo projeto.
- Movimento de Alfabetização para Jovens e Adultos: promove alfabetização e inclusão social de jovens e adultos a partir dos 16 anos.
- Memorial Achiropita Orione: espaço de memória e espiritualidade que preserva a herança italiana, a devoção a Dom Orione e os projetos sociais da Paróquia.
- Núcleo de Convivência para Adultos em Situação de Rua: oferece acolhimento diário a cerca de 300 pessoas, com alimentação, higiene, descanso e atividades de reinserção social.
- Núcleo de Convivência de Idosos Dom Orione: atende cerca de 160 idosos por mês, fortalecendo vínculos familiares e comunitários e promovendo saúde e bem-estar.