Seminário de comunicação trata sobre os desafios e perspectivas da inteligência artificial

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Para aprofundar o tema da mensagem do Papa Francisco para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais – “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana” –, a Paulinas Cursos, Serviço à Pastoral da Comunicação (Sepac) realizou, entre os dias 2 e 4, em parceria com a Associação Católica de Comunicação (Signis Brasil) e a Arquidiocese de São Paulo, o 4º Seminário de Comunicação.

A atividade contou com a participação de agentes da Pastoral da Comunicação (Pascom) e demais interessados no assunto. Foi realizada na forma on-line nos dois primeiros dias e, no sábado, 4, concluída com um evento presencial, com transmissão pelas mídias digitais, no Auditório Paulo Apóstolo, das Irmãs Paulinas, na Vila Mariana.

A primeira conferência do seminário foi conduzida pela professora Elizabeth Saad, doutora em Ciências da Comunicação, docente da USP e consultora no campo das mídias digitais. Ela refletiu sobre as aplicações práticas e os possíveis caminhos que a humanidade pode ter com a inteligência artificial (IA).

NO COTIDIANO

A professora recordou que embora a IA tenha se popularizado com a criação da plataforma ChatGPT, em 2022, esse fenômeno não é uma novidade recente e está presente há muito tempo no cotidiano das pessoas que lidam de alguma forma com a tecnologia. Considera-se como inteligência artificial qualquer técnica que permita ao computador imitar a inteligência humana, usando a lógica, regras matemáticas, árvores de decisão e machine learning (aprendizado de máquinas).

A pesquisadora alertou para o risco de uma compreensão equivocada do termo “inteligência artificial”, que, ao contrário do que muitos imaginam, não possui consciência ou autoconsciência. Elizabeth também observou que o desconhecimento dessas tecnologias pode gerar medo, alimentado por representações na mídia e na cultura popular que, muitas vezes, retratam a IA como uma ameaça para a humanidade. A professora reconheceu, contudo, as preocupações sobre as implicações éticas da IA, incluindo questões relacionadas à privacidade, viés, deslocamento de empregos etc.

“Como a presença cotidiana cada vez mais intensa da inteligência artificial, seus impactos na leitura e na análise de informações – e também nos sistemas automatizados de decisão – interferem no desenvolvimento do pensamento crítico?”, indagou Elizabeth Saad, lembrando que a cultura e a vida cotidiana das pessoas já são mediadas por “assistentes virtuais” como o Google, Alexa e Siri, cujos objetivos são extrair conhecimento sobre seus usuários, utilizando técnicas de IA, além de interpretar a linguagem natural e fornecer respostas às perguntas dos usuários.

IGREJA E IA

No segundo dia do evento, a Irmã Joana Puntel falou sobre o interesse da Igreja por essa temática e as implicações pastorais da IA. Religiosa paulina, jornalista, doutora em Ciências da Comunicação e docente no curso Comunicação, Teologia e Cultura (Sepac/Itesp), ela destacou que a Igreja reconhece e “se alegra com as extraordinárias conquistas da ciência e da tecnologia, os progressos notáveis das novas tecnologias da informação, sobretudo na esfera digital”, e acrescentou que o magistério da Igreja sabe que a inteligência artificial vai se tornar cada vez mais importante.

No âmbito pastoral, a religiosa paulina sublinhou a necessidade de:

  • Promover a formação e a capacitação dos fiéis para o discernimento e o uso adequado da IA;
  • Contribuir com o debate público para estabelecer diretrizes éticas para o desenvolvimento e a utilização da IA e, mais especificamente, estabelecer as suas diretrizes no âmbito religioso;
  • Incentivar o diálogo entre fé e tecnologia, buscando uma integração saudável e profícua;
  • Ajudar a crescer na compreensão de que nosso tempo requer uma reinterpretação da fé, isto é, um diálogo com as ciências, como tem demonstrado o Papa Francisco;
  • Garantir que a IA seja utilizada para promover a inclusão, a justiça e a solidariedade, sempre em consonância com a mensagem do Evangelho;
  • Formar grupos (especialmente de jovens) que conversem sobre essa temática, mas que estudem e discutam o ensinamento do Magistério da Igreja sobre a inteligência artificial, sobretudo o que o Papa chama de “algorética”.

SABEDORIA DO CORAÇÃO

Para concluir o seminário, foi convidada a Irmã Rosa Martins, religiosa missionária scalabriniana, mestra em Jornalismo, Imagem e Entretenimento pela Fundação Cásper Líbero, licenciada em Filosofia e bacharela em Teologia.

O evento também contou com a presença do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo; Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé; Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade; além do Padre Antônio Francisco Ribeiro e da Irmã Viviani Moura, FSP, respectivamente, Coordenador e Vice-Coordenadora da Pascom Arquidiocesana.

Além de compartilhar a sua experiência pastoral e de pesquisa na área da comunicação, Irmã Rosa enfatizou que na mensagem para o 58º Dia Mundial para as Comunicações Sociais, o Papa Francisco convida à valorização da “sabedoria do coração” e um “olhar espiritual”, explicando que a sabedoria é um dom que vem do alto: “A IA poderá contribuir muitíssimo com o serviço de comunicação apoiando-o, não tomando o seu lugar, tirando dos profissionais da comunicação aquilo que é sua responsabilidade ética”, acrescentou a religiosa.

Já o publicitário Marco Jordan, agente da Pastoral da Comunicação na Região Lapa, apresentou um painel sobre as experiências e desafios da IA na Evangelização, seguido de um momento de interação com o público.

ENCORAJAMENTO

Dom Odilo elogiou a iniciativa do evento e destacou que, desde a sua publicação, em 24 de janeiro, a mensagem para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais já foi objeto de muitas reflexões, artigos e debates que levaram a questão aos ambientes de responsabilidade sobre a governança da comunicação.

“A preocupação da mensagem do Papa é, sobretudo, em relação às questões éticas e morais que envolvem a inteligência artificial… Como vai ser usada essa bela possibilidade colocada na mão do ser humano? Nesse sentido, o Papa sublinha que a inteligência humana conta com a sabedoria do coração que, para nós, é um dom do Espírito Santo, que temos sempre que pedir para usar bem todas as coisas, para decidir retamente, para discernir bem sobre o que é justo, o que promoverá o bem”, afirmou o Arcebispo.

Por fim, o Cardeal agradeceu aos agentes da Pascom pela missão realizada nas paróquias e comunidades, encorajando-os a, assim como toda a Igreja, estarem presentes no ambiente digital para dar testemunho autêntico do Evangelho.

Os vídeos com a íntegra das conferências estão disponíveis em: https://www.youtube.com/@paulinascursos.

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