Seminário Propedêutico: o início do caminho para os vocacionados ao sacerdócio

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Quando o portão do número 888A da Rua Franklin do Amaral, na Vila Nova Cachoeirinha, se abre, logo saltam aos olhos de quem chega uma quadra de esportes, uma vasta área verde e uma grande casa, que a cada ano recebe novos moradores. 

Desde fevereiro, há uma nova turma de sete seminaristas no Seminário Propedêutico Nossa Senhora da Assunção, uma das casas de formação do Seminário Arquidiocesano Imaculada Conceição, que também é composto pelo Seminário de Filosofia Santo Cura d’Ars e o Seminário de Teologia Bom Pastor.

“A palavra propedêutico significa introdutório. Portanto, a tarefa principal aqui é a de introduzir o seminarista no que é próprio do seminário: a vida comunitária, de oração, de estudos e de pastoral. Também é um momento em que ele sai de sua paróquia de origem para conhecer outras paróquias da Arquidiocese”, explicou, ao O SÃO PAULO, o Padre João Henrique Novo do Prado, 34, Reitor desde julho de 2022. 

O dia a dia dos seminaristas

Na manhã quinta-feira, 2, data da visita da reportagem, os propedeutas estavam na aula de língua portuguesa. O dia de atividades, porém, começara bem antes, com o despertar às 6h30, a oração das Laudes às 7h, seguida do café da manhã. 

Próximo ao meio dia, todos se encaminham para a silenciosa e introspectiva capela para a oração da hora média. Após o almoço, um pouco depois das 14h, visitam o Santíssimo Sacramento e rezam o Santo Terço, antes das aulas do período da tarde, entre 15h e 17h. Às 17h30, participam da oração das vésperas e, posteriormente, da missa. 

“No Propedêutico, priorizamos a formação à vida cristã. É como uma retomada da Catequese. Os seminaristas estudam intensamente o Catecismo da Igreja Católica. Também têm aulas de introdução à liturgia, música, sobre os documentos do Concílio Vaticano II, língua portuguesa”, detalhou o Reitor. 

À noite, a rotina varia: às segundas-feiras, os propedeutas praticam esportes com os seminaristas das outras casas de formação; às terças e sextas-feiras, têm formação com o Reitor. Às quintas-feiras, participam da adoração ao Santíssimo; e às quartas-feiras, já a partir do começo da tarde, visitam os familiares. Aos fins de semana, cada um realiza pastoral em uma paróquia. 

O caminho até o seminário

Antes de ingressar no Seminário Propedêutico, o seminarista passa por um período de discernimento, iniciado com o pároco de sua paróquia de origem, depois acompanhado pelo padre promotor vocacional de sua região episcopal. Por fim, participa de um ano de encontros e formações promovidas pela Pastoral Vocacional Arquidiocesana. 

A casa de formação, que tem entre seus ambientes salas de estudo, capela, biblioteca com livros e computadores, quartos, refeitório, salas de estar e de vídeo, quadra de esportes e academia, comportaria até 40 seminaristas. Inaugurada em 2001, já teve entre seus moradores o próprio Padre João Henrique, quando era seminarista no ano de 2007. 

“Daquela época para agora, é perceptível a queda na quantidade de jovens que procuram o discernimento à vida presbiteral. E isso não é somente porque ainda não estamos fazendo um bom trabalho vocacional nas nossas paróquias; é também é fruto de uma sociedade que vive uma inversão de valores. Cada vez mais, os jovens estão distantes de Deus, buscam por coisas efêmeras, e quando falamos a eles sobre vocação, algo tão sério para toda a vida, há muita resistência. Damos graças a Deus por termos estes sete seminaristas, mas precisamos de mais vocacionados”, assegura o Reitor.  

Estímulo e acompanhamento

“Nas comunidades e famílias, é preciso que se reze pelas vocações, especialmente neste ano vocacional. Depois, deve-se incentivar os jovens a fazerem esta opção de vida. Às vezes, infelizmente, acontece de a própria família e amigos acabarem por desencorajar os vocacionados. E um terceiro passo é apresentar este jovem para aqueles que, de fato, têm a responsabilidade de lapidar esta vocação: os párocos, os padres promotores vocacionais e o Reitor do seminário”, explica Padre João Henrique.

O Reitor assegura que mesmo quem ingressa no seminário, mas com o tempo percebe que não é vocacionado ao sacerdócio, não terá “perdido tempo”.

“O seminário prepara o jovem não só para ser um bom padre, mas para que seja um bom cristão. Portanto, se o jovem perceber que ser padre não é a sua vocação, esperamos que ele tenha aproveitado o tempo que aqui ficou para, futuramente, ser um bom pai de família, um bom trabalhador, um bom leigo, enfim, que seja feliz e completo na sua vocação”. 

Chamado às vocações

Após um ano no Seminário Propedêutico, o seminarista passa à etapa do “discipulado”, com três anos de estudos no Seminário de Filosofia Santo Cura D’Ars, quando também avança nos saberes eclesiais e pastorais; a etapa seguinte é da “configuração”, no Seminário de Teologia Bom Pastor, no qual, durante quatro anos, recebe formação nos âmbitos de espiritualidade, catequese, liturgia, sacramentos e administração paroquial; Concluída a graduação em Teologia, o seminarista é ordenado diácono, e se dedica a um estágio pastoral e missionário mais intenso nas paróquias e outros organismos eclesiais, antes de receber a ordenação sacerdotal. 

Todas estas etapas foram explicadas aos seminaristas pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer em visita ao Seminário Propedêutico no dia 1o. O Arcebispo Metropolitano sempre vai a essa casa de formação na abertura do ano letivo e na festa da padroeira, em 15 de agosto. 

Padre João Henrique recorda que durante a mais recente visita, Dom Odilo comentou sobre o próprio discernimento vocacional e de suas ordenações presbiteral e episcopal. “Com esse testemunho, encorajou os seminaristas a seguirem firmes na missão. Eles amaram este encontro. Um deles até me disse: ‘Jamais imaginei que o Cardeal seria tão próximo assim’”. 

Dos sete propedeutas deste ano, cinco possuem graduação em nível superior. Leonardo Ramos da Silva Teixeira, 25, é um deles. Bacharel em Ciências de Humanidade e em vias de concluir o curso de Relações Internacionais, ele assegura que tem aprendido muito com a nova rotina de estudos, oração e vida comunitária.

“Deus sempre quer a nossa felicidade, mas a felicidade não é feita só de um caminho de flores; é feita também de um caminho com pedras, e podemos reunir estas pedras para construir um castelo”, disse, estimulando que os jovens se abram ao chamado de Deus.

Outro seminarista, Enzo Pessoni Quintal, 20, assegura: “Quem reza não erra a vocação, mas você precisa estar aberto para fazer a vontade de Deus”. Ele pede que os jovens que sintam o chamado à vida sacerdotal não tenham medo em buscar por orientação na paróquia que frequentam ou no Centro Vocacional Arquidiocesano – (11) 3237-2523 ou cvasp@uol.com.br. “Deus sempre chama. O problema é que alguns não respondem. E os jovens precisam ser convidados. ‘Você já pensou em ser padre?’. Às vezes, é somente essa pergunta que falta para quem já sente o chamado de Deus”, concluiu. 

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