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Seminaristas da Arquidiocese relatam as experiências da Missão de Férias

Na última semana, diferentes comunidades paroquiais, casas, instituições de longa permanência para idosos, hospitais e espaços que atendem crianças e adolescentes, receberam 53 seminaristas das casas formativas do Seminário Arquidiocesano Imaculada Conceição – Propedêutico, Filosofia (etapa do Discipulado) e Teologia (Configuração) – para a Missão de Férias 2025.

A ação missionária, parte do itinerário formativo dos futuros sacerdotes, foi concluída nas paróquias e no Hospital São Camilo, no domingo, 13. Publicamos a seguir os relatos dos seminaristas que secretariaram os grupos de missão. Para ver mais fotos das atividades, acesse as redes sociais do jornal O SÃO PAULO (@jornalosaopaulo).

‘A missão nos coloca diante da realidade concreta’

Durante a missão de férias, nosso grupo viveu experiências profundamente marcantes. Entre as atividades realizadas, destacaram-se as visitas às famílias e aos enfermos, que permitiram um contato direto com a dor, a esperança e a fé do povo.

Celebrar a Palavra com a comunidade, especialmente nos lugares mais simples e afastados, também foi uma vivência de intensa comunhão e aprendizado pastoral. A presença com as crianças, nas dinâmicas e brincadeiras, revelou a beleza da simplicidade do Evangelho encarnado no cotidiano.

Essas experiências são fundamentais para nossa formação presbiteral. A missão nos tira do conforto e nos coloca diante da realidade concreta que um dia seremos chamados a pastorear. Ela nos ensina a escutar com o coração, a servir com humildade e a anunciar com alegria. Cada rosto encontrado, cada história ouvida reforça em nós o desejo de sermos padres segundo o Coração de Jesus, próximos do povo, sensíveis às suas necessidades e movidos por um amor pastoral verdadeiro. A missão nos forma não só como futuros sacerdotes, mas como discípulos que querem, de verdade, dar a vida pelo Reino.

(Gustavo Batista da Silva, do 3º ano do Discipulado. Esteve em missão com outros seis seminaristas na Paróquia São Carlos Borromeu, Região Belém)

‘Uma experiência de humanização aos futuros sacerdotes’

Entre as atividades que mais marcaram o nosso grupo, se destacam as visitas que fizemos a alguns idosos enfermos. Nessas visitas, também pudemos levar a Eucaristia para que eles comungassem o Corpo de Cristo. Essas pessoas ficaram, de modo geral, muito agradecidas pela visita e pelo que levamos a elas. Deu pra perceber a fé e o amor que têm pela Igreja.

Também ficou muito marcado as casas de pessoas tão simples, que tinham o mínimo para sobreviver, e que, mesmo assim, se esforçaram para oferecer o melhor para o grupo de missão. Era nítido como ofertaram, com amor, aquilo que podiam.

Essas experiências da missão, parte da formação presbiteral, não somente são um contributo para que saibamos trabalhar com as necessidades diversas das comunidades, tampouco são uma ajuda imediata que podemos levar; antes de tudo, são uma experiência de humanização aos futuros sacerdotes. Depois de nos formarmos no contexto acadêmico e disciplinar, também teremos uma maior consciência e sensibilidade, para melhor servir e atingir, naquilo que é a caridade promovida pela Igreja, um número muito maior de pessoas, e de maneira mais efetiva e duradoura.

(César Lima Pereira, do 2º ano da Configuração. Esteve em missão com outros cinco seminaristas na Paróquia Santa Teresinha, Região Brasilândia)

Junto ao sofrimento, anseios e esperanças dos enfermos

No domingo, 6, com missa às 11h na Catedral da Sé, teve início a Missão de Férias dos Seminaristas da Arquidiocese de São Paulo junto à Pastoral da Saúde.

A partir disso, foram dias intensos de visitas a inúmeros leitos do Hospital São Camilo, em Santana, cujo Capelão é o Padre José Wilson, Camiliano.

Uma das experiências mais marcantes foram os momentos de oração com os profissionais da saúde. Certamente, a mais emocionante ocorreu no centro cirúrgico do hospital: ali, onde tantas vidas são renovadas e transformadas, os seminaristas puderam rezar com a equipe médica e juntos, por meio de músicas, bendizer a Deus por tantas graças derramadas naquele lugar, por meio dos médicos e enfermeiros.

Estas vivências durante Missão foram muito importantes no processo formativo dos candidatos ao sacerdócio. Uma dimensão indispensável desse processo é a humanidade, a compreensão de que somos frágeis, não super-heróis, mas dependentes uns dos outros numa ampla rede comunitária. Nós, seminaristas, pudemos compreender quais são as reais necessidades das pessoas, pondo os pés no chão do sofrimento, preocupações, anseios e esperanças de quem está no hospital, geralmente um momento de fragilidade. Foi, portanto, uma experiência de doação, que humaniza e auxilia na vivência prática do Evangelho: “Estive doente, e você me visitou” (Mt 25,36).

(Victor Natali, do 4º ano da Configuração. Ele e outros nove seminaristas, divididos em dois grupos, estiveram em Missão no Hospital São Camilo)

‘Temos a certeza de que saímos renovados na vocação’
Foto: Lucas Nascimento Medeiros

Durante a semana de 5 a 12 de julho, tivemos a alegria de participar da nossa Missão de Férias na Paróquia Nossa Senhora das Angústias, na Região Episcopal Sé, Decanato São Paulo. Éramos seis seminaristas: quatro da etapa do Propedêutico, um do Discipulado e um da Configuração.

A Missão teve como tema “Peregrinos de Esperança”, em sintonia com o Ano Jubilar, e foi justamente isso que experimentamos: fomos peregrinos que encontraram, em cada lar visitado, em cada gesto simples, sinais vivos de esperança.

Foi uma semana intensa, cheia de atividades. Realizamos muitas visitas às famílias, levando a Palavra de Deus, escutando histórias e partilhando da fé do povo. Por se tratar de uma região com grande movimentação comercial, também visitamos os comércios, dialogando com os trabalhadores e levando uma mensagem de encorajamento.

Um momento que nos marcou profundamente foi a ação social com os irmãos em situação de rua, em um centro de acolhimento masculino, onde levamos a Palavra de Deus àqueles que, muitas vezes, já perderam a esperança. Foi um encontro verdadeiramente humano, no qual pudemos ver Cristo nos rostos cansados, mas cheios de dignidade.

A comunidade paroquial nos acolheu com muito carinho. Tivemos duas noites de formação: uma com os Ministros Extraordinários da Eucaristia e outra com os Catequistas e a Equipe de Liturgia. Também tivemos um encontro com a juventude da Paróquia e uma noite com o grupo de oração. Foram momentos de escuta, reflexão e amadurecimento da comunidade.

Essa missão tem sido extremamente proveitosa, principalmente para o nosso caminho formativo, no qual devemos desenvolver as quatro dimensões: espiritual, intelectual, humana e, por fim, pastoral. A missão abrange todas essas dimensões e ainda acrescenta a dimensão missionária — o “ir ao encontro” —, promovendo um crescimento mais profundo em nossa caminhada vocacional e uma maior proximidade com o Povo de Deus.

Temos a certeza de que saímos renovados na vocação, gratos pela acolhida e certos de que “a esperança não decepciona” (cf. Rm 5,5), sobretudo quando caminhamos juntos como Igreja.

(Diego Alberto Oliveira Nascimento, do 1º ano do Discipulado. Esteve em missão com outros cinco seminaristas na Paróquia Nossa Senhora das Angústias, Região Sé)

“Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’” (Mt 10,7)

Enviados como aprendizes do Evangelho, partimos em missão na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, Região Episcopal Ipiranga. Carregávamos o pouco, mas o necessário para a vida: a Palavra, o Terço nas mãos e o coração cheio de esperança. E encontramos tudo: o rosto de Cristo nas ruas, nas casas, nos olhos dos pequenos, nos leitos dos enfermos e no silêncio de corações que ainda resistem ao amor. Ali não levamos outra coisa senão a Palavra, o silêncio da oração e a disposição de sermos ponte entre o Céu e a terra. Com a Palavra no coração e a oração nos lábios, fomos peregrinos no caminho do Reino, levando o anúncio vivo de Jesus Cristo.

Cada encontro foi um sacramento de Deus. Rezamos o Terço com o povo, ensinamos a Liturgia das Horas, e vimos a oração tornar-se casa, comunhão, presença viva do Ressuscitado. Nos enfermos, visitados em sua dor, tocamos a carne de Cristo crucificado e a chama de uma fé que, mesmo entre lágrimas, arde. A fé do povo nos sustentava: fé que não foge da dor, mas a transfigura. Nos doentes, vimos altares vivos, nos quais Cristo continua a sofrer, mas também a consolar. Visitar os enfermos foi mergulhar no Evangelho encarnado. Ali, mesmo na fragilidade do corpo, presenciamos a força ardente da fé, um coração que pulsa para Deus, um altar vivo onde a dor é ofertada em esperança e amor. Tocamos a carne de Cristo crucificado e a chama de uma fé que, mesmo entre lágrimas, arde.

Porém, a missão não foi isenta de cruz. A visita porta a porta nos confrontou com o silêncio da indiferença e o fechamento do coração humano. Muitas portas se fecharam, não a nós, mas ao próprio Cristo que batia. Ali, aprendemos que o anúncio exige paciência e confiança no tempo divino, que a rejeição é parte do caminho de quem quer semear o amor. Descobrimos, então, que o missionário não é dono da semente, mas servo do Reino. E quando somos recusados, é o próprio Cristo que sofre em nós. Nas visitas de porta em porta, muitas recusas nos feriram, mas compreendemos: não recusavam a nós, mas Àquele que nos enviou. O mundo tem sede de Deus, mas, por vezes, o medo endurece a alma. Ali também fomos chamados a amar, com paciência, semear mesmo entre espinhos.

A missão formativa nos ensinou o valor da caridade que desinstala, do amor que desarma e do caminhar solidário. Entoávamos, junto com o povo, o cântico que marcou nossa semana: “Eis-me aqui, Senhor, para fazer tua vontade, para viver no teu amor.” Esse cântico tornou-se promessa, entrega e compromisso sacerdotal.

Como nos recorda o Papa Francisco, a Igreja deve ser “em saída”, marcada pelo cheiro das ovelhas, aquele aroma que é o próprio amor de Cristo derramado no mundo. A missão nos humanizou, configurou-nos ao Pastor que conhece suas ovelhas, que vai ao encontro das periferias existenciais, e que nos chama a ser testemunhas vivas da Boa Nova que salva. Somos nós, convidados todos os dias, a sermos: “Missionários da Misericórdia” (Papa Francisco).

(Gabriel Felipe, do 3º ano do Discipulado. Esteve em missão com outros cinco seminaristas na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, na Região Ipiranga) – na versão impressa do jornal, este relato foi publicado com o título Carregávamos o pouco, e encontramos tudo: o rosto de Cristo’

Um relato bíblico visto em ‘carne e osso’

Para esta Missão de Férias, fomos designados para a Paróquia Santo Antônio da Vila Carioca, Região Episcopal Ipiranga, cujo Pároco é o Padre Pedro Pereira.

A maior parte de nosso tempo foi gasto em visitas a domicílios, em que nos sentávamos com a família que nos acolhia e conversávamos de forma bastante espontânea sobre vários assuntos: o percurso da vida de cada um, a relação que teve com a Paróquia ao longo dos anos, os percalços e as cruzes que marcaram a trajetória… E algumas dessas conversas nos foram, sim, especialmente marcantes.

Um primeiro caso que nos marcou muito foi o de uma mãe de família nordestina, hoje beirando os 60 anos. Aos vinte e poucos anos, e com dois filhos bebês, teve de fugir do marido e buscar abrigo na casa de sua irmã, que a incentivou a vir buscar algum sustento em São Paulo, deixando, assim, com a irmã, um de seus filhos, então com 2 anos. A irmã desta senhora, no entanto, acabou registrando o filho como sendo dela própria, e depois nunca quis devolvê-lo à verdadeira mãe. Quando o menino tinha 14 anos, tentou-se dizer a ele a verdade, mas ele acabou culpando a mãe pelo suposto abandono, e não quis mais ter contato algum com ela. Apenas recentemente, os dois se reencontraram e o filho, já com 37 anos, finalmente entendeu que, se a mãe não o trouxe junto consigo para São Paulo, fê-lo com extrema dor no coração, e pensando no próprio bem do menino, para que ele não partilhasse da fome e da dureza pela qual ela própria teve de passar.

Ouvindo esta história, não pudemos deixar de recordar as palavras do Livro da Consolação de Isaías, que estudamos neste semestre da faculdade: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca” (Is 49,15). Para expressar a fidelidade inquebrantável do amor de Deus, o profeta não encontra imagem melhor do que o amor de uma mãe pelo seu filho – que pudemos enxergar em carne e osso, na história de vida desta mulher.

Outro caso que nos marcou foi, ironicamente, o de uma visita que “não deu certo”. Recebemos de uma paroquiana a indicação de alguém que precisava de uma visita, e nos desdobramos muito para que ela ocorresse, mas, no fim das contas, a pessoa não pôde nos receber. Logo depois de ficarmos sabendo deste “fracasso”, no entanto, e enquanto caminhávamos para outra visita, conhecemos, na rua, uma senhora que nos pediu muito por uma visita, e exatamente para o horário em que seria feita aquela outra visita – e o detalhe: as duas são na mesma rua, quase vizinhas uma da outra!

Refletindo sobre o ocorrido, enxergamos ali a mão da Providência, para nos lembrar que, na missão se um sacerdote, o resultado de nossos esforços nem sempre é imediatamente visível e mensurável – e no entanto, a Providência de Deus age até mesmo em nossas aparentes “derrotas”. O que importa é estarmos disponíveis, para Deus e para as almas, e ter a paciência de esperar pelo tempo de Deus.

(Gil Pierre Herck, seminarista do 2º ano da Configuração. Esteve em missão com outros cinco seminaristas na Paróquia Santo Antônio da Vila Carioca, Região Ipiranga)

‘Com simples gestos, somos capazes de levar alegria, conforto e esperança’

A Missão de Férias é um momento muito importante, no qual nós, seminaristas, vivenciamos as diversas realidades da Arquidiocese de São Paulo, na qual, se um dia for da vontade de Deus, exerceremos o nosso ministério sacerdotal.

O nosso grupo atuando na Paróquia Nossa Senhora da Piedade, Decanato São Matias da Região Episcopal Santana, vivenciou algumas experiências que nos fortaleceram como cristãos, nos animando na caminhada vocacional. É muito enriquecedor e bonito perceber o quanto o povo de Deus se alegra com a presença da Igreja indo ao seu encontro, lembrando as palavras do saudoso Papa Francisco que dizia a respeito da Igreja em saída.

Tivemos a oportunidade de visitar algumas ocupações que estão localizadas no território paroquial, visitamos também alguns enfermos, lar para idosos, a Caritas regional, entre outros.

A experiência que mais nos comoveu foi na visita ao Lar da Provedoria da Comunidade Portuguesa de São Paulo, onde tivemos a oportunidade de escutar um pouco das histórias dos idosos que ali residem, bem como cantar e rezar com eles. Durante o momento de partilha, o senhor Albino, 91 anos, nos disse que ficou muito feliz com nossa visita. Como é bonito a Igreja ir ao encontro das pessoas, não somente para o culto religioso, mas para uma convivência fraterna e amigável.

Essa visita nos mostrou o quanto é importante o papel do sacerdote e da comunidade, pois com simples gestos, somos capazes de levar alegria, conforto e esperança àqueles que necessitam. Acredito que tudo o que vivenciamos nestes dias será lembrado por cada um de nós com muito carinho, e nos preparará para a nossa futura missão como padres da Arquidiocese de São Paulo.

(Gabriel Caetano, do 3º ano do Discipulado. Ele e outros dois seminaristas estiveram na Paróquia Nossa Senhora da Piedade, na Região Santana)

Uma semana de intensas formações e visitas

Nosso grupo missionário esteve na Paróquia Santo Alberto Magno, Região Episcopal Lapa, durante essa semana. Visitamos diversas realidades do bairro. Há muitos lares de longa permanência, no qual visitamos e partilhamos um pouco das experiências.

Além disso, tivemos uma semana intensa de formações com diversos grupos pastorais com o foco de iniciar trabalhos que ainda não foram desenvolvidos e dar um despertar na vida da Paróquia. Agradeço ao Padre José Carlos Spinola e ao Padre Celso Guedes pela acolhida e pelo acompanhamento no trabalho missionário.

(Vinícius Pinheiro, seminarista do 4° ano da Configuração. Com outros dois seminaristas ele esteve em missão na Paróquia Santo Alberto Magno, na Região Lapa)

(Edição dos textos: Daniel Gomes/O SÃO PAULO)

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