Subsecretário-geral do Sínodo: ‘Sem o Espírito Santo, não há sinodalidade’

Dom Luis Marín de San Martin, Subsecretário-geral do Sínodo dos Bispos, realizou conferência em São Paulo

‘O Sínodo é um processo de escuta do Espírito Santo, de busca do bem da Igreja e de discernimento daquilo que o Senhor nos pede para viver a nossa fé’, ressalta Dom Luis Marín em São Paulo
Luciney Martins/O SÃO PAULO

Na noite da quinta-feira, 23, no Colégio Santo Agostinho, em São Paulo, foi realizado o evento “Diálogo sobre o Sínodo – Encaminhamentos e Perspectivas”, promovido pela Província Agostiniana do Brasil, em parceria com a Arquidiocese de São Paulo.

Na ocasião, o agostiniano espanhol Dom Luis Marín de San Martín, Subsecretário-geral do Sínodo dos Bispos, apresentou considerações sobre o caminho sinodal (2021-2024), que tem como tema “Por uma Igreja sinodal – comunhão, participação e missão”, e cuja segunda sessão da Assembleia Geral Ordinária ocorrerá em outubro, no Vaticano.

O evento teve a participação do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo; do Frei Mauricio Manosso, Superior Provincial dos Agostinianos; bem como dos bispos auxiliares, padres, religiosos, leigos, diáconos e seminaristas da Arquidiocese.

Dom Luis iniciou a conferência indicando três documentos fundamentais para entender o Sínodo e seus processos. O primeiro deles é a constituição dogmática Lumen gentium, do Concílio Vaticano II. “O processo sinodal é um desenvolvimento da eclesiologia do Concílio, sobretudo da Lumen gentium”, sublinhou.

O segundo é a exortação apostólica Evangelii gaudium, considerado o “documento programático do pontificado do Papa Francisco”. E o terceiro é o Documento de Aparecida, texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, ocorrida em 2007, no Brasil.

SOBRE A IGREJA

“O processo sinodal refere-se à Igreja, é um processo de eclesialidade, de desenvolvimento, de vivência do que a Igreja é em si. Não é um processo burocrático”, enfatizou o Subsecretário, reforçando que a pergunta que está na base do processo sinodal é: “Como é a Igreja de Jesus?”

Dom Luis esclareceu, ainda, que a sinodalidade não diz respeito apenas ao Sínodo dos Bispos, mas também se manifesta em organismos eclesiais, como, por exemplo, nos conselhos diocesanos e paroquiais de pastoral, nos capítulos dos religiosos, nos conselhos econômicos e nas assembleias.

“A sinodalidade também não é uma ‘moda’, em que se reflete como vamos mudar a Igreja e suas estruturas para que os leigos participem mais etc. Não, não é só isso! Também há quem diga que o Sínodo é um perigo que se deve evitar. ‘Ah! Vão destruir a Igreja, vão questionar tudo, vão destruir as bases da fé’… É muito pelo contrário. É uma possibilidade de renovação profunda na Igreja”, salientou o Bispo.

CAMINHAR JUNTOS

Nesse sentido, Dom Luis explicou que o Sínodo é um evento do Espírito Santo. “Sem o Espírito Santo, não há sinodalidade; por isso, devemos ouvir o Espírito Santo, abrir-nos à ação do Espírito… Refere-se ao que a Igreja é em si, à sua coerência”, completou, frisando que o caminho sinodal está sempre orientado para a missão, para a evangelização e o testemunho cristão.

“Sínodo significa caminhar juntos. Sabemos bem disso. Mas o que é caminhar? É o dinamismo da Igreja. Caminhar é se aprofundar em Cristo, avançar rumo ao Reino de Deus e testemunhar o Evangelho no mundo. Isso é caminhar. Por isso, a Igreja é sempre sinodal”, afirmou, indagando aos presentes: “Já mergulhamos totalmente em Cristo? Não. Já somos santos? Não, mas caminhamos para a perfeição, para a pátria, para a vida eterna. Já evangelizamos tudo o que tínhamos para evangelizar no mundo? Não. Há áreas que ainda não conhecem Cristo, não levamos Cristo a todos os cantos do mundo e esse é o nosso dever”.

O agostiniano recordou as palavras de Santo Agostinho – “Ninguém se salva sozinho” – para reforçar: “Não é possível salvar a si mesmo. Você é salvo na Igreja, em Cristo. Não há Cristo sem a Igreja. Não há Cristo sem a comunidade cristã. Isto é muito importante”, acrescentou.

Dom Luis Marín de San Martín, Dom Odilo Pedro Scherer e Frei Mauricio Manosso em evento sobre o Sínodo, no Colégio Santo Agostinho

PRÓXIMOS PASSOS

Dom Luis detalhou a atual etapa do caminho sinodal, rumo à segunda sessão da Assembleia em outubro. Até maio, houve a consulta às conferências episcopais, com a participação das dioceses, a partir da pergunta: “Como ser Igreja sinodal em missão?”

A mesma questão norteou o encontro internacional de párocos realizado em Roma, entre 29 de abril e 2 de maio.

O Sínodo também conta com cinco equipes de trabalho constituídas de teólogos e canonistas que auxiliam na análise das informações recebidas das conferências episcopais. A partir dessas informações será elaborado o Instrumento de Trabalho que servirá de base para as reflexões na Assembleia sinodal.

ESCUTA E DISCERNIMENTO

O Subsecretário insistiu que o Sínodo é um processo, não um mero evento: processo espiritual, de comunhão, discernimento, participação, escuta e, sobretudo, evangelizador.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Dom Luis Marín recordou que o tema do caminho sinodal em curso é muito específico: “Por uma Igreja sinodal – comunhão, participação e missão”. “Não é uma espécie de plataforma em que se fala de tudo. Portanto, os assuntos que são discutidos devem estar relacionados com este desenvolvimento da sinodalidade”, afirmou, reforçando que questões doutrinais, disciplinares, sacramentais e morais não são pauta deste sínodo.

“Penso que também é importante esclarecer que o Sínodo dos Bispos não decide sobre nada. É somente consultivo. Pode fazer propostas sobre as quais o Papa pode discernir e tomar suas decisões”, acrescentou o Subsecretário.

“O Sínodo é um processo de escuta do Espírito Santo, de busca do bem da Igreja e de discernimento daquilo que o Senhor nos pede para viver a nossa fé neste momento da história e testemunhar Cristo”.

MOMENTO DE SEMEAR

Ao agradecer a Dom Luis Marín pela conferência, Dom Odilo ressaltou a explicação do Subsecretário de que este Sínodo não é sobre um aspecto da Igreja, mas é sobre a Igreja. “É a Igreja pensando e repensando. E para quê? Para ser ela mesma, não ser uma outra Igreja, mas aquela que Jesus Cristo quis e cujas raízes estão no Novo Testamento”, disse.

O Arcebispo de São Paulo completou que este é um momento importante e precioso na Igreja, cujos frutos já são visíveis. “O Espírito Santo age. Este é o momento de semear, o momento de nos abrirmos à ação do Espírito Santo, mediante também a nossa colaboração, porque se trata realmente de uma grande mudança de mentalidade”, afirmou.

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