Construída a partir da década de 1910 e inaugurada em 1954, a Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção é um dos símbolos da cidade de São Paulo.
Se externamente ela já chama a atenção por seus 111 metros de comprimento, 46 metros de largura, cinco naves e uma cúpula octagonal com 27 metros de diâmetro e 62 metros de altura, em seu interior é possível vivenciar uma verdadeira imersão no patrimônio da fé e da cultura cristã na maior cidade do país.
A Catedral Metropolitana é tombada pelos conselhos de preservação do patrimônio histórico da cidade de São Paulo (Conpresp) e do estado de São Paulo (Condephaat).
A reportagem do O SÃO PAULO realizou um tour completo por aquele que é o 5º maior templo neogótico do mundo, com capacidade para 900 pessoas sentadas e até 4 mil em pé. Ao longo da visita, Fernando Meli, gerente administrativo da Catedral, e Camilo Cassoli, produtor cultural e responsável pela exposição “Sé: Catedral, Praça e Marco”, aberta em 15 de agosto, apresentaram detalhes sobre o templo que completa 70 anos em 2024, tendo como uma das novidades para o aniversário uma nova iluminação, que realçará a beleza do templo.
A estrutura principal da construção é em tijolo, revestida com com granito, que em parte proveio de uma pedreira adquirida pela Arquidiocese, em 1912, em Ribeirão Pires (SP), e de uma pedreira no bairro de Itaquera.
Arquitetura neogótica
O estilo neogótico da Catedral Metropolitana remete ao gótico francês, tendo como arquiteto responsável o alemão Maximilian Emil Hehl. Ele morreu em 1916 e as obras tiveram outros dois responsáveis até a inauguração: Alexandre Albuquerque e Luiz Ignácio de Anhaia Mello.
Meli detalha que as referências ao gótico estão, por exemplo, nos amplos espaços no interior do templo, verticalidade e no uso dos vitrais, que permitem a entrada de luz natural. Entretanto, o templo possui outras estruturas que não são góticas, como a cúpula, além de ter sido construído quase 800 anos depois do auge do período gótico (1100 e 1300), além de ter elementos que remetem à arquitetura brasileira, como os tijolos a mostra em parte do teto.
Na exposição há menção a um dos relatórios da comissão instalada por Dom Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo à época, que justifica a opção construtiva: “O estilo gótico foi assim escolhido para o novo templo, justificando-se a preferência por ser o estilo que, pela elegância e esbelteza de seus elementos ornamentais, se recomenda especialmente para vestir grandes monumentos dessa natureza, em que predominam as fortes linhas verticais”.
Presbitério e altar-mor
O antigo altar-mor da Catedral foi construído em mármore amarelo de siena e tem uma cruz em malaquita do Congo. Nele se celebrava a liturgia até 1965. Acima, há um baldaquino em mármore de carrara, em tons verde-amarelo, e a partir dele é possível ver o vitral de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da Catedral.
“Este altar-mor é todo trabalhado com temas marianos: Estrela Matutina, Torre de Davi, Rosa Mística, Torre de Marfim. Na parte de cima, há alusões às aparições em Fátima, Lourdes, Aparecida. A imagem que está no triângulo é de Nossa Senhora da Dormição”, explica Meli.
Já o altar-mor usado atualmente é feito em mármore de carrara e foi solenemente dedicado em 5 de setembro de 2008. Também o ambão e a sédia (lugar daquele que preside a celebração) é do mesmo material e data do mesmo ano. Na parte da frente, à esquerda do altar, está a Cátedra do Arcebispo, feita de madeira, a mesma desde a inauguração, mudando apenas o brasão que vai acima, que é sempre do Arcebispo atual.
Altares laterais
Na lateral esquerda do templo, há mosaico bizantino de São Paulo Apóstolo, patrono da Arquidiocese de São Paulo, de autoria do artista italiano Marcello Avelllani, tendo a frente do altar dois acólitos em bronze feitos pelo escultor alemão Tony Fiedler. Já o altar lateral, na parte direita da igreja, traz um mosaico de Sant’Ana, feito pelo artista italiano Lorenzo Micheli Gigotti, e os anjos em bronze, de autoria do italiano Venanzio Crocetti. As duas esculturas foram dadas pelo Papa Pio XII.
Capela do Santíssimo
Muitos dos que vão à Catedral encontram na Capela do Santíssimo um refúgio para oração em meio ao barulho da metrópole. Na porta da Capela há a imagem de dois anjos guardiões em granito e à frente, no alto, três baixos-relevos em mármore de carrara alusivos ao calvário, às bodas de caná e à passagem de Cristo com os dois discípulos de Emaús. Já os vitrais laterais narram procissões eucarísticas.
Segundo Camilo Cassoli, na Capela estão a maioria das pedras raras com as quais se construiu a Catedral, entre as quais o mármore de siena do altar: “A Catedral tem 18 tipos de rochas e na Capela do Santíssimo há a maior diversidade delas, com os recursos mais nobres, até por conta de toda a simbologia que envolve a Capela”.
Vitrais
Os vitrais nas laterais do templo ilustram passagens das Sagradas Escrituras. “O vitral na era gótica foi uma grande sacada, pois deixou as paredes livres para trazer luz. Em um mundo sem letras, sem textos, sem Bíblia, era preciso narrar para as pessoas os fatos bíblicos e o vitral ajudava a catequizar, mostrando a vida dos santos, de Nossa Senhora e os milagres”, comenta Meli.
Entre os 54 conjuntos de vitrais, alguns retratam a presença dos jesuítas em São Paulo e outros são alusivos a padroeiros de congregações religiosas. Os vitrais do corpo do templo foram produzidos em ateliês da Itália e da França. Já os que circundam o altar foram feitos no Brasil, pela Casa Conrado.
À frente do templo, centralizada, está a rosácea frontal, desenhada pelo arquiteto paulistano José Watsh Rodrigues. Ela entregue na época da inauguração, mas só instalada após a reforma no começo dos anos 2000.
Elementos da fauna e da flora
Uma das peculiaridades da Catedral Metropolitana está em seus capitéis, muitos dos quais ornados com elementos alusivos à fauna brasileira, como imagens de tatu, tucano, salamandras e garça, e representações de grãos de café, cacau e manga. As obras foram produzidas em cantaria, com a técnica do desgaste de rochas.
Na parte exterior do templo, há ornamentos com imagens de sapo, javali, morcego, peixe e macaco prego.
Já no arco da entrada principal há representações de flores de maracujá, trigo e uva, os dois últimos “elementos da Paixão de Cristo – o pão e o vinho – de modo que quando a pessoa entra aqui já sabe que está indo para um lugar de paz”, observa Meli.
Profetas e apóstolos
Nas laterais da porta de entrada principal há quatro esculturas em cada lado. Na direita, as representações são dos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João; à esquerda, dos profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. As esculturas são de autoria do sueco August Ferdinand Frick.
Os quatro evangelistas também estão representados no púlpito à esquerda do presbitério. Já no púlpito à direita estão esculpidos São Pedro, São Paulo, São Tiago e São Judas. O púlpito é feito com nogueira dourada e acima de cada um deles há a representação de uma pomba com as asas abertas, feitas de bronze, simbolizando o Espírito Santo.
Torres e carrilhão de sinos
Somente em 1959, quando as duas torres da Catedral Metropolitana foram concluídas – cada uma delas tem 92 metros de altura – é que os sinos de bronze puderam ser instalados. O carrilhão com 61 sinos foi fabricado pela empresa neerlandesa Petit & Fritsen. Deste total, 35 podem ser acionados eletronicamente.
“O carrilhão da Catedral Metropolitana é o maior da América Latina. Como ele tem 61 sinos, é possível tocar obras completas. Ele pode ser tocado diretamente, e há ainda um nível de automatização, que está sendo atualizado, permitindo também tocar pequenas peças. Não existe um instrumento desse tipo na cidade de São Paulo”, comenta Cassoli.
Confessionários e portas
Os seis confessionários da Catedral, em madeira de jacarandá-da-bahia, foram produzidos na década de 1950 no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, que também fez, com a mesma matéria-prima, as oito portas externas do templo. No Liceu também foram construídos os púlpitos do altar principal, os bancos e a base que abriga o órgão de tubos.
Órgão de tubos
Produzido na Itália pela empresa Balbiani Vegezzi-Bossi, o órgão de tubos da Catedral foi instalado em novembro de 1954, contendo mais de 11 mil flautas (tubos). Como ainda não estava pronto no dia da inauguração, em 25 de janeiro de 1954, o então mestre de capela da Catedral, Furio Franceschini, usou seu próprio órgão tubular.
O órgão de tubos da Catedral é separado em três partes: dos lados direito e es¬querdo do altar-mor estão os tubos e seus sistemas de compressores e foles; e entre eles – sobre uma plataforma de madeira que acompanha o primeiro andar da parte traseira do templo – localiza-se o console de comando, com cinco teclados, 124 re¬gistros e um conjunto de pedais.
A Catedral está empenhada no projeto de restauro do órgão de tubos, que funcionou pela última vez em setembro de 2002.
PAPA BENTO XVI NA CATEDRAL
O dia 11 de maio de 2007 é um dos mais marcantes na história da Catedral. Na ocasião, o Papa Bento XVI encontrou-se com 400 bispos brasileiros e falou-lhes sobre o ministério episcopal. Aquele foi o último compromisso do Pontífice na capital paulista na viagem apostólica que realizou ao Brasil. Uma imagem daquele dia não sai da memória de Geraldo Soares de Medeiros, 64, que trabalha na Catedral da Sé há 45 anos, sendo o sacristão desde 1979. “Quando teve início o encontro do Papa com os bispos, eu fui até uma parte superior da Catedral e vi todo o entorno com aquele grande número de pessoas, atentas, sabendo que o Papa estava aqui dentro. Naquele momento, presenciei o quanto a Igreja Católica permanecia viva, pois todo o povo tinha sua visão voltada para seu representante principal”.
O 1º BATIZADO
No dia da inauguração da Catedral, em 25 de janeiro de 1954, foi celebrado o 1º batizado, o do menino Arthur Henrique Mota Pacheco. O sacramento foi conferido pelo Monsenhor José Thurler, que anos depois se tornaria Bispo Auxiliar da Arquidiocese. Atualmente, Arthur tem 71 anos de idade e é engenheiro civil. “Foi uma honra que isto tenha acontecido comigo e uma honra muito grande para a minha família”, relata.