
Instituído em julho de 2024 pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, o Vicariato Episcopal da Caridade Social tem conseguido articular de modo mais adequado as ações caritativas já realizadas pelas paróquias e organismos da Arquidiocese de São Paulo.
A avaliação é do Cônego Marcelo Álvares Matias Monge, Vigário Episcopal da Caridade Social. Ao O SÃO PAULO, ele enfatizou que as ações de caridade já ocorriam de modo organizado nas paróquias, associações, movimentos, hospitais, escolas e faculdades ligadas à Igreja Católica, e que o Vicariato tem contribuído para a articulação e conhecimento dessas iniciativas que tornam a cidade “mais humana, solidária e fraterna”.
Ao anunciar a instituição do Vicariato – um dos frutos do 1º sínodo arquidiocesano (2017-2023) –, Dom Odilo projetou que por meio dele se fortalecerá “a identidade cristã das instituições e das ações sociais e caritativas promovidas pela Igreja Católica nos seus diversos setores, favorecendo, ao mesmo tempo, o testemunho público da fé, mediante as obras de misericórdia, de caridade e de justiça, sem as quais ninguém entrará na vida eterna (cf. Mt 25,31-46), a valorização da vida e da dignidade humana, tendo como referência fundamental o Evangelho e a Doutrina Social da Igreja”.

INTEGRAÇÃO DOS AGENTES
Uma das prioridades do Vicariato tem sido integrar os diferentes agentes da Igreja que realizam a caridade. Em fevereiro, ocorreu o evento “Juntos pela Esperança”, com a participação de representantes de 24 instituições, que refletiram sobre desafios e estratégias de gestão e a potencialização de seu impacto social.
Em continuidade ao evento, estão sendo realizados mensalmente os encontros “Café com Caridade”, que visam a “fortalecer e ampliar essa rede colaborativa que foi criada. O que o Vicariato tem feito é colocar em contato as organizações, para que reflitam juntas, pensem sobre as suas demandas e problemas”, detalhou Ueslei Cruz, secretário do Vicariato. O próximo será em 1º de agosto, com o tema “Mapeamento de Risco nas Organizações Sociais”.
Em seu 1º ano de existência, o Vicariato Episcopal da Caridade Social motivou ações para o VIII Dia Mundial dos Pobres, em novembro de 2024. Também realizou, no começo deste mês, a segunda edição do Fórum da Caridade Organizada, um momento para a troca de experiências entre os gestores e de formação sobre temas como contabilidade, legislação, captação de recursos e articulação em rede. Na primeira edição do fórum, em julho de 2024, Dom Odilo anunciou a criação do Vicariato.

O QUANTO SE FAZ DE CARIDADE NAS PARÓQUIAS?
Uma das atribuições do Vicariato é elaborar um cadastro único sobre as ações caritativas realizadas nas 311 paróquias da Arquidiocese, bem como nas organizações católicas. Segundo o Cônego Marcelo Monge, todas as paróquias já receberam o formulário com questões, mas algumas ainda não as responderam, especialmente por não terem designado quem o fará, algo que idealmente deveria ser conduzido pelo leigo responsável pela Comissão Testemunho de cada paróquia.
O Sacerdote comentou, ainda, que este processo de mapeamento tem feito com que cada paróquia conheça suas ações caritativas: “Com o questionário, as pessoas estão perguntando uma às outras: Quantas cestas básicas foram distribuídas? Quantas pessoas foram orientadas psicologicamente? Quantas foram orientadas juridicamente? Quais cursos oferecemos na paróquia? Quantos medicamentos doamos por mês? Estamos fazendo trabalhos de escuta e acolhida? Muitas paróquias não tinham essa preocupação que está sendo despertada agora”.
A meta do Vicariato é que as paróquias realizem mensalmente o levantamento dessas ações caritativas. Outra proposta é que as equipes paroquiais da Pastoral da Comunicação façam vídeos de divulgação dessas iniciativas. Um roteiro sobre como fazê-los está sendo elaborado pelo Vicariato da Caridade.

UMA VISÃO SOBRE O TODO
Cônego Marcelo explicou que a partir do que for informado pelas paróquias será possível ter dimensão da abrangência das ações caritativas da Igreja em São Paulo. Em maio, por exemplo, 35 mil cestas básicas foram distribuídas pelas 159 paróquias que responderam ao formulário enviado pelo Vicariato.
“Além disso, estas informações nos ajudarão a ter um diálogo com o poder público, dizendo: ‘Nossa ação como Igreja é esta. Em que a Prefeitura pode colaborar?’ Estamos falando apenas em nível paroquial, mas também queremos mapear as organizações que têm buscado o Vicariato pedindo ajuda na articulação e na conversa com o poder público”, disse Cônego Marcelo, que neste mês participou de uma reunião com o prefeito Ricardo Nunes.
O Vicariato iniciou nesta semana reuniões on-line com as regiões episcopais para apresentar quantas e quais paróquias já responderam ao questionário. “Fazemos a apresentação dos resultados a partir das respostas que recebemos. Assim, aquelas que já responderam veem que houve um porquê para o pedido dos dados. Ao mesmo tempo, motivamos que as demais o façam”, explicou o Cônego, destacando já se ter verificado que há paróquias que ajudam muitas outras, mas que algumas afirmam não ter projeto caritativo algum.
“Quando uma paróquia diz não ter nada de ação caritativa, nós podemos nos conformar com isso? Não! Nós, como Vicariato, assim como, penso eu, a Comissão Testemunho na Arquidiocese, na região e no decanato desta paróquia, temos de nos preocupar com isso, afinal, como uma paróquia não testemunha a fé? Esse questionário talvez até ajude os paroquianos a refletir: ‘Nós não fizemos nada, por quê?”, prosseguiu o Vigário Episcopal.

PRÓXIMOS PASSOS
Em 17 de junho, foram nomeados os membros do conselho consultivo do Vicariato Episcopal da Caridade Social. Entre eles estão os coordenadores de pastoral de cada região episcopal e pessoas que, segundo o Cônego Marcelo Monge, têm reconhecida atuação nas questões caritativas e que poderão contribuir com as ações do Vicariato.
O Sacerdote também comentou que o Vicariato planeja organizar um retiro com os envolvidos nas ações caritativas e proporcionar momentos de trocas de vivências, que poderão desencadear novos projetos: “Por exemplo, se há paróquias com iniciativas de assistência psicológica, podemos ouvir essas experiências e até pensar em articular algo sobre saúde mental em conjunto com o Vicariato Episcopal para a Pastoral da Saúde e dos Enfermos”.
O Vicariato da Caridade Social também planeja a realização de uma semana de atividades por ocasião da Jornada Mundial dos Pobres, em novembro; e já se debruça sobre a criação de um Observatório da Caridade, para analisar o modo como estão sendo feitas as ações caritativas da Igreja na área de abrangência da Arquidiocese.
Por fim, Cônego Marcelo ressaltou que o Vicariato conta com a consultoria do Núcleo de Estudos Avançados do Terceiro Setor (Neats) da PUC-SP. “Temos, portanto, também uma orientação acadêmica sobre o que fazer e como, com prudência”. Já Ueslei recordou que o Vicariato Episcopal da Caridade Social sempre atua na perspectiva da sinodalidade: “Aqui nós escutamos muito. A dimensão sinodal que originou o Vicariato, fruto do 1º sínodo arquidiocesano, está mantida”.