Cardeal Scherer destaca testemunho de fé dos religiosos em uma sociedade cada vez mais materialista

Na tarde do sábado, 16, vigília da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu missa na Catedral da Sé, com a participação de religiosas, religiosos e consagrados de diversos institutos, por ocasião da abertura da semana dedicada à vida religiosa consagrada na Igreja no Brasil, que se inicia no terceiro domingo de agosto, o mês das vocações.
Neste Ano Santo, a celebração também foi uma peregrinação jubilar, reunindo os consagrados para um momento de oração, organizado pelo Regional São Paulo da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB-SP), na Praça da Sé, diante do monumento em homenagem a São José de Anchieta. De lá, os consagrados adentraram a Catedral para a missa presidida pelo Arcebispo Metropolitano, que saudou a todos como “peregrinos de esperança”, recordando o tema do Jubileu 2025.
TESTEMUNHO ELOQUENTE

Na homilia, Dom Odilo destacou que a vida consagrada é, por sua própria natureza, um testemunho eloquente das virtudes teologais: fé, esperança e caridade.
“A vida consagrada religiosa é uma forma eminente de fazer desabrochar, fazer crescer e frutificar as virtudes teologais”, afirmou, lembrando que todos os cristãos recebem essas virtudes no Batismo como sementes, mas que a vida religiosa as torna visíveis e fecundas para toda a Igreja.
O Cardeal também ressaltou que a consagração é um sinal de esperança no mundo atual, marcado por crises, descrença e materialismo. “Vocês são sinal de esperança para o mundo”, disse aos religiosos, sublinhando que, onde há sofrimento, guerra, pobreza e abandono, sempre se encontram consagrados levando conforto, cuidado e presença da Igreja.
Referindo-se ao exemplo da Virgem Maria, elevada ao céu em corpo e alma, o Purpurado destacou que a Assunção é sinal seguro da fidelidade de Deus às suas promessas. “O que Deus fez em Maria não vale só para ela, mas é para toda a humanidade. Nela, já se realizou aquilo que é promessa para todos nós”, lembrou, convidando os consagrados a serem sinais concretos dessa esperança que não decepciona.
SINAL DE CONTRADIÇÃO

Dom Odilo se referiu à vida consagrada como sinal de contradição diante de um mundo cada vez mais materialista. “Não se escondam, não escondam este sinal. É um sinal de contradição para o mundo cada vez mais descrente, indiferente, apenas voltado para os bens deste mundo”, exortou.
O Arcebispo observou que esse testemunho provoca questionamentos na sociedade. “É bom que as pessoas se perguntem: o que faz esta freira que dedica a vida inteira aos pobres sem nada esperar em troca? O que faz este religioso que arrisca tudo por Cristo? Isso provoca reflexão e abre espaço para a fé”, afirmou.
Por fim, o Cardeal incentivou que todos mantenham viva a chama da esperança mesmo diante da crise vocacional. “Há muitos jovens generosos à espera de serem convidados”, disse, pedindo orações pelas vocações consagradas e coragem para atrair novos chamados.
CHAMADO

No fim da celebração, a Irmã Inês da Costa Camargo, coordenadora da CRB- -SP, expressou palavras de agradecimento em nome da vida religiosa. “É com alegria que, mais uma vez, atendemos o convite de Dom Odilo para celebrar o chamado que um dia recebemos de Nosso Senhor”, declarou, lembrando que a CRB-SP celebra este ano seis décadas de existência, com um itinerário jubilar que percorre diferentes núcleos do estado.
A religiosa destacou que a consagração é “um convite de amor, uma esperança, uma experiência do chamado que o Senhor nos fez, sem mérito nosso, mas no puro e gratuito amor”. Ela também ressaltou que a vida religiosa encontra sua raiz no Batismo, que insere cada cristão na grande família da Igreja e o chama a testemunhar o projeto de Jesus.
CAMINHO DE CONVERSÃO

“Nossa consagração continua em um perene caminho de conversão, no qual somos chamados a crescer na fé, na esperança e no amor”, disse a Irmã, pedindo que, a exemplo de Maria, a resposta dos consagrados seja sempre generosa e atenta à Palavra de Deus.
Em suas palavras, fez memória da presença da vida consagrada nos diversos espaços de missão, especialmente com os mais fragilizados: crianças, jovens, idosos, marginalizados e descartados. “O Senhor da vida continua vindo ao nosso encontro na vida daqueles que mais sofrem”, afirmou, desejando que a Virgem Maria encoraje a fidelidade vocacional.
Por fim, Irmã Inês manifestou gratidão à Arquidiocese de São Paulo, a Dom Odilo e a todos que acolhem e apoiam a missão da vida religiosa: “A vida religiosa expressa nossa gratidão e o nosso reconhecimento; pedimos a Deus que os abençoe grandemente. Recebam nosso abraço fraterno e, também, uma pequena lembrança”.
VOCAÇÃO RELIGIOSA

Desde as origens da Igreja, houve homens e mulheres que se propuseram a seguir Jesus Cristo e a imitá-Lo de modo mais intenso, por meio de uma vida inteiramente consagrada a Deus, vivendo a radicalidade da consagração recebida no Batismo.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que, sob o impulso do Espírito Santo, “os consagrados se propõem a seguir a Cristo mais de perto, doar-se a Deus amado acima de tudo e, procurando alcançar a perfeição da caridade a serviço do Reino, significar e anunciar na Igreja a glória do mundo futuro”.
Diferentemente dos ministérios ordenados dos diáconos, padres ou bispos, a consagração religiosa não se dá por um sacramento, mas por meio da profissão pública dos três votos ou conselhos evangélicos: castidade, pobreza e obediência. Embora seja um ato pessoal, a consagração não é algo privado, é acolhido pela Igreja por meio da família religiosa que a reconhece.
Atualmente, a vida consagrada na Igreja se organiza em ordens, congregações religiosas, institutos de vida consagrada e sociedades de vida apostólica, manifestas em diversos carismas e missões em diferentes âmbitos da vida eclesial. Em alguns institutos, o nome dos votos pode variar, mas, para serem reconhecidos pela Igreja, devem conter em sua essência os conselhos evangélicos.