Uma live promovida pela Paulus Editora, na sexta-feira, 10, recordou a vida e o legado do Papa Bento XVI. A iniciativa homenageou o Pontífice alemão falecido em 31 de dezembro de 2022.
Participaram da transmissão o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Presidente da Sociedade Ratzinger do Brasil; o professor Rudy Albino de Assunção, autor e fundador do Apostolado Escola Ratzinger; e o Irmão Darlei Zanon, Religioso paulino, diretor editorial da Paulus. A mediação foi da jornalista Érika Augusto.
O evento também marcou o lançamento da edição brasileira da coletânea “Bento XVI – a vida”, escrito por Peter Seewal, biógrafo do Pontífice.
TEÓLOGO E DEFENSOR DA FÉ
Rudy Albino iniciou o colóquio apresentando alguns pontos fundamentais para compreender o Pontífice alemão, destacando-o como professor de Teologia, Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé e Papa.
O professor lembrou que, desde o início da carreira acadêmica, Ratzinger sempre teve a preocupação de apresentar os fundamentos da fé cristã, insistindo, sobretudo, na razoabilidade dessa fé, isto é, os cristãos não são apenas fideístas, tampouco só racionalistas. Rudy recordou, ainda, a participação do teólogo alemão no Concílio Vaticano II (1962-1965) como perito, contribuindo especialmente no tema da Teologia da revelação.
Segundo Rudy, como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, nomeado por São João Paulo II, o então Cardeal Ratzinger enfrentou temas desafiadores no campo da Teologia Dogmática, Moral Sacramental e Eclesiológica, tornando-se uma figura de destaque no Vaticano e no pontificado do Papa Wojtyla.
Sobre o pontificado de Bento XVI, o professor salientou a ênfase dada ao diálogo entre fé e razão, a defesa do papel público do Cristianismo, a reafirmação da identidade da Igreja do ponto de vista sacramental, além de aprofundar, em suas três encíclicas, as virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Em seu papado, Bento XVI convocou o Ano Sacerdotal e o Ano da Fé, manifestando sua constante preocupação em retornar às raízes da fé.
PONTÍFICE
Ao recordar a eleição do Papa Bento XVI, no Conclave de 2005, Dom Odilo ressaltou que ela se deu após o fim de um longo pontificado, cujos últimos anos foram marcados pela enfermidade de São João Paulo II. “As expectativas, no período do conclave, eram sobre a necessidade de dar firmeza e segurança aos elementos essenciais da vida da Igreja”, afirmou o Arcebispo.
O Cardeal Scherer acrescentou que tal expectativa foi se concretizando na pessoa de Bento XVI. “Lembro-me de que no início de seu pontificado, muitas pessoas iam à Praça São Pedro para ouvi-lo, porque sua fala era suave, de fácil compreensão, embora abordasse temas difíceis. Até faziam a comparação de que, no tempo de São João Paulo II, as pessoas iam para ver o Papa e, com Bento XVI, as pessoas iam para ouvir o Papa e, assim, beber de seu magistério”, contou.
Dom Odilo refutou teses que afirmam que Bento XVI teria fechado a Igreja para si mesmo. “O Papa Bento XVI abordou o diálogo entre a Igreja e o mundo de maneira elevada, o diálogo ecumênico e inter-religioso, com a Filosofia, com a modernidade. Todas essas coisas estão muito presentes no seu magistério.”
COMUNICADOR
O Irmão Darlei analisou o pontificado de Bento XVI no âmbito da comunicação, recordando que ele foi o primeiro Papa a possuir uma conta pessoal em uma rede social, o Twitter, em 2012. O Paulino também chamou a atenção para as mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, nas quais o Papa Ratzinger expressou preocupação com temas atuais, como o testemunho da fé nos ambientes comunicativos, como viver autenticamente no mundo digital, tecer relações verdadeiramente cristãs no ambiente midiático.
“Todos esses elementos, como apresentar uma ética evangélica à cultura digital, despertar um sentido religioso às novas gerações, foram uma marca muito forte nas suas mensagens”, destacou, recordando que Bento XVI inovou ao comparar o ambiente digital com a “ágora”, uma praça pública e aberta, onde as pessoas partilham ideias, informações, opiniões, novas relações e formas de comunidade.
O Cardeal Scherer relembrou a visita do Papa Bento XVI a São Paulo em maio de 2007, quando presidiu a canonização de Santo Antonio de Sant’Anna Galvão e, em seguida, a abertura da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida (SP). O Arcebispo recordou, de modo especial, de momentos informais, como os longos diálogos do Pontífice após o jantar no Mosteiro de São Bento, onde se hospedou na capital paulista. “Ele era extremamente acessível. Cada um podia perguntar o que quisesse, ele respondia. Era uma familiaridade impressionante”, relatou.
Comentando a renúncia de Bento XVI ao pontificado, em 2013, Dom Odilo a classificou como um ato de coragem, humildade e de grande lucidez, consciente de que o fazia pensando no bem da Igreja.
A íntegra da live pode ser vista no Youtube aqui: