1º dia de trabalhos do Sínodo: ‘Para uma Igreja sinodal. Uma experiência integral’

O relator geral, Cardeal Jean-Claude Hollerich, apresentou o documento que embasou os trabalhos na Sala Paulo VI e abriu o primeiro módulo de discussão do Instrumentum laboris

Fotos: Vatican Media

Para responder à pergunta sobre quais são os sinais característicos de uma Igreja sinodal, será necessário “exercitar a faculdade da memória em seu sentido mais profundamente espiritual”, de modo a se reconectar com a jornada de dois anos que precedeu o início da Assembleia Geral, na quarta-feira, 4, e se preparar para que “nosso trabalho seja frutífero” e “nosso discernimento comum possa prosseguir”.

Os padres sinodais foram lembrados disso pelo Cardeal Jean-Claude Hollerich, relator geral do Sínodo, no encerramento da primeira Congregação Geral, introduzindo o primeiro módulo de discussão sobre o instrumentum laboris “Para uma Igreja sinodal. Uma experiência integral”.

O Instrumentum é um amplo resumo das questões discutidas no processo sinodal, passando pelas consultas locais – em que todos os fiéis batizados foram convidados a participar de alguma forma –, nacionais até as continentais, que juntas constituíram a primeira fase do Sínodo.

Com o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, o Sínodo (2021-2024) tem a primeira etapa de sua assembleia, no Vaticano, até o dia 29 deste mês.

O CAMINHO SINODAL

Independentemente do envolvimento pessoal até o momento – desde aqueles que contribuíram para a elaboração dos documentos finais após as etapas continentais até aqueles que ouviram os relatórios das equipes sinodais nomeadas – o caminho sinodal percorrido até agora deixou rastros.

“Pensamentos, emoções, sentimentos, intuições, dúvidas, medos, entusiasmos” que o Cardeal Hollerich convida a recuperar tanto por meio de sua própria experiência quanto ao ouvir os religiosos e fiéis leigos que encontrou até agora.

“A memória com a qual devemos entrar em contato”, diz ele, “é a memória coletiva do Povo de Deus, não apenas a memória pessoal de cada um”.

LIBERTAR-SE DO RISCO DA ABSTRAÇÃO

O objetivo deve ser o de tornar frutífera a alternância entre os Círculos Menores e a Congregação Geral, alimentando uma visão global do Sínodo, “que constitui a perspectiva do significado e evita a dispersão nos detalhes”.

“Ao mesmo tempo, a concretude das questões que abordaremos mais tarde”, enfatizou o cardeal, “libera a visão global do risco de abstração e generalização”.

DEIXAR-SE GUIAR PELA CONVERSA DO ESPÍRITO

Nos Círculos Menores que começam na quinta-feira, 5, e que, para este primeiro módulo, terminarão na manhã de sábado, 7, os padres sinodais terão quatro minutos “para comunicar o que está mais próximo de seus corações”. Deixando-se guiar pelo método da “conversação do Espírito” – um discernimento comum de uma palavra meditada e alimentada pela oração – todos são convidados a concentrar sua intervenção “naquilo que nos parece mais importante e mais significativo, naquilo que sentimos que emerge mais fortemente de nossa memória”. Após uma tarde – ou uma manhã – de reflexão e oração, o Cardeal Hollerich continua enfatizando: “deixemos que surjam os pontos em que sentimos que há grande clareza, mas não negligenciemos aqueles em que sentimos que ainda há trabalho a ser feito, em que há uma mistura de luz e sombra, sem medo de apontar as razões para a incerteza ou dúvida”.

COMO OS DISCÍPULOS DE EMAÚS

A sugestão do relator geral é inspirar-se no episódio dos discípulos de Emaús, extraído do Evangelho de Lucas. “Quando Jesus se aproxima, sua presença e suas perguntas abrem um espaço para falar e ouvir”, explica. “Mas então também surgem a desilusão, a frustração, a raiva e o medo”, prossegue. “Não sei se passaremos por muitos momentos de desolação durante nossa jornada juntos”, conclui, “mas confio que, graças à obra do Espírito Santo, a consolação entrará em nossos corações, que é a condição para um bom discernimento”.

SÍNODO NÃO É PARLAMENTO

Cardeal Jean-Claude Hollerich ao lado do Papa Francisco

Antes, na abertura da assembleia do Sínodo, com a presença do Papa Francisco, o Cardeal Hollerich lembrou que com o olhar voltado para Cristo, “podemos ver também aqueles que têm um pensamento diferente do nosso, conservador ou progressista, e caminhar juntos”.

Ressaltou, ainda, que o Sínodo não é um parlamento, no qual diferentes posições se chocam, mas “um trabalho de discernimento em comum”, no qual o Espírito Santo abre mentes e corações “para novas posições”.

Comentou, ainda, que é o Espírito Santo que, “torna Cristo presente entre nós”, é o protagonista do Sínodo, no qual deve ocorrer um verdadeiro compartilhamento e autêntico discernimento, sem que nunca se esqueça que Cristo está no centro do caminho do povo de Deus. 

“A Igreja é o povo de Deus caminhando na história com Cristo no centro”, explicou o Cardeal Hollerich. “O importante não é o grupo ao qual parecemos pertencer, mas andar com Cristo dentro de Sua Igreja”, enfatizou.

Fonte: Vatican News

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