No domingo, dia 1º, a Igreja Católica deu início ao novo ano litúrgico com o Tempo do Advento, período de preparação para o Natal do Senhor. Por quatro semanas, os fiéis vivenciam a espera pelo Filho de Deus, que se encarnou no ventre da Virgem Maria para salvar a humanidade.
O termo Advento vem do latim adventus, que significa “vinda, chegada”. A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) explica que esse tempo litúrgico possui uma dupla característica: trata-se de um período de preparação para as celebrações natalinas, que recordam a primeira vinda do Filho de Deus à humanidade, mas também de um momento para direcionar os corações à expectativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. Por isso, o Advento é descrito como “um tempo de piedosa expectativa”.
O Advento, portanto, transcende à simples comemoração do nascimento de Jesus; é um tempo de expectativa pela realização plena do mistério da salvação. Nesse período, destacam-se três etapas da história da salvação: a antiga expectativa dos patriarcas, que culmina na encarnação, morte e ressurreição de Cristo; o presente da salvação em curso; e o futuro, na transformação final do mundo.
ORIGEM
A instituição do Advento como preparação para o Natal remonta ao século IV, sendo documentada em uma determinação do Concílio de Saragoça, realizado em 380, na Espanha. Durante o século V, a celebração do Advento se difundiu pelo Ocidente, embora sua duração variasse conforme a região. Em algumas localidades, como as Gálias (atual França), a Espanha e no Rito Ambrosiano (em Milão), o Advento começava em 11 de novembro, dia de São Martinho.
Hoje, o Advento tem início nas primeiras vésperas do sábado mais próximo à festa de Santo André Apóstolo, celebrado em 30 de novembro. Assim como na Quaresma, tempo que antecede a celebração da Páscoa, a cor litúrgica do Advento é o roxo, sinalizando o espírito penitencial e de recolhimento interior, marcado, contudo, por uma expectativa jubilosa e vigilante pela vinda definitiva do Senhor e pela alegria que brota do mistério da Encarnação.
Durante esse tempo, não se entoa o hino de louvor “Glória”, que retorna na noite do Natal, rememorando o canto dos anjos ao anunciar o nascimento de Jesus. No 3º Domingo do Advento, chamado Gaudete (Alegrai-vos), o roxo é substituído pelo rosa, sinalizando a proximidade do Natal e renovando o ânimo dos fiéis na vivência desse período.
SÍMBOLOS
Entre os símbolos do Advento, destaca-se a coroa com quatro velas entrelaçadas por ramos verdes em formato circular, representando luz, vida e eternidade. De origem nórdica, era usada pelas famílias para vivenciar a espera do Natal com orações semanais. Posteriormente, passou a integrar também a liturgia das igrejas, com as velas acesas simbolizando a luz que dissipa as trevas enquanto a chegada do Salvador se aproxima.
Outro símbolo marcante é o presépio, que representa a cena da Natividade. O presépio foi criado por São Francisco de Assis em 1223 para facilitar a compreensão do povo sobre o Natal. O termo praesepe, do latim, significa “estrebaria” ou “curral”. Tradicionalmente, ele inclui a Sagrada Família cercada por pastores, anjos, animais e os reis magos, mas pode ser composto apenas por Maria, José e o Menino Jesus. Geralmente montado no início do Advento, é desmontado após a Epifania do Senhor, destacando-se como um elemento pedagógico para transmitir às crianças o mistério do Natal cristão.
Em 2019, o Papa Francisco escreveu a carta apostólica Admirabile signum, destacando que o presépio ajuda os fiéis a se sentirem parte da história da salvação, atualizada em diferentes contextos históricos e culturais.
NOVENA DE NATAL
Outra tradição importante do Advento é a novena de Natal, celebrada entre 16 e 24 de dezembro, em referência aos nove meses da gestação de Jesus. Durante a novena, são recitadas as sete antífonas da expectação da Mãe de Jesus, conhecidas como “Ó”, que deram origem ao título mariano de Nossa Senhora do Ó. No Brasil, essa prática é popular em lares, escolas, hospitais, asilos e até prisões, promovendo encontros que incluem orações, cânticos, reflexões bíblicas e gestos concretos de solidariedade.
A Arquidiocese de São Paulo, por exemplo, oferece o subsídio Novena de Advento e Natal, com o tema “Peregrinos da Esperança”, em sintonia ao Jubileu 2025. A esperança guia as reflexões dos encontros, abordando temas como “Deus faz a promessa de um novo e bom tempo para o povo”; “O anúncio do anjo a Maria” e “A Sagrada Família foge para o Egito”. Cada encontro inclui orações, leitura bíblica, cânticos e uma proposta prática, como visitar doentes e presenteá-los com o livreto da novena.
O subsídio traz ainda orações para o Natal, passagem de ano e celebrações entre 25 de dezembro e 8 de janeiro, além de cânticos litúrgicos acompanhados de vídeos interpretados pela São Paulo Schola Cantorum. Durante os encontros, os participantes são incentivados a montar o presépio em casa e buscar o sacramento da Confissão.
TESTEMUNHO DOS SANTOS
Ao longo dos séculos, muitos santos ajudaram a explicar o significado do mistério celebrado no Advento. São Cirilo de Jerusalém refletiu sobre a dupla vinda de Jesus: o nascimento humilde em Belém e o retorno glorioso no fim dos tempos. “Ele virá, portanto, do alto dos Céus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Virá no fim deste mundo, em sua glória, no último dia. Será, então, o fim deste mundo criado e o início de um mundo novo”.
Santo Agostinho, por sua vez, alertou para a importância da vigilância. “O dia final surpreenderá a quem o último dia de sua vida tiver encontrado despreparado”, advertiu, lembrando que todo cristão deve estar atento e preparado para a vinda do Senhor.
Já Santo Afonso Maria de Ligório destacou a beleza do mistério do nascimento de Cristo, convidando à contemplação do Menino Jesus na manjedoura: “Contemplai naquela manjedoura, sobre aquela pobre palha, o tenro Menino que está a chorar. Vede como é formoso; mirai a luz que irradia, e o amor que respira.”
São João Paulo II reforçou o sentido da esperança cristã trazido pelo Advento. “O mistério do Natal, que daqui a poucos dias reviveremos, garante-nos que Deus é o Emanuel, Deus conosco. Por isso, nunca nos devemos sentir sozinhos”. Ele acrescenta que essa esperança deve ser confiante e jubilosa, pois a encarnação é um sinal de que Deus cumpre suas promessas e realiza plenamente seu Reino de justiça e paz.