Como os Santos católicos ensinam a viver a preparação para a Páscoa
Na Quaresma, os cristãos são chamados a recalcular a rota do caminho ao qual todos os batizados são chamados: a santidade. Por meio da oração, da penitência e da caridade, da escuta atenta da Palavra de Deus e da vivência dos sacramentos, cada fiel renova o propósito de conversão, preparando o coração para acolher a graça do Ressuscitado em suas vidas.
Nada melhor do que contar com a ajuda daqueles que já percorreram esse caminho e alcançaram a glória celeste: os santos. Leia, a seguir, o que esses homens e mulheres, em diferentes épocas, podem ensinar para vivermos intensamente o período quaresmal.

Santo Agostinho (354-430) recorda que a verdadeira conversão precisa ser interior, não apenas um conjunto de práticas externas. Para ele, a Quaresma é um tempo de renovação, no qual o jejum e a penitência devem refletir uma mudança sincera da alma. Ele aconselha:
“O que vale não é o que entra pela boca, mas o que sai do coração.”
O Bispo de Hipona também alerta sobre a importância da humildade e do arrependimento:
“Quem é humilde e reconhece seus pecados está mais próximo da graça de Deus do que aquele que jejua e se vangloria disso.”
Ele enfatiza, ainda, que o sacrifício deve ser acompanhado de um profundo amor a Deus e ao próximo.
Santa Catarina de Sena (1347- 1380) enfatizou a importância da humildade durante a Quaresma. Ela ensinava que a verdadeira humildade leva a reconhecer as fraquezas e a confiar plenamente na misericórdia divina.
Também alertava sobre o perigo de julgar os outros, e incentivava à introspecção e ao reconhecimento das falhas. Para alcançar essa humildade, Catarina recomendava contemplar a humildade de Cristo, que se humilhou até a morte na cruz, servindo como fonte e exemplo supremo dessa virtude.
“O que pode haver maior que um Deus humilhado como homem? Que a suprema altura reduzida à suprema pequenez? […] Que humilhar-se ele até morrer numa cruz? […] Portanto, em Cristo, encontrareis a fonte da humildade, que se interioriza em cada alma humana”


São Francisco de Sales (1567- 1622) exortava os cristãos a viverem a Quaresma como se fosse a última de suas vidas, com seriedade e empenho total. Ele compara a Quaresma ao outono da vida espiritual, um tempo de colheita dos frutos espirituais que irão nos sustentar ao longo da caminhada cristã:
“Enriqueçam-se com esses tesouros preciosos que ninguém lhes pode roubar nem fazer com que estraguem.”
Para este Santo, a Quaresma é um tempo de crescimento na fé, por meio da escuta atenta da Palavra de Deus, da participação da Santa Missa e da prática da caridade. Ele recomenda a leitura espiritual como um meio essencial para fortalecer a alma e aprofundar a relação com Deus.
Santa Teresa de Calcutá (1910- 1997) convida a praticar o jejum não apenas de alimentos, mas também de sentimentos negativos:
“Jejue de palavras que ferem e diga palavras bondosas. Jejue de descontentamento e encha-se de gratidão.”
Para ela, a verdadeira penitência está no amor e na generosidade. A Madre também nos lembra que servir aos mais necessitados é uma forma autêntica de viver a Quaresma:
“Às vezes, pensamos que a pobreza é apenas ter fome, estar nu e sem abrigo. A maior pobreza é ser indesejado, não amado e negligenciado.”


Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787) recorda que a Quaresma convida a refletir sobre a efemeridade da vida e a importância do desapego dos bens materiais. O Santo ensina que essa reflexão deve levar à penitência e ao jejum como formas de purificação interior. Além disso, ressalta que a meditação sobre a morte deve ser um estímulo para a conversão verdadeira.
“Se quisermos alcançar a vida eterna, devemos viver cada dia como se fosse o último, evitando o pecado e buscando sempre a graça divina.”
Ele enfatiza que o jejum não deve ser encarado como um sacrifício imposto, mas como um gesto de amor e obediência a Deus:
“Não há mortificação mais agradável a Deus do que aquela que une o sacrifício do corpo à humildade do coração.”
Também ensina que o sofrimento voluntário da Quaresma deve ser oferecido em união com o sofrimento de Cristo na cruz.
“Cada sacrifício que fazemos nos aproxima da cruz de Cristo, e nela encontramos nossa redenção.”
São Josemaría Escrivá (1902- 1975) aponta a Quaresma como um momento de conversão contínua. Ele destaca que, além da primeira conversão, que marca o início da vida cristã consciente, são necessárias sucessivas conversões ao longo da vida. Essas conversões contínuas exigem uma alma jovem, disposta a escutar as inspirações divinas e a colocá-las em prática.
“Cada vez que tu retificas, e quando, perante uma coisa que corre mal, mesmo que não seja pecado, procuras divinizar mais a tua vida, fizeste uma conversão.”
Para ele, cada Quaresma é uma oportunidade única de transformação pessoal, um chamado divino para uma mudança significativa no relacionamento com Deus. Essa transformação envolve uma renovação das virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Além disso, convida os fiéis a refletirem sobre seu progresso na fidelidade a Cristo durante a Quaresma.


Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), conhecida por sua “Pequena Via”, propôs um caminho de santidade baseado em pequenos sacrifícios e gestos cotidianos de amor. Durante a Quaresma, ela convida a oferecer a Jesus as “flores dos pequenos sacrifícios”, fazendo tudo para alegrar a Deus.
Entre os pequenos sacrifícios que Teresinha praticava e nos incentiva a adotar estão:
- Manter uma postura correta durante a missa, evitando cruzar as pernas ou apoiar-se desleixadamente, como forma de respeito e devoção;
- Suportar desconfortos cotidianos, como não enxugar o suor durante trabalhos manuais, lembrando-se do sofrimento de Cristo na cruz;
- Realizar tarefas domésticas que não são de sua responsabilidade, como lavar a louça dos outros ou arrumar a cama de um irmão, praticando a caridade no dia a dia;
- Rezar e fazer favores àqueles que desagradam, tratando-os com profunda caridade e superando as próprias inclinações naturais;
- Aceitar a culpa por algo que não fez, desde que não cause escândalo, como exercício de humildade e desapego do amor-próprio.
São João Maria Vianney (1786- 1859) compreendeu e colocou em prática o verdadeiro sentido do jejum, da oração e da penitência. Para ele, a Quaresma é um processo espiritual de preparação para viver mais profundamente o mistério pascal: Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
“O jejum nos ensina a renunciar a alguma coisa. Ele nos faz capazes de dizer não a nós mesmos, e nos abre aos valores mais nobres de nossa alma: a espiritualidade, a reflexão, a vontade consciente como uma maneira de nos educar, de aprendermos a dominar nosso corpo e, também, nossas inclinações.”
O Cura d’Ars praticava o jejum rigoroso, alimentando-se de pão seco e batatas cozidas a cada três semanas. Para ele, o domínio sobre o corpo ajudava a vencer o pecado e fortalecer a vida espiritual.
A oração era o centro de sua vida. Ele ensinava que rezar é um diálogo profundo com Deus, um momento de total entrega e sacrifício. Com sua vida de oração, jejum e penitência, Ars tornou-se um centro de peregrinação. Pessoas de todas as partes iam ouvi-lo e buscar sua orientação espiritual.


Santo Inácio de Loyola (1491- 1556) recorda a importância do exame de consciência:
“Assim como uma gota de água faz um buraco na pedra, a graça de Deus nos transforma pouco a pouco.”
Esse exame deve ser um ato diário, ajudando na conversão autêntica.
São Pedro Crisólogo (c.380-450) destaca a interdependência entre essas três práticas essenciais da Quaresma:
“O jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum, portanto quem reza, jejue. Quem jejua, tenha misericórdia.”
Ele reforça que não adianta jejuar sem rezar ou sem ajudar o próximo, pois a renúncia material deve estar acompanhada de crescimento espiritual e caridade. O jejum ajuda a desapegar das coisas terrenas e a voltar o nosso coração para Deus.


Santo Antão (c.251-356), pai do monaquismo, recorda que confiar apenas em nossas forças é um erro. Durante a Quaresma, ele convida a manter a vigilância espiritual:
“Quem quiser vencer as tentações, não confie em si, mas sim em Deus.”
A Quaresma é um tempo de batalha espiritual, no qual se deve reconhecer a própria fragilidade e buscar força na oração e na Palavra de Deus. Santo Antão exorta a viver cada dia como se fosse o último:
“Nada mais útil pode haver ao cristão do que pensar todos os dias: estou começando a servir a Deus e o dia de hoje pode ser o meu último.”